quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Nunca o homem sofreu tanto por amor

Os ombros dos garçons estão molhados. Nunca os homens sofreram tanto por amor nos tristes trópicos.
 
Os balcões das tavernas estão marcados pelos cotovelos e suas dores, meu caro Lupicínio.
 
“Você sabe o que ter um amor, meu senhor/ter loucuras por uma mulher…”
 
Podemos dizer, com toda hipérbole cabível, que há, no mínimo, uma endemia da dor amorosa masculina.
 
Desconfio que o mais correto, pelas estatísticas do meu Databotequim, é que já alcançamos, na madrugada desta quarta-feira, uma epidemia da romântica doença.
 
As mulheres estão conquistando o monopólio do pé-na-bunda, como este cronista havia pressentido.
De 2008 para cá, os sismógrafos conjugais do IBGE indicavam esta tendência: 71,7% das separações não consensuais têm iniciativa das mulheres.
 
Não consensual é aquela situação em que um pombinho quer cair fora e o outro senta na margem do rio Piedra e chora.
 
É, amigo, somente na noite de ontem, confortei uma meia dúzia de camaradas entregues a esta sina. Aqui me junto à brigada reconfortante dos garçons profissionais nesta fatídica hora.
 
A longo e médio prazo, um terapeuta ou um psicanalista cumprem muito bem os seus papéis. Na urgência urgentíssima, apenas um garçom é capaz de entender a nossa miséria terrena.
 
Um amigo-amigo também amacia as dores do mundo. Acontece que nem sempre temos a humildade de abrir o jogo para os bons companheiros -principalmente quando somos traídos. Prevalece o orgulho macho.
 
A um garçom, sim. Não falo dos amadores, do dublê de garçom que está ali apenas ganhando um troco provisório. Não falo da linda garçonete-cabeça que milita no Oficina do Zé Celso, no Antunes ou em outro respeitável núcleo da dramaturgia paulistana.
 
Só o garçom sabe o velho mantra, aqui sempre repetido: quando a vida dói, drinque caubói. Uma boa trilha sonora de dor-de-corno, como fez o rapaz do filme “Alta Fidelidade” (na foto acima), também salva.
 
 
Xico Sá

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