É sempre bom investigar a origem dos fatos e das palavras.
Você pode descobrir coisas surpreendentes. Por exemplo: o final abrupto de uma
frase de jazz moderno, vocalizado, soava algo como “be-ree-bop”. É daí que vem o
nome do novo estilo de tocar jazz, “bop”.
O “biribop” foi usado numa música brasileira que falava da influência do novo
jazz no samba — “eba biribop”, lembra? — e não demorou para que o “biribop” do
samba se transformasse em “biriba” e acabasse sendo o nome do cachorro mascote
do Botafogo, segundo alguns um dos maiores responsáveis pela boa fase do time na
época — e nome de um jogo de cartas.
Hoje quem joga biriba (ainda se joga biriba?) não desconfia que tudo começou
nos clubes de Nova York, onde alguns músicos faziam uma revolução que não tinha
nada a ver com o baralho.
A procura de origens pode levar por caminhos errados, é verdade. Ainda no
campo da música: quando a bossa-nova começou a ser tocada nos Estados Unidos uma
das curiosidades dos nativos era o significado do termo “bossa”.
Quem procurou num dicionário leu que “bossa” era a protuberância nas costas
de um corcunda, não podia estar certo. Aí alguém se lembrou de um LP gravado
pelo guitarrista Laurindo de Almeida nos Estados Unidos anos antes, junto com
três americanos, um saxofonista, um baterista e um contrabaixista, que incluía
ritmos brasileiros. E surgiu a teoria que o disco do Laurindo de Almeida teria
sido muito ouvido no Brasil e a marcação do baixo nos sambas muito impressionara
os músicos locais.
Claro, “bossa” era uma corruptela de “bass”, contrabaixo em inglês. Tudo
esclarecido. (Não foi a única injustiça que fizeram com o João Gilberto, o
verdadeiro criador da batida da bossa. Ainda inventaram que ele roubara o jeito
de cantar do Chet Baker.)
Mas tudo isto, acredite ou não, tem a ver com o mensalão. Ouvi dizer que a
origem do esquema que está sendo condenado no Supremo é uma eleição em Minas que
envolveu alguns dos mesmos personagens de agora, só que o partido favorecido foi
o PSDB.
Se a origem é esta mesma, ou — como no caso da origem da bossa-nova — há um
mal-entendido, não sei. Mas não deixa de surpreender a absoluta falta de
curiosidade, da grande imprensa inclusive, sobre esta suposta raiz de tudo. Só o
que há a respeito é um grande silêncio.
O barulho com o esquema precursor mineiro ainda está por vir ou o silêncio
continuará até o esquecimento? É sempre bom investigar a origem dos fatos e das
palavras. Inclusive porque dá boas histórias.
Luis Fernando Veríssimo
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