O tampo da cabeça do feiticeiro voou longe como se fosse uma
rolha de garrafa atirada pela pressão, levando com ele um monte de
miolos e sangue. O corpo do desgraçado caiu batendo na lama,
endoidecido, derramando o resto de cérebro na água barrenta da chuva.
Marcolino nunca errara um tiro de rifle daquela distância e acertou na
mosca, derrubando o fechador de corpos diante do olhar espantado dos
soldados sob sua proteção.
Olhar de espanto que
de logo foi transformado em medo, terror e desespero com a chuva de
chumbo quente derramada sobre eles dos dois lados da estrada. Parecia
que o inferno tinha subido das profundas e chegado a Água Branca com
todos os seus diabos e assessores. Soldado caía morto feito manga madura
caindo do pé. O tenente Agripino não teve nem tempo para dar ordens aos
comandados, porque morreu abraçado ao feiticeiro. E também morreram
sargentos, cabos e soldados. No meio do tiroteio, uma explosão
ensurdecedora estremeceu o chão e fez subir para o céu um tutano de
fumaça de mil chaminés. Era o caminhão de balas e bombas que acabava de
ser destruído pelos cabras de Marcolino, levando para o espaço as
esperanças de vitória da tropa do Governo.
A
mortandade foi grande. O caminhão que explodiu transportava nove
soldados, sendo todos eles encontrados despedaçados mais tarde, quando
se fez a contagem dos estragos da luta. O segundo caminhão, carregado
de charque, farinha, feijão e gasolina, ficou parado numa ribanceira
porque o chofer, um sargento que o comandava e três soldados morreram
nos primeiros tiros. Esse caminhão foi de logo incendiado pelos homens
de Zé Pereira.
Dos 12 caminhões que compunham a
expedição, cinco foram incendiados, quatro saíram em disparada para a
fronteira de Pernambuco e os três últimos, que formavam a rabeira da
expedição, recuaram rumo a Teixeira, conseguindo escapar.
Cessado
o tiroteio, os homens de José Pereira deram batidas no mato e
encontraram inúmeros soldados mortos e feridos, que foram abandonados,
entre eles o médico da coluna que estava todo rasgado e tremendo que só
vara verde. Marcolino encorajou-o, tratou dele e quando viu que estava
em condições de andar, mandou-o de volta aos seus companheiros em
Teixeira.
Nessa emboscada morreram 70 soldados e
60 ficaram feridos. Do lado de Zé Pereira, um saiu ferido e dois
desapareceram. A emboscada ainda rendeu a apreensão de 72 fuzis e 20 mil
balas.
Marcolino voltava com a vitória e os
despojos de guerra para Princesa, mas deparou-se com uma força policial
que vinha em socorro dos emboscados. O encontro se deu próximo a Fazenda
Glória e houve tiroteio, onde morreram quatro cabras do coronel e 13 da
polícia. Dali Marcolino finalmente regressou a Princesa, levando na
bagagem nove prisioneiros, entre eles um cabo.(do meu livro “A Guerra de
Princesa.”
Tião Lucena
Do blog do Tião
Nenhum comentário:
Postar um comentário