quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Feliz 2014

Foi um bom ano. O Botafogo caiu, mas o Internacional chegou em terceiro no Campeonato Nacional, vai disputar a Libertadores de 2015

Nós não estávamos no avião da Malaysian Airlines que desapareceu, não estávamos no gol do Brasil no jogo dos 7 a 1 com a Alemanha, não tivemos nada a ver com o escândalo da Petrobras, não votamos no Aécio ou votamos, mas não achamos que ele perdeu, não fomos aprisionados e decapitados pelo Estado Islâmico nem andamos perto de qualquer lugar bombardeado por drones, não estávamos em Israel sob ameaça de foguetes palestinos nem em Gaza quando Israel revidou, não fomos levados por nenhuma enxurrada ou soterrados por nenhum deslize de terra nem morremos afogados tentando chegar à Itália num barco de refugiados africanos, nem fomos pegos na fronteira do México tentando entrar clandestinamente nos Estados Unidos, não morremos de overdose ou por qualquer outra razão, doença ou desatenção, e o ebola chegou perto de nós apenas no noticiário. Quer dizer, de um ponto de vista puramente subjetivo, foi um bom ano.

Do jantar de Natal aqui em casa sobraram boas lembranças — e peru, claro. A trilha sonora deste ano foi o último disco da Maria Rita, de quem me declaro um devoto. Pelo que sei da sua vida, a Maria Rita nasceu e se criou nos Estados Unidos, o que torna sua opção preferencial pelo samba ainda mais admirável.

Uma das faixas do seu novo CD é um sambão de Arlindo Cruz, Rogé e Arlindo Neto intitulado “É corpo, é alma, é religião”, que começa assim: “Eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim.” Intencional ou não, a frase serve como uma autobiografia da cantora, que nasceu longe do samba, mas tinha o samba na alma, ou nos genes.

Hoje, pode-se dizer, sem exagero ou idolatria, que ela faz parte de um triunvirato das nossas maiores sambistas, com a Alcione e a Beth Carvalho. E, além de tudo, é uma bela mulher. O nome do disco é “Coração a batucar”. Compre.

Nossas trilhas sonoras familiares são ecléticas, Charles Aznavour e Michel Légrand fazem coro com Aldir Blanc e Moacyr Luz, Mônica Salmaso faz dueto com Patricia Barber e quando menos se espera ouve-se o Miles fazendo fundo pro Chico. E preciso revelar um segredo que, espero, fique só entre os 17 leitores desta coluna.

Chega um ponto em que nada mais serve a não ser o Luis Miguel cantando “Che sei tu”. Preciso dançar um bolero do Luis Miguel com as minhas filhas. É um momento que exige uma certa solenidade. Mas as minhas filhas, não sei por quê, sempre fogem na hora do Luis Miguel. Algo sobre não pagar mico. Vá entender.


Foi um bom ano. O Botafogo caiu, mas o Internacional chegou em terceiro no Campeonato Nacional, vai disputar a Libertadores de 2015 e no fim do ano poderá muito bem ser de novo campeão do mundo, se ainda houver mundo.


Luis Fernando Veríssimo
Do blog do Noblat

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