Prisão. Eis o que define nosso Velho. Hank – como era conhecido – não
era um exemplo, nem fazia questão de ser. Nunca foi um escritor
convencional, nem haveria como ser. Sua poesia, sem métrica e
rudimentar, irritava os críticos da época. Tais opositores a chamavam de
amadora e suja. A prosa, por sua vez, também não fugiu das duras
críticas. Os temas escolhidos por Bukowski não agradavam a nata da
intelectualidade estadunidense. Tudo bem, ele os odiava. Assim como
odiava a quase todos em sua volta. Odiava até a si.
Buk
jamais foi um exemplo de pessoa. Por alguma razão, nasceu sem
compreender o jogo social. Aquele contrato invisível que fazemos ao
nascer em uma sociedade organizada: Sorria para os desconhecidos, ajude
os idosos, faça sua doação anual para a igreja mais próxima, seja
simpático em uma reunião de família. Quase todos nós fazemos tais coisas
sem ao menos nos darmos conta. Buk não fazia. Xingava todo esse jogo,
todas as pessoas, todos os contratos. Bebia toda sua existência.
Afogava-se na sociedade e em todas suas hipocrisias. Tragava cada dor
que sentia e não eram poucas.
Seus romances, sua maior
contribuição para o mundo literário, são um espelho de sua alma. Henry
Chinaski é seu alter ego. A criação de Henry é uma tentativa de
esconder-se em uma fresta de ficção em suas obras. Bukowski está nu em
suas histórias. É si escrevendo em cima de um alter ego. São seis
romances e mais de 10 coletâneas de poesias, tudo sobre seu universo.
Corridas de cavalos, prostitutas, bares e bebidas são os seus
protagonistas. Amor, vazio e hipocrisia da sociedade norte americana são
os seus temas. Nada em Buk foge disso.
A fascinação que o
escritor gerou nos jovens da época pode ser explicada por esse caminho.
Buk não fugia de si. Coisas que os intelectuais, em nenhum lugar do
mundo, nunca foram muito bons em fazer. O poeta mostrou para uma geração
que não adianta fugir dos seus monstros pessoais, eles sempre te
perseguem. Por isso conseguiu, ainda em vida, sucesso em sua carreira
literária. Um pouco tarde, é verdade, Bukowski trabalhou por mais de
vinte anos no correio de sua cidade para manter-se, antes de,
finalmente, explodir como escritor.
Nada de excessos ou longas
descrições pomposas, Buk era avesso a tais mesquinharias da linguagem.
Era seco, direto, como a vida. Seu mais célebre romance teve sua
primeira edição publicada em 1978, Woman (Mulheres), é mais um flash da
vida do poeta Henry Chinaski, mas, dessa vez, as protagonistas são as
mulheres de Henry. Todas juntas, são mais de quinze, formam uma só. São
personagens distintas, cada uma com características, visões de mundo,
fisionomias diferentes. Entretanto, a junção de tais personagens é a
personificação de uma coisa: o fracasso do ato de amar. Tudo que Henry
vive no romance é para mostrar, não importa quem você seja, não importa
quem esteja do seu lado, o amor sempre fracassa. Vocês sempre vão perder
quando o assunto for amar. Seja ficando com o mesmo parceiro o resto da
vida ou trocando como se troca de camisetas. Essa é a mensagem que o
velho deixa para nós.
Seu pessimismo tem uma influência direta da
obra de Fiódor Dostoiévski, suas angústias se assemelham ao do escritor
russo. Sua raiva e agressividade são facilmente, compreendidos em suas
histórias. Buk as escrevia, na maioria das vezes, ébrio. A cada linha
que escrevia vivia um pouco mais. Sentia-se um pouco mais leve. Grita
com o leitor, desabafa sua existência. Não prática a auto censura, jorra
seus pensamentos na folha de papel em branco. O filósofo e crítico
literário Jean Paul Sartre disse que Bukowski é o maior poeta da
América. O que, francamente deixaria Buk incomodado. Ao mal dizer a vida
o escritor não queria ser compreendido, só queria livrar-se de sua
existência.
Isso aqui não é um texto em sua homenagem, situações
como essa deixariam nosso velho safado desolado de tão triste. Isso é
uma ode. Viva Bukowski e sua crueza ao nos contar sobre a vida.
Danilo Brandão
Fonte: Genialmente louco
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