quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Versículos do dia

E exultarei em Jerusalém, e me alegrarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Isaías 65:19

E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Romanos 8:17

Frase

O peixe apodrece pela cabeça. Níveis altos de corrupção são definidos no topo.

Graham Brooks, professor de Anticorrupção e Criminologia da University of West London
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.  

Sobre livros não lidos e como falar sobre eles, por Umberto Eco

Lembro-me vagamente de um magnífico artigo de Giorgio Manganelli, explicando como um leitor sofisticado pode saber se um livro vale a pena ser lido, mesmo antes de abri-lo. Ele não estava se referindo à capacidade muitas vezes requerida a um leitor profissional, ou a um leitor afiado e criterioso. Não estava se referindo àqueles que podem julgar um livro a partir de uma linha de abertura, de duas páginas, de uma olhada aleatória do índice ou muitas vezes da bibliografia. Isso é simplesmente experiência. Não, Manganelli estava falando sobre uma espécie de iluminação, de um dom que evidentemente alegava ter.

Em How to Talk About Books You Haven’t Read (de Pierre Bayard, psicanalista e professor de literatura) é explicado como você pode falar sobre um livro que você não leu, até mesmo para seus alunos, inclusive quando se trata de um livro de extraordinária importância. Seu cálculo é científico. As boas bibliotecas contêm vários milhões de livros: mesmo que se leia um por dia, leríamos apenas 365 livros por ano, cerca de 3.600 em dez anos, e entre as idades de dez e oitenta anos nós teremos lido apenas 25.550. É pouco. Por outro lado, qualquer italiano que tenha tido uma boa educação secundária sabe perfeitamente que pode participar de uma discussão, digamos, sobre Matteo Bandello, Francesco Guicciardini, Matteo Boiardo, sobre as tragédias de Vittorio Alfieri ou sobre as Confissões de um Italiano, de Ippolito Nievo, conhecendo apenas o nome e algo sobre o contexto crítico, sem ter lido uma palavra deles.

E o contexto crítico é o ponto crucial de Bayard. Ele declara desavergonhadamente que ele nunca leu Ulysses de James Joyce, mas que pode falar sobre isso aludindo ao fato de que é baseado na Odisseia, que ele também admite nunca ter lido na íntegra. Ulysses também é baseado em um monólogo interno, com a ação se desenrolando em Dublin durante um único dia, etc. “Como resultado”, ele escreve, “muitas vezes me encontro falando sobre Joyce sem a menor ansiedade”. Conhecer o relacionamento de um livro com outros livros geralmente significa que você sabe mais sobre o livro do que se tivesse lido a obra.

Bayard mostra como nós, quando lemos certos livros percebemos que estamos familiarizados com seus conteúdos porque eles foram lidos por outros que falaram sobre eles. Ele faz algumas observações extremamente divertidas sobre uma série de textos literários que se referem a livros nunca lidos, incluindo Robert Musil, Graham Greene, Paul Valéry, Anatole France e David Lodge. E ele me faz a honra de dedicar um capítulo inteiro ao meu O Nome da Rosa, onde William de Baskerville demonstra familiaridade com o segundo livro da Poética de Aristóteles no momento em que o segura nas mãos pela primeira vez. Ele faz isso pela simples razão de que ele infere o que diz a partir de algumas outras páginas de Aristóteles.

Um aspecto intrigante do livro de Bayard, que é menos paradoxal do que parece, é que também esquecemos uma porcentagem muito grande dos livros que realmente lemos e, de fato, nós construímos uma espécie de imagem virtual deles que não consiste tanto no que dizem, mas no que eles evocaram em nossa mente. Então, se alguém que não tenha lido um livro cita passagens ou situações inexistentes, estamos prontos a acreditar que estão no livro.

Bayard se interessa pela ideia — e aqui é a voz do psicanalista em vez do professor de literatura — de que toda leitura ou não-leitura ou leitura imperfeita têm aspectos criativos e que, enfim, os leitores fazem sua parte. E ele prevê a criação de uma escola onde os estudantes “inventam” livros que não precisam ler, já que falar de livros não lidos é um meio de autoconsciência.

Bayard demonstra como, quando alguém fala sobre um livro não lido, mesmo aqueles que leram o livro não percebem os erros. No final de sua obra, ele admite ter apresentado três falsas informações em seus resumos de O Nome da Rosa, O Terceiro Homem, de Graham Greene e Changing Places de David Lodge. O divertido é que, quando li os resumos, notei imediatamente o erro em relação a Graham Greene, fiquei em dúvida sobre Lodge, mas não percebi o erro em meu próprio livro. Isso provavelmente significa que eu não li atentamente o que Bayard escreveu, que eu simplesmente espreitei o texto. Mas o mais interessante é que Bayard não percebeu que, ao admitir seus três erros intencionais, assumiu implicitamente que uma maneira de ler é mais correta do que outras, tanto que ele foi obrigado a fazer um estudo meticuloso dos livros que cita para poder sustentar sua teoria sobre não lê-los. A contradição é tão evidente que faz pensar se Bayard realmente leu o livro que escreveu.

Extraído de Crônicas de uma Sociedade Líquida por Umberto Eco, traduzido do italiano para o inglês por Richard Dixon.

Umberto Eco era um romancista italiano, crítico literário, filósofo, semiótico e professor universitário.

Do Blog do Milton Ribeiro 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Neste momento, penso em você e então quisera me transformar em vento.
E se assim fosse, chegaria agora como brisa fresca e tocaria leve sua janela.
E se você me escuta e me permite entrar, em você vou me enroscar quase sem o tocar.
Vou roçar nos seus cabelos, soprar mansinho no ouvido, beijar sua boca macia, o embalar no meu carinho
Mas eu não sou vento... Agora sou só pensamento e estou pensando em você.
E se abrir sua janela, eu estou chegando aí, agora...
neste momento, em pensamento... no vento.

Roberto Shinyashiki
Na infinita privacidade de um táxi em movimento, meu passageiro confessou-se preocupado. Prestes a levar sua nova namorada pra cama, na hora dos finalmentes, não sabe qual será a reação da moça ao notar o "problema" na sua perna - levantando a bainha da calça, revelou a tornozeleira eletrônica, nada discreta, nada sensual.

O amor e seus desafios.

 


Mauro Castro

O que não fazer num livro para jovens

Assim como tem gente que muda o tom de voz quando vai falar com alguém mais novo (coisa que os “alguéns mais novos” em geral detestam, porque veem como sinal de falsidade), muitos escritores mudam o tom da escrita quando trabalham num livro dirigido a crianças, ou a esse leitor que modernamente vem sendo classificado como “jovem adulto” (“young adult”, na língua da matriz).

Esse tom paternalista na escrita pode se manifestar de várias maneiras, em duas direções básicas.

Na primeira, o autor sobe num pedestal e fala de cima para baixo com o leitor, como se quisesse reafirmar sua autoridade e sua hierarquia de mais velho: “Olha aqui, presta atenção, vou te explicar tudo...”

Na segunda, o autor resolve falar de igual para igual com o hipotético leitor-jovem, imitando o que ele considera serem os trejeitos verbais e mentais do seu público – mas o máximo que consegue é parecer um sujeito de 50 anos trajando bermudão e boné virado pra trás.

Vai daí, resolvi enumerar alguns exemplos.

O PATERNALISMO CONSTRANGEDOR
Se o seu leitor é jovem, não importa de que idade (suponho sempre um leitor já capaz de sentar sozinho com um texto e decifrá-lo em silêncio, sem ajuda) evite tratá-lo como se ele fosse meio burrinho. Não escreva algo como: “Naquela noite, os nossos heróis tiveram que dormir ao ar livre, embaixo da intempérie. Palavrinha difícil essa, não? Intempérie quer dizer tempo ruim, chuvoso.”

Esses comentários didáticos, piscando o olho para o público, têm a intenção de aumentar a cumplicidade e a proximidade entre o Autor e o Leitor, mas pra mim têm o efeito contrário. Acabam fazendo o Leitor achar que está sendo considerado burrinho, que não sabe o significado de uma palavra, e que o Autor é forçado a interromper a narrativa para passar a mão na cabecinha dele diante de toda a turma, como fazem alguns professores, e dizer: “Ora, ora, garotos, não riam do Fulaninho. Ele não sabia a palavra, mas agora entendeu, e não vai mais esquecer, não é, Fulaninho?”

Agora me diga qual é o leitor que gosta disso.

DESCRIÇÃO DE EMOÇÕES
Como o Autor adulto imagina que os jovens não percebem sutilezas emocionais, ele acha que a emoção deve ser descrita de forma caricatural. E a toda hora fica usando expressões como “com os olhos fuzilando de ódio”, “espumando de raiva”, “com o rosto contorcido de fúria”.

A descrição de emoções  passa por vários estágios. O primeiro estágio é o da descrição abstrata: “Ao ouvir isso, João ficou furioso”. É uma mera informação, sem nenhum indício concreto. Depois o escritor aprende que é melhor dar alguma pista; risca a frase anterior e escreve: “Ao ouvir isto, João teve um sobressalto, ficou com o rosto vermelho, ofegante, soltou um palavrão e deu um chute na cadeira mais próxima.”  Esta é uma maneira concreta (mesmo que rudimentar) de dizer que o cara “ficou furioso” sem recorrer ao adjetivo.

O problema é que todas essas descrições de segundo nível acabam se transformando em clichê. Há até mesmo autores que brincam o tempo todo com os próprios clichês, como Nelson Rodrigues, que vivia repetindo: “com o olho rútilo e o lábio trêmulo”.

Como, então, descrever as emoções dos personagens sem recorrer aos meros adjetivos, e aos clichês descritivos?  Não sei. Escrever é descobrir essas coisas.


DIÁLOGOS CARICATURAIS
Brigas em que as pessoas se insultam enquanto trocam socos! Isso é um defeito mais frequente dos quadrinhos do que nos livros, mas está presente nos dois.

Das brigas que já presenciei ao vivo, me ficou uma lembrança sonora de grunhidos, arquejos, um certo rugido de fundo de garganta, um ou outro palavrão truncado, mas diálogo mesmo teve muito pouco.

Quando você está engalfinhado com alguém, numa briga pra valer, não fica dizendo (como nos quadrinhos), “você agora vai ver uma coisa, seu verme maldito”, “não pense que tenho medo de você, grandão” ou o clássico “tome isto, isto e mais isto!”. E por incrível que pareça eu vejo brigas narradas assim até em livros para adultos.

Sou especialista em brigas? Nem de longe, nunca briguei com ninguém. Mas já vi muita briga a poucos metros de distância, e estou falando em briga séria, entre adultos doidos para arrebentar um ao outro de verdade, e tenho boa memória. Só quem briga pronunciando frases de efeito é o Batman.


LINGUAGEM AFETIVA ABESTADA
Usar diminutivos o tempo inteiro. Não sei se é preconceito, mas eu vejo muito isso em livros infantis com personagens femininas. A garota não tem um cachorro, tem um cachorrinho; ela não está lendo um livro, está lendo um livrinho; ao se recolher ela não vai dormir em sua cama, mas em sua caminha. Esse cacoete de linguagem afetiva fica irritante bem depressa.

E não é porque eu sou homem e velho; quem eu vejo se queixando disso são garotas que leem.


DECISÕES MORAIS
Os adultos pensam que vivem num mundo psicologicamente complexo e profundo, e que os jovens vivem num mundo psicologicamente simples e raso. Eu diria que frequentemente é o contrário. Adultos vivem num mundo onde, bem ou mal, já aprenderam a se comportar; os jovens estão aprendendo às custas de tentativas e erros, e aprendendo em público, à vista de todo mundo.

Cory Doctorow (revista Locus, julho de 2008) afirma:

Escrever para leitores jovens é algo entusiasmante. Um autor de livros para “jovens adultos” me disse: “A adolescência é uma série de decisões corajosas e irreversíveis.”

Num dia, você é alguém que nunca disse uma mentira com consequências graves; no dia seguinte, você acabou de fazê-lo, e nunca mais vai poder voltar atrás. Num dia, você é alguém que nunca teve uma atitude nobre para ajudar um amigo; no dia seguinte você o fez, e isso também não pode ser desfeito.

É de estranhar que os jovens experimentem suas amizades de maneira tão intensa quanto companheiros de campo de batalha? É de estranhar que as partes do nosso cérebro que governam a avaliação do perigo não estejam plenamente desenvolvidas até a idade adulta? Quem correria riscos tão corajosamente, quem enfrentaria tais dilemas existenciais, se tivesse um sistema de avaliação de riscos maduro, e em pleno funcionamento?

Os jovens vivem num mundo que se caracteriza por uma dramaticidade intensa. Isso é o sonho de um autor criador de enredos. Quando você percebe que seus personagens vivem nesse estado de consequências cruciais, cada virada do enredo adquire um impulso e uma importância que fazem o leitor não parar de virar as páginas.

Escreveremos melhor, para os jovens, se compreendermos que eles vivem a fase mais cheia de riscos da vida inteira, quando tudo que tem importância crucial está acontecendo pela primeira vez. E talvez o que aconteça nessa vez determine tudo o que virá depois.
 
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo 

Faça o que é certo

Durante a temporada de 2002, Paul tinha o que chamava de “um time que só se vê uma vez na vida inteira”. Já tinham o recorde de dez partidas invictas, e estavam a caminho de conquistar o primeiro campeonato estadual juvenil.

Paul estava vivendo um sonho de todo treinador. Foi então que, certa noite, dezesseis de seus jogadores, todos menores de idade, foram presos por uso de bebida alcoólica durante uma festa. Neste grupo estava o próprio filho de Paul. O treinador já havia alertado os atletas de que, caso fossem envolvidos em algum tipo de encrenca relacionada com álcool, cigarro ou drogas, ele os suspenderia do time. Havia uma decisão a ser tomada.

Paul suspendeu os jogadores. “Pode-se resumir a questão a uma palavra: responsabilidade”, explicou. “Vocês quebraram as regras.” Ele disse ao filho, enquanto o tirava da cadeia: “Você cometeu um grande erro, é tudo o que eu posso dizer. Não vou deixar de amá-lo jamais, mas você precisa aprender alguma coisa com o que aconteceu”.

No dia do grande jogo, vestiram o uniforme e sentaram no banco só para incentivar os colegas que estavam no campo.  E os reservas ganharam o jogo para o treinador ético? Seguiram em frente com o sonho de se sagrar campeões estaduais? Nada disso! O time perdeu de 63 a 0. Mas Paul não se arrepende nem um pouco de sua decisão. Anos antes, ele recebera varias ligações de pessoas comunicando que algum amigo ou conhecido havia morrido por dirigir alcoolizado.

Fazer o que é certo vale mais do que o aplauso da multidão...

Prof. Menegatti

terça-feira, 28 de novembro de 2017


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Humor

O bêbado atravessa a rua com o farol fechado
e um carro passa e buzina "BIBI"...
O bêbado olha para o carro e diz:
"EU TAMBÉM BIBI E MUITO..."

A mulher e a moda

Desde a infância sempre gostei muito das mulheres. Meus “melhores amigos” sempre foram mulheres. Quando me iniciei nas crônicas semanais o primeiro foco foram os direitos da mulher no Jornal de Agá, onde escrevi sobre o tema por muitos anos, ainda antes de virar moda defender o sexo feminino. Lembro bem que cheguei a desafiar o então Presidente Collor que humilhava publicamente sua então esposa Rosane.

Tudo isso para dizer que leio bastante sobre elas. Por isso entendo muito mais de moda feminina do que a maioria das mulheres que conheço, em grande parte vítimas de fabricantes e comerciantes gananciosos. Meu conhecimento vai ao ponto de diferenciar um spencer de um bolero, identificar um tafetá chamalote nacarado e saber se uma bolsa é legitima ou 25 de março, somente olhando o fecho.
É triste ver belas mulheres usando algo que claramente deforma seu corpo somente porque está na moda. Pior ainda é saber que muitas delas sacrificam o orçamento para comprar uma bolsa ou um sapato mais caro só para mostrar às amigas, porque tenham certeza que os homens nem prestam atenção.

Com relação ao que está na moda, geralmente é tudo tão horroroso que tem que mudar a cada seis meses. Eu mesmo tenho um termômetro para a moda; quando estou me acostumando aos absurdos, sei que já é hora de a moda mudar. Coco Chanel teve uma sacada genial sobre o tema. Ela disse que enquanto a moda passa, o estilo permanece. Dia desses viajamos com Costanza Pascolato até São Paulo e deu para ver que a elegância não se compra em etiquetas caras.

Mas na bilionária indústria da moda as vítimas nunca aprendem. Uma obesa vai sempre ser convencida a comprar o vestido que a modelo magérrima está anunciando, talvez pensando que já se faz fotoshop nos corpos humanos. Infelizmente as mulheres tem dois desejos básicos irreconciliáveis; comer bem e emagrecer.

E tem bronca. Uma amiga de Mãe Leca soube desse meu conhecimento de moda e foi dizer a ela que o marido conhecer de moda é uma coisa boa, mas se ele começar a usar a roupa da esposa isso será uma coisa ruim. E será péssimo se a roupa ficar melhor nele do que nela.

Varei!!!!!

Marcos Pires 
Do blog do Tião

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.


Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.

Edgar Allan Poe

Frase

Saudade é um sentimento que, quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.

Bob Marley

domingo, 26 de novembro de 2017


Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

Cecília Meireles

Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...

Augusto dos Anjos
A persistência é o caminho do êxito
.
Charles Chaplin
Apesar de todos os medos, escolho a ousadia.Apesar dos ferros, construo a dura liberdade.

Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança.
Eu, (..........), sou assim.

Pelo menos assim quero fazer: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper.

A máscara do Arlequim não serve apenas para o proteger quando espreita a vida, mas concede-lhe o espaço de a reinventar.

Desculpem, mas preciso lhes dizer:

EU quero o delírio.

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

Dúvida de Português



Pergunta
Professora Piacentini,
Qual a diferença entre adaptação gráfica e aportuguesamento propriamente dito de uma palavra de outro idioma (citar exemplos)?
Muito obrigado!


Resposta
Entendo que não há diferença entre os termos, pois o aportuguesamento passa por uma adaptação gráfica, como por exemplo \"ticket\" > tuete.

Atenciosamente,
Profa. Maria Tereza



O Autor da Pergunta é o amigo Adauto Neto 

Linchamentos atuais são parte de uma economia de mercado e marketing digital



Não creio na boa-fé da maioria que se diz indignada com frases infelizes que soam racistas ou atitudes suspeitas de assédio sexual.

O que move a maioria esmagadora dos "indignados" nas redes sociais e fora delas é o gosto de sangue. Não há nenhum senso de justiça ultrajado aqui, mas, sim, o mero gosto da humilhação das vítimas "culpadas". O simples gosto pelo linchamento. Se os "movimentos progressistas" não tivessem eles mesmos virado um "mercado de impacto", gerando milhões de dólares, (quase) ninguém estaria nem aí pra vítimas de racismo ou sexismo. A própria luta da Inglaterra contra a escravidão foi um business em si.

Essa constatação em nada retira do combate às misérias humanas o seu justo valor, mas nos ajuda a entender, de uma forma mais "sociobiológica", o gosto pelo linchamento de pessoas de grande sucesso e competência como William Waack e Kevin Spacey. O sucesso envenena a alma do rebanho. A inveja move a turba "indignada". O ressentimento é seu café da manhã cotidiano. O ódio, seu afeto primário. A irrelevância, seu estado natural. Sua ética é fake. "Fake ethics".

Não acho que a histeria ao redor desses dois casos (e outros) seja fruto de avanço moral e político da humanidade. Linchar pessoas, que não podem se defender, exerce sobre nós a mesma força de atração que a luz exerce sobre mariposas ou insetos em geral. As redes sociais são apenas o caldo de cultura de bactérias em que a fúria animal humana por sangue se manifesta.

Olhemos de mais perto esse enxame. Mas, antes, um reparo. Se você considera um desses dois casos "culpado" e, por isso mesmo, "merecedor da punição coletiva", cuidado! Nunca deixe se levar por esse gosto de sangue travestido de "justiça". Principalmente se você for uma pessoa de sucesso e pública, um dia você poderá ser a próxima vítima de linchamento.
Não existe relativização de valor de linchamentos. Ou são condenados a priori ou são justificáveis de acordo com a vontade do freguês. E você poderá ser a próxima vítima do freguês.

Você se lembra que, anos atrás, quando ladrões foram linchados nas ruas do Brasil, muitos criticaram (com razão) esses linchadores de rua, e uma jornalista, que aparentemente defendeu os linchadores, foi ela mesma linchada nas redes sociais?

Pois bem. É interessante perceber que há uma semelhança ideológica entre o grupo que defendia (com razão) os ladrões vítimas de linchamento e o grupo que agora adere (sem razão) ao linchamento de Waack.

Por que ladrões não devem ser (e não devem ser mesmo) linchados na rua, mas um jornalista essencial para o Brasil deve ser linchado nas redes sociais (e quem sabe nas ruas)? Por que é injusto linchar ladrões, mas é "progressista" linchar alguém como Waack? Simples: porque todo linchador é um canalha. Não há regra, só o gosto do sangue que ele quer beber.

A tese segundo a qual jornalistas devem ser "santos" se alimenta de hipocrisia tanto quanto a tese segundo a qual santos devem ser santinhos.

O politicamente correto destruiu qualquer possibilidade de reflexão minimamente honesta sobre virtudes na vida pública contemporânea. Essa discussão está morta. O politicamente correto criou o "fake ethics". A presunção de "retidão política" implica a prática da mentira pública. A democracia é, essencialmente, idiota em sua pretensão de ser politicamente correta.

A reação imediata da Globo é paradigmática: todos temem a turba. Pior: ela, a Globo mesma, é um celeiro de inteligentinhos que adoram linchamentos. Linchamentos, hoje, são parte da economia de mercado. Uma sub-área do marketing digital.

No caso de Kevin Spacey, vemos a já identificada tendência contemporânea em "gozar" mais com a histeria relacionada ao tema do assédio sexual do que gozar, de fato, com a penetração sexual física. À medida que os jovens deixam de fazer sexo, mais obcecados ficam com o tema do assédio sexual. Por trás do linchamento público de Kevin Spacey esconde-se o crescente ódio ao sexo real.

A proibição de manifestar desejo sexual real será logo cláusula pétrea da Constituição e da ONU.

LUIZ FELIPE PONDÉ (FOLHA ONLINE)