O ressentimento é um afeto de forte apelo dramático. Funciona bastante bem como elemento polarizador da ação, no cinema ou no teatro, e também para promover a identificação do espectador com alguns personagens vistos como vitimados pelas circunstâncias ou, principalmente, pelos outros.
O personagem ressentido – pensem em Tio Vânia de Tchekov, por exemplo – costuma angariar simpatias; suas queixas são repetitivas e fundamentadas, e se ele se coloca como "perdedor", ou como alguém que ficou para trás na dinâmica das relações sociais, isto se dá em razão de sua pureza moral, em sua inabilidade para jogar o jogo das conveniências e das aparências.
O ressentido é, por um lado, um que vê a si mesmo como moralmente melhor do que os outros – por outro lado, e por isto mesmo, é um vingativo justificado, coberto de razões.
Maria Rita Kehl: Desejo e Liberdade – A Estética do Ressentimento.
In Giovanna Bartucci (org.). Psicanálise, Cinema e Estéticas de
Subjetivação. Rio de Janeiro
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