"Bruzundangas" é um substantivo feminino que pode significar
"palavreado confuso, mistura de coisas imprestáveis, mixórdia,
trapalhada, embrulhada".
A FLIP 2017 ( Festa Literária Internacional de Paraty, deste ano) termina hoje. O homenageado foi Lima Barreto,
escritor afro-brasileiro e mestre da ficção de escárnio.
Em seu livro póstumo "Os Bruzundangas",
publicado em 1923, com uma coletânea de crônicas onde a percepção aguda
e crítica não deixa passar nada. Fala da arte de
furtar, de nepotismos desenfreados, de favorecimentos e privilégios.
Fala da
sociedade, das eleições, de religião, dos literatos e da imprensa que
são causticamente abordados e servem de pano de fundo para a
construção de sua obra literária.
Satiriza
uma fictícia nação onde ele
mesmo teria residido. Seus capítulos enfocam, entre outros temas, a
diplomacia, a Constituição, transações e propinas, os políticos e
eleições em Bruzundanga. Critica os privilégios da nobreza, o poder das
oligarquias rurais, a futilidade das sanguessugas do erário,
desigualdades, saúde e educação tratadas com desdém, enfim, mazelas
parecidas às de um país real. Ao lê-lo, tem-se impressão de que o
escritor retrata o Brasil dos dias atuais. E aí fica a dúvida: Lima
Barreto foi um visionário? ou o país continua patinando desde sempre. O
governo Temer é a síntese da definição de Bruzundangas: "palavreado
confuso, mistura de coisas imprestáveis, mixórdia, trapalhada,
embrulhada."
Eduardo P. Lunardelli
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