Estou há anos procurando uma cozinheira de mão-cheia. Uma Dona Flor, mas que não precisa ter o corpo da Sônia Braga - precisa é cozinhar mesmo. Fazer aquela grande e vasta comida brasileira. E se ainda souber fazer comida baiana, melhor ainda. Um bom mal-assado, uma feijoada como se come lá nas festas do terreiro do Gantois.
Não precisa saber cozinha francesa e italiana. Porque a cidade já dispõe de grandes restaurantes para isso.
Precisa, sim, de leitão a pururuca, de sequilhinhos, de um belo bolo de laranja. Tendo mão e alma boa, não precisa nem ter gênio bom. Basta ser divina. Como a cozinheira da grande estilista Lenny Niemeyer, que faz todos os domingos o melhor almoço do Brasil.
Escrevo este artigo porque acredito muito na força mobilizadora da mídia impressa, dos jornais que todos os dias entram na nossa casa cedinho gritando as notícias em silêncio.
Escrevo também para lembrar que os primeiros anúncios publicitários feitos neste país foram de coisas triviais como vender um burro, achar um cão perdido ou buscar uma cozinheira.
O peixe que um anúncio vende pode ser vender um carro, um perfume, recrutar uma cozinheira, mas anúncios são feitos para vender o peixe.
Os melhores anúncios são aqueles que se não se esquecem disso.
Que não se esquecem de que a propaganda foi feita para chamar a atenção da pessoa, para reter o leitor, o telespectador. Como você já está lendo este texto por alguns parágrafos, é sinal de que estou sendo bem-sucedido nessa função.
O título "Procura-se uma grande cozinheira" é chamativo. Porque é inesperado. Sobretudo no caderno Mercado da Folha.
Títulos têm de ser inesperados, senão ninguém lê anúncio. E as pessoas, como você bem sabe, não nasceram para ler anúncios.
A chamada é verdadeira. Não é propaganda enganosa. Porque preciso de fato de uma cozinheira.
É verdade que a quituteira que procuro talvez não leia este caderno. Mas a Folha é o jornal mais lido em todo o país e certamente deve ter alguém entre seus leitores que pode conhecer a minha prenda.
Estamos chegando ao final do ano, ao período de Natal, as pessoas estão imbuídas do espírito natalino e podem fazer essa boa ação para um ex-gordo como eu.
Portanto, se você conhece uma grande cozinheira, mande um e-mail para nizan@africa.com.br. É óbvio que preciso de referências. Melhor ainda se forem de gourmets ou gordos, de pessoas de colesterol e acido úrico altos.
A razão do meu desespero por uma cozinheira é fruto do bom momento econômico do Brasil.
Como em qualquer país que se preze, graças a Deus não é mais fácil encontrar empregados domésticos no nosso prezado país.
As pessoas querem ter seu próprio negócio, abraçar profissões "mais nobres". E isso é ótimo para elas e para o país.
É uma mudança transformadora, que nos impacta das melhores maneiras possíveis, mas também nos coloca na desesperadora e cafajeste situação de desejar a cozinheira do próximo.
Peço aos leitores que sejam solidários comigo e aos jovens redatores de propaganda que lembrem o que o grande guru da propaganda David Ogilvy me ensinou: propaganda é para vender.
Ela tem de ser sedutora, confiável e vendedora como um bom corretor de imóvel. Seja o anúncio de um celular, seja o anúncio procurando uma cozinheira, ele tem de ter impacto, eficiência e graça.
Se não entretém, não chama a atenção e não vende, não é boa propaganda. Propaganda tem de ter molho e sal. E ser feito por gente que tem boa mão.
Espero que este artigo-anúncio classificado atinja seus objetivos. E que graças à força da Folha e de santo Expedito eu encontre a minha tão sonhada cozinheira.
Aliás, cozinheira anda tão difícil que hoje a gente não pede mais para santo Expedito, a gente pede é para santo Antônio.
Texto de NIZAN GUANAES
Na Folha
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