'Va Pensiero' - Maestro Riccardo Muti, Ópera de Roma
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentava Nabucco, de Verdi, símbolo da unificação do país.
Silvio Berlusconi assistia à apresentação, dirigida pelo maestro Riccardo Muti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno – ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura.
Como Muti declararia ao TIME, houve, já de início, uma ovação incomum, clima que se transformou numa verdadeira 'noite de revolução' quando ele sentiu uma atmosfera de tensão aos primeiros acordes do Va pensiero.
"Há situações que não se pode descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino; clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o coro entoa – ‘Ó minha pátria, tão bela e perdida’."
Ao terminar o hino que é o hino extraoficial da Itália, os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público se manifesta com gritos de bis, viva Itália, viva Verdi.
Não é usual dar bis durante uma ópera. O maestro hesitou, como declarou depois: "não cabia um simples bis; tinha que haver um propósito específico".
Riccardo Muti então se voltou no púlpito, encarou o público e com ele o próprio Berlusconi. Fez-se silêncio. Reagindo a um grito de "longa vida à Itália", ele falou:
"Sim, concordo com longa vida à Itália mas ... [aplausos]. Não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas ao sentimento patriótico que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o coro que cantava ‘Ó meu pais, belo e perdido’, eu pensava que a continuarmos assim, mataremos a cultura sobre a qual se assenta a história da Itália.
Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente ‘bela e perdida’ (longos aplausos).
Reina aqui um ‘clima italiano’; eu, Muti, me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveríamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, no teatro da Capital, e com um coro que cantou magnificamente e foi belissimamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos."
Foi assim que Muti convidou o público a cantar o Coro dos Escravos. Os espectadores se levantaram. Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se levantou. Reparem no pranto dos artistas:
A grande alma do povo italiano tornou a vencer, como vimos neste dia 12 de novembro de 2011, oito meses depois dessa noite inesquecível em Roma.
Íntegra do blog do Ricardo Noblat
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