Em 1929, a Paraíba se insurgiu, tornando-se o estopim da Revolução de 30.
Em 2014, um clube paraibano se insurgiu contra uma dinastia poderosa reinante na Federação Paraibana de Futebol (FPF-PB).
Embora a Paraíba não esteja no rol dos maiores estados do País, para se destituir um presidente de uma Federação a luta também é quase sempre inglória.
É preciso uma combinação de insurgência e polícia.
De forma similar ao que ocorre em praticamente todas as Federações espalhadas pelo país, a FPF-PB também é uma espécie de capitania hereditária.
Basta observar que nos últimos 31 anos, a Federação foi presidida por apenas dois presidentes: Juraci Pedro Gomes (6 anos) e, em seguida, Rosilene Gomes (25 anos). Marido e mulher, respectivamente.
Entretanto, graças a uma ação movida pelo “Clube do Povo”, o Auto Esporte, a juíza da 8ª Vara Civil da Capital, Renata Câmara, solicitou a anulação da última eleição da FPF-PB e a imediata nomeação de uma junta administrativa, composta por três representantes, para gerir a entidade.
Assim, pôs-se fim a 31 anos de dinastia da família Gomes no poder do futebol paraibano.
Os argumentos são irrefutáveis.
Pelo menos 23 das 53 entidades que votaram na ex-presidente da Federação não tinham legalidade jurídica para exercer o voto. Inclusive, duas dessas entidades eram representadas pelos filhos da ex-presidente Rosilene Gomes.
Se não bastasse, outras seis entidades teriam sido representadas por funcionários da própria Federação Paraibana no último pleito da entidade.
Para se ter uma ideia do desmando administrativo da Federação, o campeonato estadual de 2014 não tem data para encerrar.
Com dois times paraibanos envolvidos em plena disputa da série C e da Copa do Brasil, as rodadas finais devem ser marcadas para o período da Copa do Mundo, no final de junho e início de julho.
O resultado desta dinastia foi e é visível aos olhos de quem acompanha futebol.
Há anos o futebol da Paraíba vive no ostracismo.
Esquecido da grande mídia, a Paraíba deixou de revelar jogadores e de formar torcedores.
Ainda assim, times tradicionais do estado como o Botafogo, de João Pessoa, e o Treze e Campinense, de Campina Grande, graças à força de suas torcidas permaneceram vivos, lutando pela sobrevivência.
Em 2013 o Campinense foi o campeão da Copa do Nordeste e em 2014 o Botafogo foi o campeão brasileiro da série D.
Vivendo há anos na UTI do futebol paraibano, o Auto Esporte desistiu de morrer e, com ele, fez renascer a esperança no futebol paraibano.
É preciso acreditar que possam existir outros clubes e/ou federações insurgentes no futebol brasileiro para por fim a política “café-com-leite” da falsa alternância de poder que reina durante anos no Brasil, onde presidentes de Federação/Confederação se mantêm de forma quase vitalícia do cargo.
Que novas ações, como a do Auto Esporte, espalhem-se nos estados brasileiros.
Que atas de eleições sejam apreciadas e fiscalizações sejam feitas, continuamente.
Que apareçam novos insurgentes e uma outra Revolução, desta vez, no futebol brasileiro.
*Paulo Aguiar é professor universitário, pernambucano e apaixonado por futebol
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