Pelo amor de
Deus, não confie em intelectuais pedindo emprego em órgãos executivos. Não estou
enterrando meu próprio time, estou apenas dizendo onde devemos jogar.
A função do
intelectual é ler, escrever, dar aula, orientar pesquisas, participar do debate
público, mas não assumir funções executivas porque somos obcecados por nossas
visões de mundo, corretas ou não, somos monstruosamente vaidosos e pouco
democráticos, pelo contrário, adoramos o poder, e nos achamos superiores
moralmente.
Qualquer um
sabe o escândalo de como os intelectuais compactuaram com todo tipo de violência
(criadora ou não... risadas?) desde o século 18. O último lugar onde se deve
olhar quando buscarmos líderes é um departamento de humanidades.
As ciências
duras geram produtos técnicos, testáveis e que quando erram são mais facilmente
identificáveis. E se nem sempre o são, a causa é aquilo que o epistemólogo Imre
Lakatos chamava de conteúdos exteriores ao "rational belt", ou cinturão
racional, ou seja, componentes exteriores ao próprio método científico, como
fatores políticos, econômicos, morais, psicológicos.
Nas ciências
humanas se pode dizer tudo, porque nada é testável, e normalmente quando se
erra, se inventa alguma hipótese "ad hoc" (basicamente, neste caso, desculpas
chiques) para justificar.
Tanto no
marxismo quanto no cristianismo, hipóteses "ad hoc" funcionam porque ambas são
especulações e nada mais. No cristianismo se diz "a igreja traiu Cristo", no
marxismo se diz "a União Soviética traiu a causa da liberdade".
Quando um de
nós assume cargos de gestão, começa a inviabilizar qualquer iniciativa que não
reze na cartilha de suas teorias salvacionistas.
Torquemada, o
grande inquisidor espanhol do século 15, patrono dos intelectuais em ministérios
ou secretarias, se sentia moralmente superior queimando hereges.
Concordo com
isso tudo que escrevi acima, mas esta crítica não é minha. Ela está na obra de
um intelectual americano negro quase desconhecido no Brasil. Friso que ele é
negro porque quase todo mundo, devido a nossa atávica ignorância com relação ao
pensamento norte-americano que não seja o blá-blá-blá do Partido Democrata e da
"new left", pensa que conservador americano em política é sempre branco babão e
estúpido.
A razão desta
ignorância é porque nossos alunos só podem ler o que achamos que está certo, e
sonegamos o resto.
Thomas Sowell é
praticamente desconhecido entre nós, apesar de termos a excelente tradução de
sua obra capital "Intelectuais e Sociedade", pela É Realizações.
"Ungidos",
título da coluna de hoje, é um termo usado por Thomas Sowell no seu "The Vision
of The Anointed, Self-Congratulation as Basis for Social Policy", Basic Books,
1995 (a visão do ungido, autocongratulação como base para política social). Esta
obra é uma excelente "entrada" para conhecer seu pensamento. Uma das vantagens é
que ela é bem menor e menos complexa do que "Intelectuais e Sociedade".
Nela, Sowell
mostra como esta classe de ungidos (a esquerda que tem formado a maior parte das
políticas públicas nos EUA e Ocidente em geral) falou besteiras nos últimos
anos, principalmente em três áreas: 1. "Guerra à pobreza" (suas ideias apenas
pioraram a miséria), 2. "Educação sexual" (destruíram a família, os laços
afetivos e a relação entre homens e mulheres) e 3. "Justiça e combate ao crime"
(criaram um blá-blá-blá que o criminoso é criminoso porque é vítima da sociedade
e, portanto, se você é assaltado, a culpa é sua, e não dele, o que só piorou
muito a segurança pública).
O padrão de
funcionamento deles é basicamente dizer/fazer o seguinte: 1. Catástrofes vão
acontecer e não percebemos, só eles. 2. Ação urgente necessária que só eles
sabem qual é. 3. Necessidade de medidas drásticas, criadas por eles, uma minoria
ungida e mimada, para uma maioria ignorante. 4. Desprezo por todo argumento
contrário, acusado de ser coisa de gente malvada, desinformada, irresponsável e
motivada por interesses duvidosos (eles, claro, são movidos pela pureza de
coração).
Você reconheceu
o padrão?
Pernambucano, filósofo,
escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia
pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP
e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo,
ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed.
LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de
"Ilustrada".
Fonte
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