domingo, 30 de setembro de 2012

CNBB repudia capa com Neymar

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) publicou nota nesta sexta-feira em repúdio à capa da revista "Placar" de outubro, na qual o jogador Neymar aparece crucificado , assim como Jesus Cristo. A entidade afirma que a revista tentou conseguir mais atenção por meio da "provocação", com a imagem sendo causa de "indignação". A CNBB ainda reclama que há "limites objetivos" para a liberdade de expressão.

"Reconhecemos a liberdade de expressão como princípio fundamental do estado e da convivência democrática, entretanto, que há limites objetivos no seu exercício. A ridicularização da fé e o desdém pelo sentimento religioso do povo por meio do uso desrespeitoso da imagem da pessoa de Jesus Cristo sugerem a manipulação e instrumentalização de um recurso editorial com mera finalidade comercial", diz trecho da nota.

A revista trata em sua reportagem de capa sobre o que chama de "polêmica do momento no futebol brasileiro: a crucificação de Neymar". De acordo com a "Placar", o atacante do Santos e da seleção brasileira, vaiado nos estádios nas últimas semanas e chamado de "cai-cai" por torcedores e pela imprensa internacional, virou o "bode expiatório em um esporte onde todos jogam sujo".

Para a CNBB, a revista foi "insensível ao recente quadro mundial de deplorável violência causado por uso inadequado de figuras religiosas, prestando, assim, um grave desserviço à consolidação da convivência respeitosa entre grupos de diferentes crenças".

A entidade ainda afirma que a revista desrespeitou o que existe "de mais sagrado pelos cristãos". "A fotomontagem usa de forma explícita a imagem de Jesus Cristo crucificado, mesmo que o diretor da publicação tenha se pronunciado negando esse fato tão evidente, e isso se constitui numa clara falta de respeito que ofende o que existe de mais sagrado pelos cristãos e atualiza, de maneira perigosa, o já conhecido recurso de atrair a atenção por meio da provocação. Confira a nota da CNBB :

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, manifesta profunda indignação diante da publicação de uma fotomontagem que compõe a capa de uma revista esportiva na qual se vê a imagem de Jesus Cristo crucificado com o rosto de um jogador de futebol.

Reconhecemos a liberdade de expressão como princípio fundamental do estado e da convivência democrática, entretanto, que há limites objetivos no seu exercício. A ridicularização da fé e o desdém pelo sentimento religioso do povo por meio do uso desrespeitoso da imagem da pessoa de Jesus Cristo sugerem a manipulação e instrumentalização de um recurso editorial com mera finalidade comercial.

A publicação demonstrou-se, no mínimo, insensível ao recente quadro mundial de deplorável violência causado por uso inadequado de figuras religiosas, prestando, assim, um grave desserviço à consolidação da convivência respeitosa entre grupos de diferentes crenças.

A fotomontagem usa de forma explícita a imagem de Jesus Cristo crucificado, mesmo que o diretor da publicação tenha se pronunciado negando esse fato tão evidente, e isso se constitui numa clara falta de respeito que ofende o que existe de mais sagrado pelos cristãos e atualiza, de maneira perigosa, o já conhecido recurso de atrair a atenção por meio da provocação.


IG

Túnel do tempo - The Cars


Livro conta detalhes do insaciável apetite sexual de Kadafi

Segundo jornalista, ex-ditador teria relações até com ministros e embaixadores

As orgias e depravações sexuais dos filhos de Muamar Kadafi são de conhecimento público, mas pouco se sabe da intimidade do ex-ditador líbio, morto no ano passado. Em entrevista ao jornal espanhol “El País”, a jornalista Annick Cojean, autora do livro “As presas”, conta detalhes do apetite sexual insaciável do ex-presidente, que além de violar mulheres, abusaria também de homens, incluindo seus próprios ministros e embaixadores, e teria ao menos quatro relações sexuais por dia. O livro, recém-lançado na França, retrata um Kadafi megalomaníaco, vaidoso e cínico.

- Muitos o viam como um predador de mulheres, mas não podíamos imaginar seu nível de barbárie, sadismo e violência - disse Annick.
 
A investigação da jornalista conta com o testemunho de Soraya, uma jovem de 22 anos que foi sequestrada quando tinha 15 e foi abusada por Kadafi por cinco anos. No livro, Soraya conta o seu dia a dia no subsolo do complexo de Bab al-Aziziya, a gigantesca residência do ex-ditador em Trípoli. A vítima era abusada a qualquer hora do dia ou noite. Soldados de “assuntos especiais” a chamavam para subir no quarto do ditador, que, além de estuprar, mordia, batia e às vezes até urinava em Soraya. Segundo a jovem, Kadafi estava sempre drogado e obrigava suas vítimas a cheirar cocaína, fumar, beber e assistir a filmes pornôs.
 
Como Soraya, eram muitas mulheres e até alguns homens, vivendo como escravos sexuais. Alguns ficavam por dias, outros por anos sob o domínio do ditador. O fluxo era constante para saciar o apetite sexual de Kadafi, que mantinha relações com quatro pessoas por dia, segundo as testemunhas entrevistadas por Annick.
 
- Algumas me falaram de 30 mulheres presas ao mesmo tempo, mas é impossível comprovar, havia muitas idas e vindas e os movimentos eram restritos. Não tinham muito contato umas com as outras - disse a jornalista.
 
Qualquer evento poderia ser usado para encontrar novas presas sexuais, incluindo viagens ao exterior, diz Annick. Segundo a jornalista, o próprio ditador escolhia suas vítimas nos encontros que participava, colocando a mão sobre a cabeça das mulheres que lhe interessavam. Além disso, qualquer lugar poderia ser usado para saciar o apetite do líder. Nos porões da Universidade de Trípoli, por exemplo, rebeldes encontraram um quarto, com uma enorme cama ainda feita e uma hidromassagem com detalhes de ouro.
 
Mas a obsessão sexual de Kadafi também era uma arma de poder. O ditador usava o sexo para punir seus desafetos políticos, contou um ex-membro do regime, afirmando que o líder abusava sexualmente com alguns de seus ministros, condenados à desonra, e elaborava estratégias para seduzir mulheres de chefes de Estado africanos e embaixadores.
 
- Cada vez que queria se posicionar como vencedor frente a um chefe tribal, de Estado ou um opositor qualquer, prometia que poderia dar dinheiro para uma fundação, diploma de estudo, para sua mulher, sua filha. Uma desculpa para um convite até o complexo de Bab al-Aziziya. O simples fato de ter transado com a filha de um deles o fazia se sentir triunfal - disse Annick.
 
 
O Globo
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Luisa Sobral


sábado, 29 de setembro de 2012

Todos acordamos tristes


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Todos acordamos tristes e impacientes:
que melancolia desceu na chuva da noite?
Que sonhos teve cada um de nós,
já esquecidos e ainda atuantes?
Que anjos amargos ficaram à nossa cabeceira?
Todos acoradamos com o coração pesado
e os lábios aflitos.
Que bebida acerba nos foi vertida dos céus?
Que confidências nos fizeram os mortos e os Santos?
Nossos olhos abriram-se a custo, sob muito sal.
Nossos braços estavam sem força, ao despertar do dia.
Por que montanhas caminhamos, de íngreme pedra?
Que desertos atravessamos, de vento e areia?
Em que mares deixamos a sombra do nosso vulto?
Acordamos despojados, divididos, dolentes,
e, exaustos, começamos a recompor
aquilo que, sem nenhuma certeza,
supomos, no entanto, ser, em alma e esperança.


Cecília Meireles

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

'Pequeno Manual sobre Eleições'

Em 64 a.C., Cícero, notável orador e político romano, embora não pertencente à aristocracia de onde saíam os que iriam dirigir os destino de Roma, apresentou-se como candidato ao posto de cônsul, o cargo mais importante na cena política de Roma.
Acervo Musei Capitolini, Roma

Seu irmão Quintus Tullius, general e político, produziu um memorando que denominou Pequeno Manual sobre Eleições, com o objetivo de ajudar o candidato na campanha que se aproximava e, como tudo parecia indicar, não iria ser nada fácil para o tribuno.
A revista Foreign Affairs publicou em maio/junho passado trechos do memorando de Quintus Tullius, que, pela sua atualidade diante do quadro das eleições municipais no País inteiro, tendo como pano de fundo o julgamento do mensalão, merecem ser aqui resumidos.
Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pelo pragmatismo, mas mostram que os costumes e as práticas políticas não se modificaram substancialmente desde esses remotos tempos romanos. Em mais de 2 mil anos nada, ou quase, parece ter mudado. Os políticos mais experientes pouco terão a ganhar com o manual.
Os iniciantes, contudo, poderão beneficiar-se de alguma das sugestões feitas para a conquista do sufrágio e do apoio dos eleitores.
O memorando aponta as duras e cruas realidades da política e oferece um roteiro pragmático ao candidato.
Primeiro, prestando conselho sobre como ganhar a eleição; em seguida, analisando a natureza e a força da sua base política, além da necessidade de dar atenção a grupos específicos; e, finalmente, oferecendo uma série de conselhos práticos sobre como conquistar votos.
Segundo Quintus Tullius, são três as coisas que podem garantir votos numa eleição: favores, esperança e relações pessoais. E segue dizendo ao irmão:
"Você deve trabalhar para dar esses incentivos às pessoas certas. Para ganhar os eleitores indecisos você pode fazer-lhes pequenos favores. Com relação àqueles em quem você desperta a esperança - um grupo zeloso e devotado -, deve fazê-los acreditar que estará sempre ao seu lado para ajudá-los.
Deixe que eles saibam que você está agradecido por sua lealdade e que está muito agradecido pelo que cada um deles está fazendo por você.
Em relação aos que já o conhecem, você deve encorajá-los, adaptando a sua mensagem à circunstância de cada um e demonstrando a maior gratidão pelo apoio de seus seguidores.
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
 
Fonte: O Estado S.  Paulo

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Utilidade Pública


Aviso


Virgindade ainda em voga em pleno 2012

Louco que ainda exista esse fetiche todo acerca da virgindade, não é?
 
 
Repare no caso dessa mocinha Catarina (na foto), 20, do estado da santa homônima. Sim, a que está leiloando a virgindade pela internet.
 
O lance faz parte de um documentário de um cineasta australiano. Leia detalhes aqui.
 
Ela já recebeu ofertas de até US$ 155 mil.
 
Tem um homem na parada também: Alexander Stepanov, 21, igualmente virgem e também em leilão na rede. O donzelo é russo e tem sido bem disputado.
 
 
No meu tempo não tinha essa moleza toda. A gente é que pagava, nas casas da luz vermelha, para tirarem nosso selo de virgindade. “Para tirar o queijo”, como se diz em alguns lugares do Nordeste.
 
 
Mas o que interessa aqui é a catarinense. Uma fofa, uma linda. Para completar, moça sábia e romântica, com a filosofia de Henry Thoreau como mantra:
 
“A opinião alheia é um fraco tirano se comparada com a nossa opinião sobre nós mesmos”, citou.
 
 
A transa com o vencedor do leilão será nos ares, durante um voo, como a cena clássica do filme Emanoelle no avião.
 
 
O caso me fez lembrar de Ana Paula, que em 1991 rifou seu corpo, em Juazeiro do Norte. Objetivo: ir para São Paulo.
 
 
O cordelista Abraão Batista, um dos melhores do país, assim narrou o episódio: “Botou o corpo na rifa,/ pra uma noite no motel;/ com isso a rapaziada/ ficou como mosca no mel;/ dizem que entrou na rifa/ de menor a bacharel”.
 
 
Um mecânico foi o sorteado. Como não pagou o bilhete antes da corrida, conforme prometido, não teve direito ao prêmio. Sorte da moça.
 
 
O enredo acabou inspirando um curta de ficção, o “Rifa-me”, com roteiro de Simone Oliveira Lima e direção de Karim Aïnouz.
 
 
Em 2006, o mesmo diretor cearense lançou “O céu de Suely”, filmaço que usa um mote parecido com o da mulher rifada.
 
 
Voltemos à virgem Catarina. O leilão moderno, com lances virtuais e ritmo de Big Brother, não passa de um repeteco dos antigos leilões realizados nos lupanares Brasil afora. Maluquice sem fim, amigo, o eterno retorno da história.
 
 
Como diz o título do livro do Allan Sieber, assim rasteja a humanidade. Com todo respeito.
 
 
Xico Sá

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Chris Rea - Road to hell


Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo.
 
 
Soren Kierkegaard


A leitura de todos bons livros é como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados , que foram seus autores , e é uma conversa estudada , na qual eles nos revelam seus melhores pensamentos.
 

Justiça proíbe exibição no Brasil de filme que ofende Maomé

O Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu nesta terça-feira, 25, o site YouTube de exibir o trailer do filme 'Inocência dos Muçulmanos' que, ofensivo ao islamismo, tem causado protestos em diversos países. Horas antes, a presidente Dilma Rousseff condenou a islamofobia no discurso de abertura da 67.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York.
 
A decisão foi tomada nesta tarde pelo juiz Gilson Delgado Miranda, da 25ª Vara Cível, segundo informações da assessoria de imprensa do TJ, e acata um pedido da União Nacional Islâmica contra a Google Brasil, responsável pelo serviço de vídeos online.
 
 
Guilherme Russo e Luiz Raatz, Estadão.com.br

Homens castrados têm vida mais longa, diz estudo

Um estudo feito com base em dados históricos na Coreia do Sul revelou que homens castrados vivem em média 19 anos a mais do que os demais homens da mesma camada social.
A pesquisa, publicada nesta semana na revista científica Current Biology, analisou dados de centenas de anos de eunucos na Coreia do Sul.
Os eunucos tinham funções especiais nas sociedades orientais da China e da Coreia, em especial na dinastia Joseon, que reinou o império coreano do século 14 ao 19. Eles guardavam os portões dos castelos, administravam a comida e eram os únicos homens fora da família real com acesso aos palácios à noite.
O pesquisador Cheol-Koo Lee, da Korea University, em Seul, analisou dados de 81 eunucos que viveram 1556 e 1861. A idade média de vida deles era de 70 anos, 19 a mais do que os não-castrados da mesma casta social. Um dos eunucos estudados chegou a viver 109 anos.
A média de anos de vida dos homens da família real coreana, no mesmo período, era de apenas 45 anos. Muitos nobres coreanos alcançavam, no máximo, entre 50 e 60 anos.
Testosterona
A castração feita antes da puberdade impede que meninos se transformem totalmente em homens, em termos biológicos.
"Os históricos mostram que os eunucos tinham aparência feminina. Eles não tinham bigodes, possuíam seios grandes, quadris largos e vozes finas", diz Cheol-Koo Lee.
Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é que os hormônios masculinos, como a testosterona, podem ter efeitos nocivos ao corpo dos homens. Os pesquisadores acreditam que os hormônios masculinos debilitam o sistema imunológico e causam danos ao coração.
A castração seria uma forma de "proteger" o corpo masculino destes efeitos. Os pesquisadores não conseguiram levantar dados sobre as mulheres no mesmo período.
"Os dados trazem indícios convincentes de que o hormônio do sexo masculino reduz a longevidade dos homens", disse à BBC o professor Kyung-Jin Min, da Inha University, também na Coreia do Sul, que participou da pesquisa.
Ele acredita que há alternativas modernas à castração para aumentar a longevidade masculina.
"É possível fazer uma terapia de redução de testosterona que aumente a longevidade entre os homens, no entanto, é preciso considerar os efeitos colaterais disso, o principal deles sendo a redução no desejo sexual dos homens."
Para David Clancy, da universidade britânica de Lancaster, os resultados são "persuasivos, mas, certamente, não conclusivos".
Ele aceita o argumento de que o alto número de pessoas centenárias entre os eunucos é um sinal de que a testosterona, de fato, tem um papel importante na longevidade masculina. No entanto, ele diz que o estilo de vida dos eunucos – que possuem hábitos mais reservados – também é um fator importante a ser considerado.
Muitos dos eunucos na sociedade coreana adotavam meninas ou outros garotos eunucos.
"Neste estudo, os eunucos foram educados por eunucos ao longo de diversas gerações, e estilos de vida diferentes podem ter sido passados adiante", diz o pesquisador, que citou outro estudo sobre o assunto.
"Uma comparação entre cantores castrados e não-castrados provavelmente é uma amostra melhor, e essa comparação mostrou que não há diferença na longevidade", disse Clancy. Ele afirma que, neste caso, os estilos de vida eram bastante semelhantes entre os dois grupos.
 
 
Da BBC Brasil

Planejamento é tudo! Será???


"(...) Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre.
 
(...)
 
(Chicó lamentando a morte de João Grilo no Auto da Compadecida)
 
 
Ariano Suassuna

Charge


terça-feira, 25 de setembro de 2012

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Alanis Morissette


Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.
 
 

Como é mesmo o nome?


Levou o manequim de madeira à festa porque não tinha companhia e não queria ir sozinho.

Gravata bordeaux, seda. Camisa pregueada, cambraia. Terno riscado, lã. Tudo do bom. Suas melhores roupas na madeira bem talhada, bem lixada, bem pintada, melhor corpo. Só as meias um pouco grossas, o que porém se denunciaria apenas se o manequim cruzasse as pernas. Para o nariz firmemente obstruído, um lenço no bolsinho.

No relógio de ouro do pulso torneado, a festa já tinha começado há algum tempo.

Sorridentes, os donos da casa se declararam encantados por ter ele trazido um amigo.

— Os amigos dos nossos amigos são nossos amigos — disseram saboreando a generosidade da sua atitude. E o apresentaram a outros convidados, amigos e amigos de nossos amigos. Todos exibiram os dentes em amável sorriso.

Recebeu o copo de uísque, sua senha. E foi colocado no canto esquerdo da sala, entre a porta e a cômoda inglesa, onde mais se harmonizaria com a decoração.

A meia hilaridade pintada com tinta esmalte e reforçada com verniz náutico exortava outras hilaridades a se manterem constantes, embora nenhuma alcançasse idêntico brilho. Abriam-se os transitórios vizinhos em amenidades que o compreensivo calar-se do outro logo transformava em confidências. Enfim alguém que sabia ouvir. Relatos sibilavam por entre gengivas à mostra e se perdiam em quase espuma na comissura dos lábios. Cabeças aproximavam-se, cúmplices. Apertavam-se as pálpebras no dardejado do olhar. O ruge, o seio, o ventre, a veia expandida palpitavam. O gelo no uísque fazia-se água.

A própria dona da casa ocupou-se dele na refrega de gentilezas. Trocou-lhe o copo ainda cheio e suado por outro de puras pedras e âmbar. Atirou-se à conversa sem preocupações de tema, cuidando apenas de mantê-lo entretido. Do que logo se arrependeu, naufragando na ironia do sorriso que lhe era oferecido de perfil. A necessidade de assunto mais profundo levou-a à única notícia lida nos últimos meses. E nela avançou estimulada pelo silêncio do outro, logo úmida de felicidade frente a alguém que finalmente não a interrompia. No mais frondoso do relato o marido, entre convivas, a exigiu com um sinal. Afastou-se prometendo voltar.

O brilho de uma calvície abandonou o centro da sala e coruscou a seu lado, derramando-lhe sobre o ombro confissões impudicas, relato de farta atividade extraconjugal. Sem obter comentários, sequer um aceno, o senhor louvou intimamente a discrição, achando-a, porém, algo excessiva entre homens. Homens menos excessivos aguardavam em outros cantos da sala a repetição de suas histórias.

Não acendeu o cigarro de uma dama e esta ofendeu-se, já não havia cavalheiros como antigamente. Não acendeu o cigarro de outra dama e esta encantou-se, sabia bem o que se esconde atrás de certo cavalheirismo de antigamente. Os cinzeiros acolheram os cigarros sem uso.

Um cavalheiro sentiu-se agredido pelo seu desprezo. Um outro pela sua superioridade. Um doutor enalteceu-lhe a modéstia. Um senhor acusou-lhe a empáfia. E o jovem que o segurou pelo braço surpreendeu-se com sua rígida força viril.

Nenhum suor na testa. Nenhum tremor na mão. Sequer uma ponta de tédio. Imperturbável, o manequim de madeira varava a festa em que os outros aos poucos se descompunham.

Já não eram como tinham chegado. As mechas escapavam, amoleciam os colarinhos, secreções escorriam nas peles pegajosas. Só os sorrisos se mantinham, agora descorados.

No relógio torneado do pulso rijo a festa estava em tempo de acabar.

As mulheres recolhiam as bolsas com discrição. Os amigos, os amigos dos amigos, os novos amigos dos velhos amigos deslizavam porta afora.

Mais tarde, a dona da casa, tirando a maquilagem na paz final do banheiro, dedos no pote de creme, comentava a festa com o marido.

— Gostei — concluiu alastrando preto e vermelho no rosto em nova máscara —, gostei mesmo daquele convidado, aquele atencioso, de terno riscado, aquele, como é mesmo o nome?

Marina Colasanti


 
O texto acima foi extraído do livro "O leopardo é um animal delicado", Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 131.

Os dois bonitos e os dois feios


Nunca se sabe direito a razão de um amor. Contudo, a mais frequente é a beleza. Quero dizer, o costume é os feios amarem os belos e os belos se deixarem amar. Mas acontece que às vezes o bonito ama o bonito e o feio o feio, e tudo parece estar certo e segundo a vontade de Deus, mas é um engano. Pois o que se faz num caso é apurar a feiúra e no outro apurar a boniteza, o que não está certo, porque Deus Nosso Senhor não gosta de exageros; se Ele fez tanta variedade de homens e mulheres neste mundo é justamente para haver mistura e dosagem e não se abusar demais em sentido nenhum. Por isso também é pecado apurar muito a raça, branco só querendo branco e gente de cor só querendo os da sua igualha — pois para que Deus os teria feito tão diferentes, se não fora para possibilitar as infinitas variedades das suas combinações?

O caso que vou contar é um exemplo: trata de dois feios e dois bonitos que se amavam cada um com o seu igual. E, se os dois bonitos se estimavam, os feios se amavam muito, quero dizer, o feio adorava a feira, como se ela é que fosse a linda. A feia, embalada com tanto amor, ficava numa ilusão de beleza e quase bela se sentia, porque na verdade a única coisa que nos torna bonitos aos nossos olhos é nos espelharmos nos olhos de quem nos ame.

Vocês já viram um vaqueiro encourado? É um traje extraordinariamente romântico e que, no corpo de um homem e delgado, faz milagres. É a espécie de réplica em couro de uma armadura de cavaleiro.

Dos pés à cabeça protege quem a veste, desde as chinelas de rosto fechado, e as perneiras muito justas ao relevo das pernas e das coxas, o guarda-peito colado ao torso, o gibão amplo que mais acentua a esbelteza do homem e por fim o chapéu que é quase a cópia exata do elmo de Mambrino. Aliás, falei que só assenta roupa de couro em homem magro e disse uma redundância, porque nunca vi vaqueiro gordo. Seria mesmo que um toureiro gordo, o que é impossível. Se o homem não for leve e enxuto de carnes, nunca poderá cortar caatinga atrás de boi, nem haverá cavalo daqui que o carregue.

Os dois heróis da minha história, tanto o feio como o bonito, eram vaqueiros do seu ofício. E as duas moças que eles amavam eram primas uma da outra — e apesar da diferença no grau de beleza, pareciam-se. Sendo que uma não digo que fosse a caricatura da outra, mas era, pelo menos, a sua edição mais grosseira. O rosto de índia, os olhos amendoados, a cor de azeitona rosada da bonita, repetidos na feia, lhe davam uma cara fugidia de bugra; tudo que na primeira era graça arisca na segunda se tornava feiúra sonsa.

De repente, não se sabe como, houve uma alteração. O bonito, inexplicavelmente, mudou. Deixou de procurar a sua bonita. Deu para rondar a casa da outra, a princípio fingindo um recado, depois nem mais esse cuidado ele tinha. Sabe-se lá o que vira. No fundo, talvez obedecesse àquela abençoada tendência que leva os homens bonitos em procura das suas contrárias; benza-os Deus por isso, senão o que seria de nós, as feiosas? Ou talvez fosse porque a bonita, conhecendo que o era, não fizesse força por sustentar o amor de ninguém. Enquanto a pobre da feia todos sabem como é — aquele costume do agrado e, com o uso da simpatia, descontar a ingratidão da natureza. E embora o seu feio fosse amante dedicado, quanto não invejaria a feia a beleza do outro, que a sua prima recebia como coisa tão natural, como o dia ser dia e a noite ser noite. Já a feia queria fazer o dia escuro e a noite clara — e o engraçado é que o conseguiu. Muito pode quem se esforça.

O feio logo sentiu a mudança e entendeu tudo. Passou a vigiar os dois. Se esta história fosse inventada poderia dizer que ele, se vendo traído, virou-se para a bonita e tudo se consertou. Mas na vida mesmo as pessoas não gostam de colaborar com a sorte. Fazem tudo para dificultar a solução dos problemas, que, às vezes, está na cara e elas não querem enxergar. Assim sendo, o feio ficou danado da vida, e nem se lembrou de procurar consolo junto da bonita desprezada; e esta, se sentindo de lado, interessou-se por um rapaz bodegueiro que não era bonito como o vaqueiro enganoso, mas tinha muito de seu e podia casar sem demora e sem condições.

Assim, ficaram em jogo só os três. O feio cada dia mais desesperado. A feia, essa andava nas nuvens, e toda vez que o "primo" (pois se tratavam de primos) lhe botava aqueles olhos verdes — eu falei que além de tudo ele ainda tinha os olhos verdes? — ela pensava que ia entrar de chão adentro, de tanta felicidade.

Mas o pior é que os dois vaqueiros ainda saíam todo o dia juntos para o campo, pois eram campeiros da mesma fazenda e se haviam habituado a trabalhar de parelha, como Cosme e Damião. Seria impossível se separarem sem que um dos dois partisse para longe, e, é claro, nenhum deles pretendia deixar o lugar vago ao outro.

Assim estava a intriga armada, quando a feia, certa noite, ao conversar na janela com o seu bonito que lá viera furtivo, colheu um cravo

desabrochado no craveiro plantado numa panela de barro e posto numa forquilha bem encostada à janela (era uma das partes dela, ter todos esses dengues de mulher bonita) e enquanto o moço cheirava o cravo, ela entrefechou os olhos e lhe disse baixinho:

— Você sabe que o outro já lhe jurou de morte? (Vejo que esta história está ficando muito comprida — só deixando o resto para a semana que vem.)


Falei que o desprezado jurara de matar o traidor. Seria verdade? Quem sabe as coisas que é capaz de inventar uma mulher feia improvisada em bonita pelo amor de dois homens, querendo que o seu amor renda os juros mais altos de paixão?

O belo moço assustou. Gente bonita está habituada a receber da vida tudo a bem dizer de graça, sem luta nem inimizade, como seu direito natural, que os demais devem graciosamente reconhecer. As mulheres o queriam, os homens lhe abriam caminho. E não é só em coisas de amor: de pequenino, o menino bonito se habitua a encontrar facilidades, basta fazer um beiço de choro ou baixar um olho penoso, todo o mundo se comove, pede uni beijo, dá o que ele quer. Já o feio chora sem graça, a gente acha que é manha, mais fácil dar-lhe uns cascudos do que lhe fazer o gosto. Assim é o mundo, e se está errado, quem o fez foi outro que não nos dá satisfações.

Pois o bonito assustou. Deu para olhar o outro de revés, ele que antes vivia tão confiado, como se adiasse que a obrigação do coitado era lhe ceder a menina e ainda tirar o chapéu. Passou a ver mal em tudo. De manhã, ao montar a cavalo, examinava a cilha e os loros, os quatro cascos do animal. Ele, que só usava um canivete quando ia assinar criação, comprou ostensivamente uma faca, afiou-a na beira do açude, e só a tirava do cós para dormir. E quando saía a campo com o companheiro, em vez de irem os dois lado a lado, segundo o costume, marchava atrás, dez braças aquém do cavalo do outro.

O feio não falava nada. Fazia que não enxergava as novidades do colega. Como sempre andara armado, não careceu comprar faca para fazer par com a peixeira nova do rival. E, sendo do seu natural taciturno, continuou calado e fechado consigo.

E o outro — nós mulheres estamos habituadas a pensar que todo homem valente é bonito, mas a recíproca raramente é verdade, e nem todo bonito é valente. Este nosso era medroso. Era medroso mas amava, o que o punha numa situação penosa. Não amasse, ia embora, o mundo é grande, os caminhos correm para lá e para cá. Agora, porém, só lhe restava amar e ter medo. Ou defender-se. Mas como? O rival não fazia nada, ficava só naquela ameaça silenciosa; as juras de morte que fizera — se as fizera — de juras não tinham passado ainda. Meu Deus, e ele não era homem de briga, já não disse? Tinha a certeza de que se provocasse aquele alma fechada, morria.

Bem, as juras eram verdadeiras. O feio jurara de morte o bonito e não só de boca para fora, na presença da amada, mas nas noites de insônia, no escuro do quarto, sozinho no ódio do seu coração. Levava horas pensando em como o mataria — picado de faca, furado de tiro, moído de cacete. Só conseguia dormir quando já estava com o cadáver defronte dos olhos, bonito e branco, ah, bonito não, pois, quando o matava em sonhos, a primeira coisa que fazia era estragar aquela cara de calunga de loiça, pondo-a de tal modo feia que até os bichos da cova tivessem nojo dela. Mas como fazer? Não poderia começar a brigar, matá-lo, sem quê nem mais. Hoje em dia justiça piorou muito, não há patrão que proteja cabra que faz uma morte, nem a fuga é fácil, com tanto telégrafo, avião, automóvel. E de que servia matar, tendo depois que penar na prisão? Assim, quem acabaria pagando o malfeito haveria de ser ele mesmo. O outro talvez fosse para o purgatório, morrendo sem confissão, mas era ele que ficava no inferno, na cadeia. Aí então teve a idéia de uma armadilha. Botar uma espingarda com um cordão no gatilho... quando ele fosse abrindo a porta. Não dava certo, todo o mundo descobriria o autor da espera. Atacá-lo no mato e contar que fora uma onça... Qual, cadê onça que atacasse vaqueiro em pleno dia? E a chifrada de um touro? Difícil, porque teria que apresentar o touro, na hora e no lugar... Lembrou-se então de um caso acontecido muitos anos atrás, quase no pátio da fazenda. O velho Miranda corria atrás de uma novilha, a bicha se meteu por sob um galho baixo de mulungu, o cavalo acompanhou a novilha, e em cima do cavalo ia o vaqueiro: o pau o apanhou bem no meio
da testa, lá nele, e quando o cavalo saiu da sombra do mulungu, o velho já era morto... Poderia preparar uma armadilha semelhante? Como induzir o rival?... Levou quatro dias de pesquisa disfarçada para descobrir um pau a jeito. Afinal achou um cumaru à beira de uma vereda, onde o gado passava para ir beber na lagoa. O cumaru estirava horizontalmente um braço a dois metros do chão, cobrindo a vereda logo depois que ela dava uma curva. A qualquer hora passariam de novo os dois por ali. E como só um passava pela vereda estreita, bastaria ele ficar atrás, apertar de repente o passo, meter o chicote no cavalo da frente; o outro, assustado com o disparo do cavalo, se descuidava do pau — e era um homem morto.


Mas não deu certo. Isto é, deu certo do começo ao fim — só faltou o fim do fim. Pois logo no dia seguinte se encaminharam pela vereda, perseguindo um novilhote. O bonito na frente, o feio atrás, como previsto. Quando chegaram à curva que virava em procura do cumaru, o de trás ergueu o relho, bateu uma tacada terrível na garupa do cavalo da frente, que já era espantado do seu natural, e o animal desembestou. Mas o instinto do vaqueiro salvou-o no último instante. Sentiu um aviso, ergueu os olhos, viu o pau, deitou-se em cima da sela e deixou o cumaru para trás. Logo adiante acabava a caatinga e começava o aceiro da lagoa. O bonito sofreou afinal o cavalo. Podia ser medroso, mas não era burro, e uma raiva tão grande tomou conta dele, que até lhe destruiu o medo no coração. Sem dizer palavra, tirou a corda do laço debaixo da capa da sela, e ficou a girar na mão o relho torcido, como se quisesse laçar o novilho que também parará várias braças além, e ficara a enfrentá-los de longe. O companheiro espantou-se: será que aquele idiota esperava laçar o boi, a tal distância? Claro que não entendera como andara perto da morte... Mas o laço, riscando o ar, cortou-lhe o pensamento: em vez de se dirigir à cabeça do novilho, vinha na sua direção, cobriu-o, apertou-se em redor dele, prendeu-lhe os braços ao corpo e, se retesando num arranco, atirou-o de cavalo abaixo. Num instante o outro já estava por cima dele, com um riso de fera na cara bonita.

— Pensou que me matava, seu cachorro... Açoitou o cavalo de propósito, crente que eu rebentava a cabeça no pau... Um ele nós dois linha de morrer, não era? Pois á assim mesmo... um de nós dois vai morrer. Enquanto falava, arquejando do esforço e da raiva, ia inquirindo na corda o homem aturdido da queda, fazendo dele um novelo de relho. Dai saiu para o mato, demorou-se um instante perdido entre as aves e voltou com o que queria — um galho de imburana da grossura do braço de um homem. Duas vezes malhou com o pau na testa do inimigo. Esperou um pouco para ver se o matara. E como lhe pareceu que o homem ainda tinha um resto de sopro, novamente bateu, sempre no mesmo lugar.

Chegou à fazenda, com o companheiro morto à sela do seu próprio cavalo, ele à garupa, segurando-o com o braço direito, abraçado como um irmão; com a mão esquerda puxava o cavalo sem cavaleiro.

Ninguém duvidou do acidente. Foi gente ao local, examinaram o galho assassino, estirado sobre a vereda como um pau de forca. Fincaram uma cruz no lugar.

E o bonito e a feia acabaram casando, pois o amor deles era sincero. Foram felizes. Ela nunca entendeu o que houvera, e remorso ele nunca teve, pois, como disse ap padre em confissão, matou para não morrer.

E a moral da história? A moral pode ser o velho ditado: faz o feio para o bonito comer. Ou então compõe-se um ditado novo: entre o feio e o bonito, agarre-se ao bonito. Deus traz os bonitos de baixo da Sua Mão.
 
 
Rachel de Queiroz


O texto acima foi publicado no livro “Um alpendre, uma rede, um açude”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, e extraída de "As cem melhores crônicas brasileiras", Ed. Objetiva - Rio de Janeiro, 2007, pág. 120. Organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.

Isso é o que podemos chamar de futebol ecologicamente correto



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"Animãos"








Pescado do face do Mário Ascenso
Reblogged from beverleyshiller
 
"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade."
 
 
O sorriso não é sempre "o melhor remédio", às vezes é apenas "o melhor disfarce".
 
 

Humor.

O cara estava bebendo num bar. Como era o último cliente, o funcionário informou-o que ele tinha de sair, pois iam fechar. O cara levantou-se e caiu no chão . . . Novamente, tentou levantar-se e caiu outra vez. Optou por arrastar-se até à porta do bar. Foi assim para casa . . . tentando levantar-se e caindo. No dia seguinte, pela manhã, a esposa comentou: - Puta porre ontem a noite, hein?! - O que!!! . . . como é que você sabe que eu cheguei bêbado? -Você deixou sua cadeira de rodas no bar....
 
 
Pescada da net

domingo, 23 de setembro de 2012


A pedido: Cordas de Aço (Gal Costa)


Supermãe

Mário de Andrade, em seu livro A Costela do Grão Cão, tem um poema que começa assim: “Existirem mães, /Isso é um caso sério. /Afirmam que a mãe /Atrapalha tudo, /É fato, ela prende /Os erros da gente, /E era bem melhor /Não existir mãe.” O poema segue, por aí afora, numa ascendente espiral de beleza, até a inigualável explosão final: “Oh virgens, perdei-vos, /Pra terdes direito /A essa virgindade /Que só as mães têm!”

Rubem Braga, numa crônica deliciosa de O Homem Rouco, dedicada ao Dia das Mães, conta a história de uma Mãe que, de repente, na praia, dá por falta do filho. Catastrófica, amputada, a Mãe hasteia o seu supergrito de desespero e horror: todo o mundo, siderado, põe-se a procurar o afogado, em rebuliço, em pânico, em convulsões e preces, até que o Joãozinho aparece lampeiro, com um sorvete na mão. A Mãe, com um tapa, quase derruba sorvete e filho — "menino desgraçado!" —, e a este, trombudo, humilhado, só resta o recurso de murmurar, entre dentes: "Mãe é chaata...".
Otto lara Resende, num conto chamado Mater Dolorosa, narra a desventura de um menino progressuivamente asfixiado pela longa - e incurável - doença da mãe. O sofrimento materno, à semelhança de um miasma em expansão, passou a impregnar todo o espaço doméstico, invadindo as salas, os móveis, o porão, o quintal, as gaiolas de passarinhos, e tudo o mais que existisse na casa. O menino, as criações, as próprias plantas começaram a morrer, confinados e apáticos, até que a morte da mater dolorosa, num cruel paradoxo, lhes trouxesse de novo o sol. a vida e a liberdade.
Mãe será chata mesmo? Parece que, por um lado, os depoimentos neste sentido convergem, numa quase unanimidade afirmativa. O próprio Ziraldo, em bilhete a mim enviado, a propósito de sua personagem, a Supermãe, dá a respeito um testemunho saboroso. Diz ele: “Na província; nós fomos criados jogando bola na rua e voltando pra casa, pra lavar os pés e dormir. Mãe era uma coisa boa e meio distante. Cheguei aqui, e era um tal de fazer amigo que tinha que voltar pra casa, por causa da mãe, que eu fiquei besta. Cunhei até uma frase para um deles: ‘A mãe é o maior inimigo do homem´".

O Ziraldo, como bom mineiro, não se compromete. Fala da mãe dos outros e das supermães alheias, no que, aliás, obra bem. De qualquer forma, a frase dele é uma jóia de humor e de intuição psicológica. Mãe é coisa de tal forma portentosa, e de tão subida força, que um pouco é preciso denegri-la, pichá-la, para poder perdê-la. O curioso e dramático, na dialética da relação mãe-filho, é que o filho, para poder ganhar-se, enquanto sujeito humano autônomo, dono do próprio nariz, precisa criar uma distância respeitável, que o separe da mãe. Isto significa que o filho, para ter a mãe, saudavelmente, necessita perdê-la. O mesmo ocorre com a figura materna, na sua relação com o filho. Ter o filho, enquanto pessoa, centrado na própria liberdade, é abrir mão dele, é consentir na sua existência, como inventor de caminhos.

Mãe e filho se perdem para ganhar-se, e se ganham perdendo-se. É esta a contradição geradora da inevitável ambivalência que caracteriza a relação de mãe e filho, nos dois sentidos. Há um luto e uma perda a elaborar, no diálogo entre ambos. Há o tempo que passa, e a nostalgia incurável que dele roreja — pois o tempo não volta nunca. Há, por fim, um progressivo e doloroso reconhecimento de imperfeições, perdas e danos: a mãe,. com o tempo, se torna menor, na medida que o filho cresce, até que mãe e filho passam a ser do mesmo tamanho — ambos se tornam maiores.

O velho Freud, que não me deixa mentir, tem por um lado uma visão idílica — e isto nele é raríssimo — da relação da mãe com o filho. Trata-se do único vínculo de amor em que o desprendimento, a generosidade e o altruísmo constituem a tônica da relação. Mas, por outro lado, o criador da psicanálise, com a sua cerrada — e sábia — mania de referir tudo e todas as coisas aos componentes da sexualidade, afirma que o filho, para a mulher, é o ressarcimento, ou a indenização, por ela exigidos, em virtude do fato de lhe faltar o pênis. Pela maternidade, a mulher consegue superar a invidia penis, fonte para ela segundo o supracitado Freud — de mortificantes sentimentos de inferioridade. O filho, inconscientemente, para a mãe, pode vir a representar a insígnia fálica que lhe falta. Ele será, então, pedaço e brinquedo narcísico da mãe, coisa e loisa dela, propriedade privada e inalienável, sem direito a uma vida própria.

Eis aí, a meu ver, o substrato psicológico a partir do qual a mãe viria a transformar-se em supermãe. Ziraldo, cartunista de gênio, conseguiu apreender a essência do problema, através do seu traço e das situações, universais,e cotidianas, fixadas pela personagem que criou. E espantoso como o artista, pela graça do seu talento, chega a resultados que o cientista só alcança depois de longa — e porfiada — capina. Supermãe, como o mostra Ziraldo, é mãe demais, dominadora e engolfadora, cuidadosa e fervorosa a ponto de transformar o filho num permanente afogado, do qual ela representa a salvação — ou o salva-vidas. Acontece, porém, que a supermãe, ao mesmo tempo que é salvação e salva-vidas, é também o oceano, o báratro profundo, mundão de água onde o filho submerge, por contraditório decreto daquela que o deu à luz.

É isso aí: a supermãe dá o filho à luz, isto é, ao pai, ao mundo, à cultura, aos outros e, ao mesmo tempo, quer reabsorvê-lo, aspirá-lo, reintegrá-lo na noite do seu ventre. A supermãe, na verdade, é servidora da noite, rainha da escuridão, e trabalha no sentido de uma dissolução das diferenças. Ela aspira à unidade, à fusão, ao esplendor espesso e escuro do que é completo e silencioso — esfinge de pedra.

Acontece que a supermãe, além do mais, corresponde ao mais profundo sonho que o coração humano é capaz de sonhar. Ou melhor: a supermãe corresponde ao desejo de um sono sem sonhos, onde possamos nos perder sem sequer termos notícia de que estamos perdidos. Neste sentido, a supermãe, do ponto de vista psicanalítico, representa em nós a pulsão de morte, a tentação que temos de abdicar de nós mesmos, num naufrágio que nos dissolva no grande oceano cósmico: “É doce morrer no mar”.

Nascemos prematurados, desequipados, numa inermidade enorme. Costumo dizer que o ser humano tem sempre mãe de menos, na medida que, ao ser dado à luz da realidade, não tem condições de suportá-la. A criança, nos seus primeiros tempos de vida, veste-se de mãe, cria para si, na fantasia, um agasalho de carne, onde se refugia - como num útero. Ela fica, desta forma, fundida à mãe — à supermãe! —, totalmente identificada a ela, num sono e num sonho em que recupera o paraíso perdido: “e que tudo o mais vá para o inferno” .

É assim, a partir desses primórdios, que nos acumpliciamos com a supermãe. No princípio, a exigimos, por questão de sobrevivência. Depois, não sabemos abrir mão dela. Por fim, não queremos abrir mão dela. Fruto do desejo da mãe e do filho, a supermãe é criação a dois, exclusiva e excludente. Haja pai, haja terceiro, haja luz e Logos, para resolver a parada.

Do contrário, estaremos fritos.



Hélio Pellegrino

Gol contra

Essa é uma história de um jogador que estreava no time de futebol. Quase na metade do primeiro tempo ele cometeu um erro absurdo: confundindo a cor das camisas de seus companheiros com a de um time adversário, contra a qual já tinha jogado havia pouco tempo, viu-se de repente em sua própria área e, driblando dois companheiros (o que não foi muito difícil), acabou chutando contra a própria meta e marcando um gol a favor do adversário. Foi uma estupefação geral.

No intervalo o treinador procurou levantar o ânimo abatido do time e disse: “O mesmo time que jogou o primeiro tempo vai jogar no segundo”. O jogador desastrado foi falar com treinador: “Não posso voltar ao campo, estou humilhado!”.

A resposta do treinador foi taxativa: “Você não pode mudar o que aconteceu no passado, nem eu. O que você pode mudar é o que vai fazer no futuro. O jogo está na metade. Volte ao campo e jogue os 45 minutos que faltam”.

Pense nisso!


Da Net

Da série "por um triz"


sábado, 22 de setembro de 2012

Paquera em mesa de bar



Para aqueles que um dia "já foram brasa"


O Corvo


Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
“É alguém”, fiquei a murmurar, “que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais”.


Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiava ver a noite finda, em vão a ler, buscava ainda
algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.


A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, de pávida arritmia, o coração veloz batia
e a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais”.


Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;
mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
assim de leve, em hora morta”. Escancarei então a porta:
escuridão, e nada mais.


Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,
sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”
Depois, silêncio e nada mais.


Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
mais forte o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
“É na janela”, penso então. “Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais”.


Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
- é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e, sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto – uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.


Ao ver da ave austera a soleníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” – então lhe digo –
“não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo,
qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
e que se chama: “Nunca mais!”.


Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
enquanto a mágoa me envenena: “Amigos... sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora”.
E disse o Corvo: “Nunca mais”.


Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
de seu cantor; do morto anelo, um epitáfio: o ritornelo
de ‘Nunca, nunca, nunca mais’ ”.


Como ainda ó Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais,
e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
grasnava sempre: “Nunca mais”.


Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada
dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente,
já não repousa, ah! nunca mais...


O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
ali descesse a esparzir turibulários celestiais.
“Mísero!”, exclamo. “Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus
esquecimentos, lá dos céus, para as saudades de Lenora.
Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


“Profeta!”, brado. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
e algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
mansão de horror, que o horror habita – imploro, dize-mo, em verdade:
EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


“Profeta!”, exclamo. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
Fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
Verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora.
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


"Seja isso a nossa despedida!”, ergo-me e grito, alma incendiada.
“Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só nesse ermo agreste! Alça teu vôo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!”
E o Corvo disse: “Nunca mais!”


E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma;
e, presa à sombra,não há de erguer-se, ai! nunca mais!


Edgard Allan Poe

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Frase

"A morte é uma das poucas coisas que podem ser feitas simplesmente....se deitando."
 

 (Woody Allen)
Chorar não resolve;
falar pouco é uma virtude;
aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoísmo.
Para qualquer escolha se segue alguma consequência;
vontades efêmeras não valem a pena;
quem faz uma vez,
não faz duas necessariamente,
mas quem faz dez,
com certeza faz onze.
Perdoar é nobre,
esquecer é quase impossível.
Quem te merece não te faz chorar;
quem gosta cuida;
o que está no passado tem motivos para não fazer parte do seu presente;
não é preciso perder para aprender a dar valor;
e os amigos ainda se contam nos dedos.
Aos poucos você percebe o que vale a pena,
o que se deve guardar para o resto da vida,
e o que nunca deveria ter entrado nela.
Não tem como esconder a verdade,
nem tem como enterrar o passado,
o tempo sempre vai ser o melhor remédio,
mas seus resultados nem sempre são imediatos.

Charles Chaplin.
Reblogged from daveinaz

Cresce onda de restrições religiosas no mundo

Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira observou uma "crescente onda de restrições à religião" na maior parte do mundo, entre 2009 e 2010. Segundo levantamento do Instituto Pew, dos EUA, a porcentagem de países com "altas ou muito altas" restrições às práticas religiosas aumentou de 31%, em meados de 2009, para 37%, em meados de 2010.
 
 
"Como alguns dos países mais restritos são populosos, 3/4 da população global vive em países com altas restrições governamentais à religião ou fortes hostilidades sociais envolvendo a religião", diz o levantamento.
 
 
BBC Brasil