quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A rir

Eu já não creio mais… sombrio e calmo enfrento
- O lábio ermo da prece; o peito ermo da crença -
A estrela – rubra e imensa
De meu destino atroz, aspérrimo e sangrento!…
E embora sobre mim flamívoma suspensa
Em minh’alma os clarões fatais ela concentre
Eu suporto-lhe bem o flamejante baque
- Altivamente calmo – entricheirando-me entre
Uma canção de Byron
E um cálix de cognac…
- Não há dor que resista ao som de uma risada! –
Depois – se me exacerbo
E tremo e choro erguendo a prece à alma magoada
Mais me dói essa dor, mais esse mal é acerbo!
Assim – eu resolvi, indiferente e frio
Cheio de orgulho e spleen – como um banqueiro inglês!
Sepultar na ironia o pranto meu sombrio…
Por isso quando atroz na triste palidez
De minha fronte paira amarga ideia – eu rio!…
E quando pouco a pouco
Essa ideia me abate e vence-me alterosa
De amargores repleta – eu rio como um louco…
E se ela inda dói mais e forte e tenebrosa
Sói a último idela de minh’alma aniilar
E vencer-me de todo
Então – eu me ergo mais – e desvairando o olhar
– Divinamente doido -
Eu rio, rio muito e rio – até chorar!…


Euclides da Cunha

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