Hoje, depois de quase dois anos de Washington, aprendi a enxergar os benefícios de uma educação à la “faça você mesmo”.
Eu pensei muito sobre o que iria escrever nessa minha estreia nas Cartas de Washington e resolvir falar sobre o que mais temia nessa mudança de país, que era a adaptação do meu filho Daniel, hoje com quatro anos. Eram muitas dúvidas. O que ele vai achar de morar em outro país? Ele vai sentir falta da família? Vai aprender a falar inglês? E a escola, ele vai gostar da escola?
Todas essas perguntas foram sendo respondidas naturalmente, com o passar dos dias. E, clichê ou não, as crianças se adaptam de uma forma surpreendente. O Daniel adora morar na “Améurica”, como diz ele, já com sotaque americano; fala inglês fluente e aprendeu a matar a saudade dos tios e dos avós por Skype. Mas, entre todas as mudanças, uma merece destaque: a escola.
Não estou falando da Escola do Daniel em si, mas das escolas americanas de forma geral e de como são diferentes das brasileiras. Aqui, elas ensinam as crianças a serem mais autônomas, uma espécie de mini adultos, algo que acontece menos no Brasil, pelo menos enquanto elas são bem pequenas.
Essa diferença assusta as marinheiras de primeira viagem. Quando eu ainda estava no Brasil, o Daniel foi para uma escola/berçário com cinco meses e ficou até os dois anos e meio, quando mudamos para cá. A escola era uma espécie de segunda casa dos filhos e um sossego para as mães. As crianças recebiam comida na boca; tomavam banho e eram vestidas dos pés à cabeça; jamais desciam as escadas sozinhas; e, quando choravam, recebiam um colo acalentador.
Aqui o jogo é outro. As crianças comem e se vestem sozinhas; sobem e descem escada sem ninguém segurá-las; e, quando choram, têm uma conversa de igual para igual com a professora, explicando o que está errado. Até com os amigos são orientadas a ter uma postura mais adulta num conflito. Elas aprendem a dizer para o amigo que o irrita com algo: não faça isso, eu não gosto.
Num primeiro, segundo, milésimo momento, fiquei incomodada com essa forma americana de educar. O Daniel, por exemplo, é uma criança difícil para comer e a professora dizia que ele quase não almoçava. Eu perguntei se ela poderia dar comida para ele, o que faria o meu aprendiz de faquir comer um pouco mais. Ouvi um solene “não”, seguido do argumento, legítimo, de que as crianças comiam sozinhas e de que o Daniel não poderia ser tratado como uma exceção.
Hoje, depois de quase dois anos de Washington, aprendi a enxergar os benefícios de uma educação à la “faça você mesmo”. As crianças se tornam independentes muito mais cedo. Um viva às diferenças.
Daniele Camba
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