segunda-feira, 30 de junho de 2014

Não ganharemos a nossa Copa

A Seleção brasileira, infelizmente, ainda não conseguiu mostrar até aqui que tem um time preparado e capaz de brigar pelo hexa. O jogo contra o Chile, ao meu ver, foi a pior exibição futebolistica que o nosso escrete poderia ter feito.
 
O time esteve dominado pelos chilenos, desequilibrado técnico, taticamente e emocionalmente. Perdemos, ou melhor, ainda não encontramos a formação criativa do nosso meio de campo. O grupo nas quatro linhas não é compacto e as  infrutíferas jogadas da seleção se repetiram, a exaustão, numa repetitiva ligação aérea direta entre a defesa e o ataque, sobrevoando a nossa inexistente produção de jogados pelo meio. Fato registrado em todos os jogos do Brasil até aqui.
 
De outro lado, o time demostrou claramente em campo a face de um inimigo perigo e oculto: o trato com a emoção! A média de idade da seleção é muito baixa e é formada por jogadores que, em sua maioria, nunca disputaram uma Copa do Mundo, em que pese as suas experiências internacionais. A pressão sobre esses garotos é muito forte e ganha contornos cruéis com o país exigindo numa quase sentença de que eles precisam, a todo custo, ganhar a Copa no Brasil.
 
O que ficou patente aos olhos de todos é que os jogadores se mostram  fragilizados emocionalmente e só Deus sabe como ganhamos do Chile. Chamo atenção aqui para o fato de que não é comum vê jogadores de futebol chorando antes e durante as partidas, emoção que se espera, geralmente, aflorar após os jogos. Não antes.
 
Guardadas as suas proporções, a cena vivida em campo, nas oitavas de finais, pode ser facilmente comparada a uma batalha de guerra onde os combatentes estão em plena dificuldade para avança frente as trincheiras do inimgo até que, de repente, a tropa vê seu comandante, antes do final da batalha, em prantos. A imagem de Thiago Silva, comandante da nossa seleção, sentado em cima da bola chorando antes das cobranças dos pênaltis deve ter, sem dúvida, deixado seus comandados, tentados a levantar suas bandeiras brancas e sair de campo entregando as armas.
 
Assim, não há coração que aguente, dentro e fora de campo!
 
O que se espera de qualquer soldado é no mínimo equilíbrio, sobretudo, para aquele incumbido de ser o comandante de bravos. O desassossego emocional pode ser fatal numa situação de momentânea desvantagem, seja na vida ou futebol.
 
A mim, resta o consolo daqueles que se apegam a tudo quando lhes resta: a esperança de que eu esteja redondamente equivocado, sem contudo fechar os olhos ou me deixar levar pela emoção!
 
 
Teófilo Júnior
30.06.2014

Escola é acusada de impor pai-nosso a aluno judeu

Em um país laico e que tem a liberdade de crença garantida no artigo 5º de sua Constituição Federal, o caso de um menino judeu no município de Engenheiro Paulo de Frontin foi parar na polícia. O pai do jovem denunciou que o filho, que cursa o 9º ano no Ciep Cecílio Barbosa da Paixão, era obrigado a rezar a oração cristã pai-nosso, o que viola a crença religiosa da família, que é judia.
 
No dia 5 de junho, o presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Jayme Salim Salomão, encaminhou um pedido de explicações à direção da escola e também à Secretaria estadual de Educação. A direção do Ciep, segundo a secretaria, nega que o menino tenha sido obrigado a rezar e que a oração é uma ação voluntária de um grupo de alunos e funcionários.
 
No ofício, a federação pede providências e diz que, lamentavelmente, a legítima recusa em não participar das orações está causando constrangimentos ao adolescente. O documento ressalta a liberdade religiosa e lembra que o Brasil é signatário de diversos tratados e convenções, nos quais foram assegurados o respeito à vida e à dignidade humana.
 
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Celia Costa, O Globo

Frase

"Com minha vocação intelectual, quis me ligar ao Amapá. O mundo conhece o Amapá por causa do meu livro Saraminda. Eu escrevi a história do Amapá. Daqui a 50 anos, quando quiserem saber da história do estado, vão ter de ler meus livros. Mas os que me insultaram ninguém vai saber quem foram.
 
 
José Sarney, ao anunciar ontem, oficialmente, sua aposentadoria política

domingo, 29 de junho de 2014

Funcionários realizam manutenção e reparos na estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, com o estádio do Maracanã ao fundo. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

1969 - Registro da passagem de Frei Damião pelo Sertão da Paraíba: fé, misticismo e beatismo


sábado, 28 de junho de 2014

Ave, César!

Foi suado. Júlio César brilha nos pênaltis e elimina do Chile. Após o empate em 1 X 1 o Brasil ganha do Chile nos pênaltis por 3X2

É hoje!

"Tá escrito". A música adotada pela Seleção brasileira nesta Copa!


Sugestão de postagem do amigo e professor Sebastião Alves Formiga

Humor

Congresso da Bolívia regulamenta trabalho infantil

Criança boliviana. Foto: OIT
 
O Senado boliviano aprovou, nesta quinta-feira, o novo Código da Criança e do Adolescente que autoriza e define regras para o trabalho a partir dos 14 anos de idade e permite exceções para que crianças também possam trabalhar a partir dos doze anos.

O texto foi aprovado após nove horas de debates e a expectativa é de que seja sancionado pelo presidente Evo Morales, como disse à BBC Brasil o economista boliviano Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (Cedla, na sigla em espanhol, de La Paz). "O texto reconhece uma situação que já existe no país e estabelece regras para que estes meninos e meninas tenham horas de trabalho e salários adequados com a idade deles e com o que fazem."

"Além disso", disse Gómez, "o projeto prevê sanções para empresários que contratarem crianças para trabalhos duros, como ocorre hoje na mineração e em outros setores", disse Gómez, falando da capital do país, La Paz.

Protestos


O texto foi modificado depois de ser aprovado pela Câmara dos Deputados no ano passado, após protestos de líderes de grupos de crianças e de adolescentes que trabalham.

Nos protestos, principalmente em La Paz, as crianças e adolescentes pediram que a idade de catorze anos fosse reduzida para pelo menos doze anos de idade. "Os parlamentares dizem que querem que possamos estudar e levar uma vida saudável.

Mas o problema é que se não trabalharmos não poderemos estudar", disseram representantes da chamada Unión de Niños y Niñas Trabajadores de Bolivia (União das Meninas e Meninos Trabalhadores, UNATSBO), logo depois que o texto foi aprovado na Câmara. Os líderes do grupo afirmaram ainda que "precisam trabalhar para estudar e para ajudar os pais".

Nos protestos do ano passado, eles foram reprimidos pela polícia e logo depois um grupo de cerca de trinta crianças e adolescentes se reuniu com o presidente no palácio presidencial Quemado, em La Paz. Evo teria sinalizado o apoio ao pedido e teria dito que o trabalho gera "conscientização".

Confecção e mineração


O Cedla diz que 250 mil crianças e adolescentes trabalham na Bolívia – cerca de 5% da população economicamente ativa. Já segundo um levantamento de 2008 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), esse número seria de 850 mil.

De acordo com o levantamento, na maioria dos casos, os menores trabalham para ajudar a família, em atividades como engraxar sapatos, limpar vidros, ou trabalhando em pequenas confecções ou no setor de mineração.

A Bolívia é um país rico em recursos minerais. E apesar de muitos trabalhadores e empresários do setor de confecção terem se mudado para São Paulo, o ramo ainda continua gerando ampla parcela de trabalho no país, mesmo em confecções caseiras.

Para os defensores do novo código, a regulamentação dará às crianças e adolescentes a "oportunidade" de aprender um ofício e trabalhar com limite de horas – seis horas – e ter salário "digno como o dos jovens com idades de 17 ou 18 anos", como afirmou o presidente do Senado, Eugenio Rojas.

Ele afirmou ainda à Bolívia TV que o texto define as etapas etárias da infância e da adolescência no país para que sirvam de base para o cumprimento da norma. A primeira infância, disse, irá de zero a cinco anos, a segunda infância de seis a doze anos e a adolescência entre doze e dezoito anos. "Menores de 14 anos estão proibidos de trabalhar, mas existem exceções, dependendo da atividade e sempre que a criança tiver a estrita supervisão dos pais e da defensoria da infância, e realmente queira trabalhar", disse Rojas.

De acordo com o parlamentar, os adolescentes teriam pedido para continuar trabalhando argumentando que "precisam de algum dinheiro para cadernos e lápis e comida". Os adolescentes teriam afirmado ainda que "não teriam do que viver" se não trabalhassem.

"Foi por isso que classificamos vários trabalhos para eles", disse Rojas. Ele disse ainda que a medida estabelece que todos eles, crianças e adolescentes trabalhadores, passarão a ter direito a seguro social. "A lei nos protegerá", disseram representantes das crianças e dos adolescentes, de acordo com a imprensa local.


Marcia Carmo
BBC Brasil

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


Hoje tomei a decisão de ser eu

Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.


Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.

Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.

O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.

Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.


Fernando Pessoa, 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'



sexta-feira, 27 de junho de 2014

As belas da Copa

 
 
 
 
 
 
 

Um gesto quase impossível


          Defesa do silêncio. Defesa do tempo. Defesa da lentidão e da espera. Eis o que encontro em um breve texto do catalão Jorge Larrosa Bondía, que me é passado por meu amigo Sérgio Pantoja _ um amigo com quem divido uma forte sincronia espiritual. Sérgio leu o texto de Bondía e logo pensou em mim. E com razão, porque ele expressa algo que ando sentindo, com bastante intensidade, mas que tenho dificuldades de expressar. O artigo se chama "Notas sobre a experiência e o saber da experiência". Apareceu no número 19 da Revista Brasileira de Educação, em tradução de João Wanderley Geraldi, professor da Unicamp. Bondía é professor da Universidade de Barcelona.

        A possibilidade de que algo nos toque realmente, diz Jorge Larrosa Bondía, "requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm". Tempos que nos põem a correr feito loucos, que nos agitam a mente e o corpo, que nos sacodem e eletrizam _ mas sem nenhum senso de direção. Tempos sem senso de direção, em que as coisas se fragmentam e se pulverizam, as palavras se fracionam e as representações foram completamente borradas. Tempos sem forma _ dominados pela fome de uma forma, fome de um corpo.

        Nessa época disforme, o "gesto de interrupção" preconizado por Bondía é, de fato, quase impossível. E, no entanto, ele nunca foi tão essencial. Se paramos, somos vistos como apáticos, como alheios, ou como deprimidos. Talvez como tolos, já que não sorvemos, ávidos e sem pensar, os produtos e as glórias do presente. Diz Bondía: "requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar". Mas como mais devagar? _ perguntarão os adeptos da sincronia tecnológica, das performances impecáveis e do desempenho máximo? Como "perder tempo"?

         Esquecemos da importância ócio, que é justamente a arte de perder tempo. Esquecemos da lentidão e, mais que isso, a satanizamos. Sugere Bondía que nos detenhamos nos detalhes, suspendendo a opinião, o juízo e a vontade, isto é, suspendendo o automatismo da ação. Em outras palavras: recusemos o reflexo puro e a rapidez impensada. "Cultivar a atenção e a delicadeza", ele nos diz. "Falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro". Tudo isso que a vida agitada de hoje _ quando nos esbarramos, quando nos atropelamos _ nos roubou. Época do falatório, em que todos querem ganhar "no grito", em que todos estão cheios de certezas e de si. Época do "quero porque quero", em que adultos se parecem com crianças mimadas, a reagir e a espernear.

        Contra tudo isso, nos sugere Bondía, devemos "calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço". De novo: é bom saber que, em tempos impacientes e estressados, talvez pareçamos lunáticos, mas podemos ser felizes. Uma felicidade pequena e sutil, mas ainda assim felicidade. É bom ter consciência de que calar é quase um pecado na era dos talk shows. É bom saber o que nos espera e ter
coragem. Esperar, recolher-se, esperar mais ainda, retirar-se para dar tempo ao tempo, para dar tempo que as coisas aconteçam e possam ser entendidas. 

 
         Meu amigo Sérgio certamente sabe que logo relacionarei tudo isso com a literatura. Lentidão, espera, paciência, silêncio, interrupção, algo próximo à resignação: de que outros elementos se vale um escritor? Do que mais um escritor se alimenta?  
 
José Castello

quinta-feira, 26 de junho de 2014

França autoriza eutanásia, mas tribunal europeu a derruba

Protesto contra eutanásia: caso de tetraplégico dividiu a França. Foto: Fred Dufour / AFP
 
No mesmo dia em que a França acompanhou uma inédita decisão judicial que autorizava um caso de eutanásia no país, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos de Estrasburgo a anulou. A suspensão de hidratação e alimentação para o bombeiro Vicent Lambert, de 39 anos, em estado vegetativo desde um acidente de moto em 2008, dividiu a própria família e o país.
 
A mulher e seis dos sete irmãos de Lambert, além dos médicos, são a favor da eutanásia e obtiveram parecer favorável do Conselho de Estado da França, um órgão judicial ligado ao Executivo. Mas os pais e uma irmã, contrários, recorreram ao tribunal europeu. A batalha vem se estendendo há um ano e meio.
 
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O Globo

A eleitoralização da ética

Qual o fator decisivo do voto? Qual é aquele que pode influenciar como última palavra na decisão do eleitor?
 
Em geral, os fatores são aqueles concretos, palpáveis, que dizem respeito à situação econômica real de cada eleitor. A situação individual contando mais do que a situação do próprio país. “Se eu vou bem, pouco, ou menos, importa o país”.
 
Há estes fatores tangíveis e mensuráveis como renda, emprego, saúde, segurança, educação, bolsa família. Mas, nestas eleições, dois fatores menos mensuráveis e intangíveis, e que crescem na sociedade brasileira, podem vir a influir também.
 
O primeiro é a religião. Nos Estados Unidos, este fator está encoberto no código contra ou pró-aborto. Aqueles religiosos e conservadores, estes não necessariamente. No Brasil, tentou-se esta dicotomia na eleição passada.
 
Mas, com a divisão cada vez maior entre evangélicos, católicos e sem religião, não vão ser necessários estes códigos. Sobretudo, porque parece ser a palavra de ordem: evangélico vota em evangélico e ponto final. Levam vantagem. Católico não vota necessariamente em católico.
 
O outro fator é a ética. Haverá uma força político eleitoral da ética? Nos últimos anos, e mais recentemente, as oposições têm tentado colocar no PT, e na base aliada do governo, a etiqueta da corrupção com o Mensalão e agora Petrobras.
 
O Supremo Tribunal Federal não está deixando sair de pauta a questão da improbidade dos políticos. Ontem, por exemplo, decidiu receber denúncia contra o deputado Oziel de Oliveira, ex-prefeito do município baiano de Luiz Eduardo Magalhães, por desvio de verba pública e dispensa indevida de licitação.
 
Segundo as investigações do Ministério Público, quando ainda prefeito, Oziel autorizou a compra sem licitação de combustível suficiente para que os carros da prefeitura dessem uma volta ao mundo diariamente. Até que ponto este fator da moralidade no trato da coisa pública vai ser importante? Difícil saber.
 
Em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos aparece, ainda preliminarmente nas pesquisas, como candidato mais votado para deputado federal. Jarbas vem de uma trajetória adversa, na oposição a Lula e a Eduardo Campos nos últimos anos. Uma das explicações possíveis para esta sua recuperação é o estilo de liderança que sempre assumiu, desde o antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Liderança em favor da democracia e da ética na política.
 
Num momento em que faltam ao país lideranças com nitidez de comportamentos, Jarbas construiu país afora, como oposição a Lula, José Sarney, Renan Calheiros, uma permanente referência.
Qual o fator que prevalecerá? E, sobretudo, qual o que distinguirá um candidato de outro?
 
Joaquim Falcão
Do blog do Noblat

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Solene esnobada

Quem imaginava que a Copa seria uma vitrine para o Brasil vender seu potencial turístico --com clipes espetaculares de paisagens brasileiras, antes e depois da transmissão dos jogos pelo pool controlado pela Fifa-- já tirou o cavalo da chuva. As vinhetas oficiais se limitam a um desenho chinfrim e a um rápido sobrevoo de cada cidade-sede, logo cortando para o estádio visto de cima e mergulhando direto no gramado. O governo, ao sentar-se com a Fifa para planejar a Copa, esqueceu-se de reservar uma cadeira para o ministro do Turismo.Com isso, a plateia de bilhões da Copa continuará alheia à Floresta Amazônica, às cidades mineiras, às igrejas baianas, às cataratas do Iguaçu, ao Pantanal, ao Círio de Nazaré, ao bumba meu boi, ao Carnaval etc. Nem mesmo a orla do Rio mereceu um singelo take. Só há uma explicação para essa solene esnobada: a Fifa não conseguiu registrar o domínio dos nossos postais. E ela só se interessa pelos produtos e marcas que detém.
 
Daí que as únicas imagens oficiais da Copa são as que se passam dentro das "arenas". E nada mais parecido com uma "arena" da Fifa do que outra "arena" da Fifa. A grã-fina de Nelson Rodrigues pode ter entrado no Maracanã e perguntado quem era a bola, mas sabia que estava no Maracanã. Hoje, para identificar um estádio brasileiro, só lendo o nome da cidade na lateral à beira do gramado.
 
O SporTV faz bem em cobrir a Copa a partir de um cenário querido dos cariocas e, até então, nunca usado para esse fim: a ilha Fiscal. Palco do último baile do Império, com o Pão de Açúcar e a baía de Guanabara ao fundo, a ilha Fiscal não tem nem sombra da visitação que merece ter. A tremenda exposição que está recebendo deverá multiplicar seu apelo no turismo interno.
 
Só falta algum governante em fim de mandato criar coragem e resolver dar um baile por lá.
 
 
Ruy Castro
Folha de S. Paulo

Show muito divertido


Charge

terça-feira, 24 de junho de 2014

"Beijinho no ombro"

Aconteceu outra vez: Itália eliminada na primeira fase, Uruguai heroico e o Suárez... ah, o Suárez. Grande personagem recente das Copas, ele voltou a morder um adversário. Graças a ele, o termo "Mike Tyson" foi parar nos trending topics do Twitter.


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Saudade não tem idade


Justiça e Processo

Garantir acesso à justiça talvez seja um dos maiores desafios em todas as sociedades democráticas no mundo hoje. Particularmente depois da década de 1960, muito motivada pelo movimento por direitos civis nos EUA, o numero processos nos poderes judiciários destes países tem escalado em velocidade muito superior a capacidade de julgamento deste processo.
 
O resultado, em níveis que variam com o grau de desenvolvimento econômico e maturidade da democracia de cada um dos países, tem sido o atraso no julgamento destes processos; combinado com a escalada dos custos impostos as partes litigantes.
 
A justiça falha. Os prejuízos são claros. De um lado, a crescente escalada de custos cada vez que o poder judiciário é acionado beneficia a parte com menos recursos. De outra, a demora no julgamento deste processo torna, em muitos casos ou na maioria deles, a prestação judicial ineficaz ou, no mínimo, imperfeita.
 
Por isto, nas últimas décadas, a noção de acesso à justiça tem sido separada da necessidade de utilização do poder judiciário como fonte exclusiva de justiça na resolução de disputas. A ideia central é dotar os cidadãos de ferramentas e condições para resolver suas disputas sem a necessidade de envolvimento do poder judiciário. Assim se criou o “ADR” (“Alternative Dispute Resolution”, em inglês; ou “Sistema de Resolução de Controvérsias”, em português).
 
Em ADR, as partes tem uma serie de ferramentas a sua disposição para resolver suas disputas, entre as mais populares, a mediação ou a arbitragem. Entre suas vantagens, a utilização destas ferramentas diminuem custos, resolvem rapidamente a disputa, mas, sobretudo, conferem as partes em disputa um maior controle e autonomia sobre como estas disputas podem ser resolvidas. Em outras palavras, na esmagadora maioria dos casos, ADR resulta em um grau maior de satisfação das partes com os resultados da solução encontrada para a disputa.
 
ADR não elimina a necessidade de um poder judiciário forte, autônomo e independente. Apenas o complementa e garante ao judiciário o papel mais nobre de resolver as disputas que realmente não podem ser autonomamente resolvidas privadamente pelas partes.
 
A busca por justiça é eterna e abstrata. Deve, portanto, utilizar todos os caminhos legítimos e possíveis. E adotar sempre aquele que se revelar mais adequado para cada caso. Sempre.
Justiça e poder judiciário são conceitos diferentes. Poder judiciário é meio. Justiça é fim.
 
 
 
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Publica blog na revista Meio & Mensagem. E-mail: esimoes@uvic.ca

OMS anuncia descoberta de vírus da pólio no Brasil

Uma amostra do vírus da poliomelite tipo 1 foi encontrada durante uma inspeção de rotina, realizada em março, no Aeroporto Internacional de Campinas, em São Paulo. O alerta é da Organização Mundial de Saúde (OMS), que divulgou ontem o comunicado ressaltando, no entanto, que nenhum caso foi constatado em humanos.
 
Pela análise genética do material, a cepa (do poliovírus selvagem tipo 1) é semelhante à recentemente isolada na Guiné Equatorial, país da África Ocidental. Mais estudos são necessários, mas a OMS acredita que esse seja um caso de importação do vírus. No país africano, a taxa de vacinação é baixa e a de exportação, alta.
 
 
O Globo

Pense por si próprio

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.


Agostinho da Silva, in 'Cartas a um Jovem Filósofo'

Noite de São João

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Brasil 4 X 1 Camarões. Que venha o Chile!

Prato do dia: Camarão frito!

É Hoje!

Os amigos nunca são para as ocasiões

Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.

Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objetivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.

A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.


Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'

Quase fora, CR7 é alvo de piadas na internet

Ser é escolher-se

Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. (...) O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é.

Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada'

Imagem da Copa

Em Manaus, Portugal empatou com os Estados Unidos em 2 a 2. Foto: Siphiwe Sibeko / Reuters

Relíquias

Nos livros de capa-e-espada ou de aventuras de cavalaria apareciam com frequência (geralmente numa cena de rua, de feira, cheia de pessoas anônimas) os vendedores de relíquias. Um cacho de cabelo de São Fulano, uma unha de São Sicrano, um retalho do lençol com que São Beltrano se cobria... As pessoas mais pobres pagavam, apertavam a relíquia de encontro ao peito e saíam tomadas por um otimismo devastador.
 
Um cronista desabusado comentou: “Na Europa, nos últimos cinquenta anos, já foram vendidos pedaços da verdadeira cruz de Cristo em tal quantidade que daria para construir com essa madeira uma esquadra inteira de navios. ‘Cravos da verdadeira cruz’ são tão numerosos que dariam para crucificar um país inteiro.” E no entanto as pessoas compravam, e compram ainda hoje, as relíquias mais diversas. Não me refiro a imagens e símbolos em geral, mas à relíquia de caráter único, que esteve ligada à pessoa do santo de maneira muito próxima ou muito significativa. Ou uma parte do corpo dele.
 
Curiosamente, a ciência moderna produziu sua própria cultura de relíquias. Há indivíduos que ao morrer deixam sêmen congelado para poderem fecundar mulheres cem anos depois de mortos. Outros deixam amostras de sangue, de cabelo, de tecidos: para que ali se conserve o seu DNA e, num possível futuro, alguém possa produzir um clone que seja para eles uma ressurreição parcial. (Isso funcionaria mais para os descendentes do que para ele. Os bisnetos poderiam se auto-iludir: “Meu bisavô está de volta!”, mas ele saberia que não era o mesmo.)
 
Recolher DNA de amostras humanas para produzir um clone de alguém é uma idéia recente, mas quem nos garante que já não estava presente na antiguidade. Podemos imaginar uma rede secreta de viajantes no Tempo que eventualmente, no meio dos seus contatos com os “nativos”, aconselham: “Guardem relíquias das pessoas importantes. Guardem amostras do sangue num frasco, guardem cabelo, unhas, crânios, tecidos mumificados, tudo que puder ser preservado, e que seja autenticamente daquela pessoa. Um dia isso terá utilidade.”
 
E podemos imaginar também a existência de corredores transversais no tempo, ligando universos paralelos e contíguos, fazendo com que relíquias de um sejam contrabandeadas para outro. Isso justificaria a piada do sujeito que vê num museu um esqueleto adulto com a placa “Esqueleto de São Francisco” e um esqueleto de criança com a placa “Esqueleto de São Francisco aos cinco anos”. O mercado transdimensional de relíquias está de vento em popa. Por exemplo, um bilionário russo de outro universo está colecionando esqueletos de Bin Laden.
 
 
Braulio Tavares
Mundo Fantasmo

Adélia Prado e a ditadura disfarçada


“De todas as reações ao insulto, a mais hábil e que requer menos esforço é o silêncio!”

 (Santiago Ramony Caja)

domingo, 22 de junho de 2014

Bee Gees


Meio covarde

Eu devia ter dezesseis, dezoito anos no máximo. Teresa era uma vizinha nova e falada. Não eram necessários muitos motivos para uma moça ficar falada naqueles anos 50, mas Teresa conseguiu reunir quase todos: decote, vestido justo, batom vermelho, sardas, tempo demais na janela, marido noturno e bissexto, muito bolero no toca-discos e, motivo dos motivos, corpo em forma de violão, como se dizia. Entre a minha casa e a dela havia um muro. Na época da antiga vizinha, velha, feia, engraçada, amiga que eu visitava sempre, costumava pular nosso muro para encurtar caminho. Ela não se importava e eu era quase uma criança. Agora, olhando disfarçadamente a nova vizinha, eu ficava pensando como seria bom pular o muro outra vez. Mas para essas coisas sou meio covarde.

O muro ficava na área do tanque de lavar roupa. Do lado de lá, ela cantava com uma voz sensual, inquietante. Meu pai não gostava, sabe-se lá por quê. Minha mãe também não, pode-se imaginar por quê. Talvez os motivos dele e dela convergissem para o mesmo ponto, embora diferentes, ponto que era o meu motivo para gostar tanto daquele canto. A voz ficava equilibrando-se em cima do muro: "Meu bem, esse seu corpo parece, do jeito que ele me aquece, um amendoim torradinho". Dava para ouvir minha mãe murmurar: "Sem-vergonha". O "torradinho" era quase um gemido rouco, talvez ela cantasse de olhos fechados. De vez em quando umas calcinhas de renda eram penduradas no varal. Minha mãe não suportava aquilo. Eu tinha vontade de espiar por cima do muro para ver o que ela estava fazendo, mas para essas coisas sou meio covarde.

Não era casada - a suspeita era geral. Mulher casada procura as vizinhas, apresenta o marido, pede uma xícara de arroz emprestado. A independência de Teresa insultava a comunidade solidária de mães, avós e filhas, sempre se socorrendo com um molhozinho de couve, uma olhadinha no bebê, um trocadinho para o ônibus. Os homens tinham pouco que fazer naquele quarteirão: meninos jogando bola na rua, adolescentes trabalhando como office-boys ou balconistas de dia e estudando à noite, maridos trabalhando de dia e relaxando à noite com uma cervejinha — todos desejando Teresa. Quando eu voltava do colégio, perto da meia-noite, via-a no alto do alpendre, esperando o marido, o amante: o homem. Eu olhava, ela fumava, eu passava, ela ficava. Com a repetição Teresa já me sorria, mas eu desconfiava do ar zombeteiro dela e nunca acreditei no sorriso. Tinha vontade de enfrentá-la e perguntar, bem atrevido: está rindo de mim ou pra mim? Em casa, na frente do espelho, ensaiava o tom, mãos na cintura. Quando vinha no bonde, de volta do colégio, planejava: hoje eu falo. Mas nunca consegui. Sou meio covarde para essas coisas.

Uma noite ela assoviou. Usava-se naqueles anos um assovio de galanteio, de homem para mulher, um silvo curto logo emendado num mais longo, fui-fuiiiu, que podia ser traduzido em palavras, e até era às vezes, quando a pessoa queria ser mais discreta, ou quando estava contando que assoviaram para ela, e nesse caso a garota falava: fulano fez um fui-fuiu pra mim. As mulheres às vezes usavam o assovio para imitar com certa graça o jeito cafajeste dos homens, e foi o que Teresa fez naquela noite. Tomei coragem, voltei, abri o portão, subi as escadas, parei na sua frente no alpendre. Ela vestia um penhoar azul e sorria da minha ousadia. Eu pretendia parecer desafiador, seguro, dono da situação, mas o sorriso dela não indicava nada disso. Teresa disse com malícia que o marido estava para chegar, não seria bom encontrar-me ali. Concentrei-me no papel tantas vezes ensaiado, respondi que seria ótimo se ele chegasse, que assim eu poderia explicar que ela havia assoviado, que eu havia subido para tomar satisfações, que não sou palhaço... Não creio que a representação tenha sido muito boa: ela continuava sorrindo. Recostou-se na amurada, usando a luz do alpendre como uma atriz num palco, e sua voz quente convidou: "Ele não vem hoje. Quer entrar um pouco?" Deveria ter sido mais prudente e recusado, mas para essas coisas não sou covarde.

Entrei, conversamos sobre o meu futuro e o passado dela. Vem cá ver minhas fotos, me disse, e eu a segui até um quarto pequeno onde havia uma grande cama, um guarda-roupa, uma mesinha com um abajur. Senta, ela disse. Apanhou no guarda-roupa uma caixa e mostrou-me fotografias de quando era mocinha, cartas apaixonadas de antigos namorados, retratos deles ou de outros com declarações de amor nas costas e uns versos dedicados a ela pelo namorado atual. "Ele não é meu marido, não." Eram sonetos copiados de Camões, palavra por palavra. Amor é ferida que dói e não se sente. Busque amor, novas artes, novo engenho. Alma minha gentil que te partiste. "Eu não gosto muito dele, mas gosto que ele me ame assim. Os meus namorados sempre me amaram muito." Tive ciúmes deles e vontade de contar a ela que os sonetos eram de Camões, mas para essas coisas sou meio covarde.

A roupa que Teresa vestia nem sempre estava onde deveria estar. Conversar em cima de uma cama, recostar, mudar o braço de apoio, apanhar coisas para mostrar, buscar conforto são movimentos que podem impedir um penhoar azul de cumprir seu papel, mesmo que a pessoa não queira. Quando chegou a hora de falarmos de nós, disse-lhe que seus olhares e sorrisos me pareciam zombaria e me deixavam encabulado. Que tinha vontade de perguntar a ela "o quê que há?", em tom de briga. Que tinha só dezessete (ou dezoito?) anos. Ela falou que me achava muito sério para minha idade, muito bonitinho também, que quando ouvia barulho de bonde depois das onze corna para o alpendre para me ver e que às vezes me olhava por cima do muro. Tive vontade de contar que sonhava muito com ela. Mas para essas coisas sou meio covarde.

Quase de manhã, pulei o muro que dava para minha casa. Ela me disse que voltasse outras vezes. Era perigoso e eu deveria ter recusado. Mas para essas coisas não sou covarde.
 

Ivan Ângelo

Ao longo das janelas mortas

Ao longo das janelas mortas
Meu passo bate as calçadas.
Que estranho bate!...Será
Que a minha perna é de pau?
Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrivel!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso
Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o quê,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...


Mário Quintana

A vida fora da Copa

Está todo mundo tão concentrado nos jogos do Mundial, inclusive eu, e há ainda tantas semanas pela frente, que periga acontecer uma overdose. Será que vamos resistir na frente da televisão até o dia 13 de julho? Por ora, o fundamental é que a Copa não nos faça esquecer alguns acontecimentos importantes da vida fora dos estádios, como, por exemplo:
 
1 — que este mês os senadores vão funcionar apenas três dias e os deputados, quatro, mas receberão seus salários integralmente, o que dará uma média de R$ 8.900 por dia trabalhado no Senado e R$ 6.700 na Câmara. O sacrifício é patriótico, já que precisam estar descansados para cumprir o exaustivo dever cívico de torcer pela seleção;
 
2 — que, por essas e outras, os números estão confirmando um preocupante quadro de desinteresse pelas próximas eleições. Em uma pesquisa, 26% dos entrevistados não estão interessados nelas, e 29% têm pouco interesse. Só 16% se interessam. Outro sintoma: segundo o TSE, apenas 25% dos adolescentes de 16 e 17 anos tiraram seus títulos. No Rio, 27% dos eleitores vão anular o voto ou votar em branco;
 
3 — que o Exército insiste em tapar o sol com a peneira ao negar para a Comissão da Verdade a prática de “desvio formal de finalidade” em suas instalações durante a ditadura. A farsa prossegue, mesmo depois da confissão dos próprios agentes da repressão, como o coronel da reserva Armando Avólio Filho, ex-integrante do Pelotão de Investigações Criminais da Polícia do Exército, que revelou ter visto o ex-deputado Rubens Paiva sendo torturado na carceragem do 1º Batalhão da PE na Barão de Mesquita. Nesse mesmo lugar, o tenente-médico Amílcar Lobo atendeu a Paiva agonizando. Se isso e muito mais não eram desvios, é porque eram norma;
 
4 — que a banda podre da PM continua agindo. Desde o desaparecimento de Amarildo, a folha corrida do grupo só fez aumentar. Pelo menos 15 deles já foram denunciados pelo Ministério Público. Testemunhas afirmam que o pedreiro foi torturado e executado dentro de uma UPP, Unidade de Polícia Pacificadora.
 
O caso mais recente é o do adolescente Mateus Alves dos Santos, de 14 anos, morto com dois tiros de fuzil no Morro do Sumaré. Seu colega de 15 anos acusa dois cabos da corporação: “Vi ele dando os últimos suspiros”, disse o sobrevivente, que foi baleado nas costas e joelho, e só se salvou porque se fingiu de morto. Pode-se alegar que se trata de uma minoria, mas esses atos criminosos contaminam a imagem de toda a instituição;
 
5 — que um dos rostos mais bonitos (e competentes) da televisão brasileira é o de Cecília Malan, correspondente da Globo em Londres. Não sei como Verissimo e Moreno, colecionadores de musas, ainda não perceberam. Uma distração imperdoável.
 
Zuenir Ventura é jornalista.
O Globo
O grafite de Paulo Ito, na zona oeste, rodou o mundo. Ele não quis participar do muro próximo ao Itaquerão. Foto: Marina Estarque / DW

sábado, 21 de junho de 2014

Vencedor

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!

 
Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

 
Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,
Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem.

 
E não pôde domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

 
1884: No Engenho Pau d'Arco, município de Cruz do Espírito Santo, Estado da Paraíba, a 20 de Abril nasce Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, terceiro filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e D. Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Sinhá Mocinha). Augusto e os irmãos receberão do pai a instrução primária e secundária

Número de refugiados é o maior desde a Segunda Guerra

Uma mulher afegã refugiada carrega seu filho em um acampamento médico organizado pelo Acnur, da ONU, em Islamabad, no Paquistão. Foto: Farooq Naeem / AFP
 
Até o fim de 2013, 51,2 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em todo o mundo, seis milhões a mais do que no ano anterior, informou nesta sexta-feira a agência de refugiados da ONU. É o maior número de deslocados desde a Segunda Guerra Mundial. O balanço inclui refugiados e requerentes de asilo que fugiram para o exterior, bem como pessoas deslocadas dentro de seus próprios países.

Os dados constam no relatório anual sobre as tendências globais do Acnur, apresentado nesta sexta-feira em Beirute, na ocasião do Dia Mundial dos Refugiados. Os refugiados espalhados pelo mundo são superados em número pelos deslocados internos. A ONU estima que existam atualmente 33,3 milhões de pessoas que fugiram de suas casas, mas permaneceram dentro de seus próprios países.


O Globo

Arsenal reforçado na luta contra as superbactérias

Bactérias da espécie Escherichia coli (em vermelho) na superfície de uma célula epitelial humana (em verde): micro-organismos da família dos gram-negativos, como a E. Coli, que causa diversos males, poderão ser alvo de uma nova geração de antibióticos. Foto: Latinstock
 
Desde a descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928, os antibióticos se tornaram a principal arma da Humanidade na luta contra infecções bacterianas que até então podiam ser fatais. Mas o uso excessivo e muitas vezes inadequado deste tipo de remédio em humanos e animais nas últimas décadas acelerou o surgimento das chamadas “superbactérias”, micro-organismos resistentes a todos ou à maior parte dos medicamentos hoje disponíveis, cuja última grande classe foi desenvolvida ainda nos anos 80.
 
Isto fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertar em relatório recente para o crescente risco de enfrentarmos uma “era pós-antibióticos, em que infecções comuns e pequenos ferimentos que têm sido tratáveis há décadas podem mais uma vez serem mortais”.
 
Leia mais clicando aqui
 
 
Cesar Baima, O Globo

Charge

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Dupla animada de torcedores japoneses acompanha empate da seleção do Japão com a Grécia por 0 a 0. Foto: Toru Hanai / Reuters

Após ter celular furtado, ‘Batman’ persegue e ‘prende’ suspeito

Empresário vestido de Batman amarrou suspeito de furtar seu celular. Foto: Divulgação
 
Um homem fantasiado de Batman perseguiu e ‘prendeu’ um rapaz suspeito de furtar seu celular em uma padaria no Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, na quarta-feira (18). Conhecido na cidade por realizar rapel vestido de super-herói para protestar, o ‘Batman do Capão Redondo’ diz que foi informado do furto pelo dono da padaria. “Ele viu pelas câmeras da sala de monitoramento", afirma.
 
O ativista retornava de uma reunião na Coordenação Regional da Saúde da Prefeitura. Desde maio ele protesta cobrando da gestão municipal melhorias no atendimento médico da região em que reside. Parou no estabelecimento para tomar um café. Após o aviso, pediu ao dono para ver as imagens, e decidiu tentar encontrar o assaltante.
 
 
G1

Imprensa internacional muda o tom e já se fala na melhor Copa da história

Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, os aeroportos brasileiros foram tomados por estrangeiros, alguns deles jornalistas que escreveram matérias falando sobre o caos do transporte público. Agora, com quatro dias de Copa, as críticas diminuíram, e a cobertura acalorada dos jogos ganhou espaço.

O Yahoo (da Inglaterra) chegou a dizer que muitos já estão sugerindo que a Copa no Brasil deve ser a melhor Copa da história do evento. “A Copa deste ano no Brasil tem o potencial de eclipsar as outras Copas memoráveis”, diz a matéria.

São apresentados seis motivos pelos quais a Copa 2014 seria a melhor Copa: número de gols (até o momento, o número de gols da Copa no Brasil tem o dobro de número de gols que a Copa na África do Sul tinha em quatro dias); os resultados surpreendentes (a exemplo da partida Holanda 5 x 1 Espanha e Costa Rica 3 x 1 Uruguai); o fato de que os jogadores-estrelas estão marcando (os que mais fizeram gols até agora foram Robben, Van Persie e Neymar); o fato de que é no Brasil (“lar espiritual do futebol”) e o fato de que “é o que todo mundo está falando”.

Já a rede BBC foi mais branda na posição, levando também em consideração fatores sociais. “O Brasil provou que estavam errados os críticos que diziam que o país não estava pronto para receber um evento desta magnitude? Sim e não”, diz a matéria.

Wyre Davis, correspondente da BBC no Brasil, elogiou os estádios, principalmente o de Manaus, cujas obras ele acompanhou, mas lembrou que o transporte público continua sendo um problema e que a população está insatisfeita. Ele também fala dos protestos reprimidos com violência no Rio de Janeiro e em São Paulo, sublinhando que a expectativa era a de que as manifestações fossem muito maiores.

“Os manifestantes são, sem dúvida, uma pequena minoria e, dado a determinação e os recursos do estado, a Copa do Mundo deve acontecer sem grandes problemas. (...) Ainda há um longo caminho adiante. Até lá, continuaremos curtindo o ótimo futebol nos maravilhosos - e financiados pelo estado - estádios e agradecer aos deuses do futebol por ser um espetáculo tão agradável assistir a 22 caras chutando um saco de vento”.


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Corpus Christi

Corpus Christi significa Corpo de Cristo. É uma festa religiosa da Igreja Católica que tem por objetivo celebrar o mistério da eucaristia, o sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo.
 
A festa de Corpus Christi acontece sempre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, em alusão à quinta-feira santa quando Jesus instituiu o sacramento da eucaristia.
 
A festa do Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV no dia 8 de Setembro de 1264.
 
O Corpus Christi não é feriado nacional, tendo sido classificado pelo governo federal como ponto facultativo. Isso significa que a entidade patronal é que define se os funcionários trabalham ou não nesse dia, não sendo obrigados a dar-lhes o dia de folga.
 
Durante esta festa são celebradas missas festivas e as ruas são enfeitadas para a passagem da procissão onde é conduzido geralmente pelo Bispo, ou pelo pároco da Igreja, o Santíssimo Sacramento que é acompanhada por multidões de fiéis em cada cidade brasileira. Em 2013, o Corpus Christi foi celebrado no dia 30 de Maio.
 
A tradição de enfeitar as ruas começou pela cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. A procissão pelas vias públicas, é uma recomendação do Código de Direito Canônico que determina ao Bispo Diocesano que tome as providências para que ocorra toda a celebração, para testemunhar a adoração e veneração para com a Santíssima Eucaristia.
 
A procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. O Antigo Testamento diz que o povo peregrino foi alimentado com maná, no deserto. Com a instituição da eucaristia o povo é alimentado com o próprio corpo de Cristo.