Um estudo feito com base em dados históricos na
Coreia do Sul revelou que homens castrados vivem em média 19 anos a mais do
que os demais homens da mesma camada social.
A pesquisa, publicada nesta semana na
revista científica Current Biology, analisou dados de centenas de anos de
eunucos na Coreia do Sul.
Os eunucos tinham funções especiais nas
sociedades orientais da China e da Coreia, em especial na dinastia Joseon,
que reinou o império coreano do século 14 ao 19. Eles guardavam os portões
dos castelos, administravam a comida e eram os únicos homens fora da família
real com acesso aos palácios à noite.
O pesquisador Cheol-Koo Lee, da Korea
University, em Seul, analisou dados de 81 eunucos que viveram 1556 e 1861. A
idade média de vida deles era de 70 anos, 19 a mais do que os não-castrados da
mesma casta social. Um dos eunucos estudados chegou a viver 109 anos.
A média de anos de vida dos homens da família
real coreana, no mesmo período, era de apenas 45 anos. Muitos nobres coreanos
alcançavam, no máximo, entre 50 e 60 anos.
Testosterona
A castração feita antes da puberdade impede
que meninos se transformem totalmente em homens, em termos biológicos.
"Os históricos mostram que os eunucos
tinham aparência feminina. Eles não tinham bigodes, possuíam seios grandes,
quadris largos e vozes finas", diz Cheol-Koo Lee.
Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é
que os hormônios masculinos, como a testosterona, podem ter efeitos nocivos ao
corpo dos homens. Os pesquisadores acreditam que os hormônios masculinos
debilitam o sistema imunológico e causam danos ao coração.
A castração seria uma forma de
"proteger" o corpo masculino destes efeitos. Os pesquisadores não
conseguiram levantar dados sobre as mulheres no mesmo período.
"Os dados trazem indícios convincentes de
que o hormônio do sexo masculino reduz a longevidade dos homens", disse à
BBC o professor Kyung-Jin Min, da Inha University, também na Coreia do Sul, que
participou da pesquisa.
Ele acredita que há alternativas modernas à
castração para aumentar a longevidade masculina.
"É possível fazer uma terapia de redução de
testosterona que aumente a longevidade entre os homens, no entanto, é preciso
considerar os efeitos colaterais disso, o principal deles sendo a redução no
desejo sexual dos homens."
Para David Clancy, da universidade britânica de
Lancaster, os resultados são "persuasivos, mas, certamente, não
conclusivos".
Ele aceita o argumento de que o alto número
de pessoas centenárias entre os eunucos é um sinal de que a testosterona, de
fato, tem um papel importante na longevidade masculina. No entanto, ele diz
que o estilo de vida dos eunucos – que possuem hábitos mais reservados – também
é um fator importante a ser considerado.
Muitos dos eunucos na sociedade coreana
adotavam meninas ou outros garotos eunucos.
"Neste estudo, os eunucos foram educados por
eunucos ao longo de diversas gerações, e estilos de vida diferentes podem ter
sido passados adiante", diz o pesquisador, que citou outro estudo sobre o
assunto.
"Uma comparação entre cantores castrados e
não-castrados provavelmente é uma amostra melhor, e essa comparação mostrou que
não há diferença na longevidade", disse Clancy. Ele afirma que, neste caso,
os estilos de vida eram bastante semelhantes entre os dois grupos.
Da BBC Brasil
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