Foto de René Escalante
Como são belas as mulheres solitárias.
Irmãs das coisas escondidas,
há sempre nelas uma caça esquiva,
uma gazela.
Relicários rebuscados de mistérios,
sopro aprisionado em cata-vento
girando hastes de ferro,
o frio da noite pressentem
e no orgulho se fecham.
Resistem, pequeninas, ao cerco dos mais fortes.
Por ser de guerra o tempo em que se movem,
tempo de inocências e camélias perfumadas,
que é flor não existida ou perdida noutros tempos,
enterram em terra secreta: relógios, cartas, degredos,
peixes e cinco segredos,
cascas, feridas, ungüentos.
Amam sempre, como o vento ao trigo.
Mas porque conhecem todos os caminhos,
os pés atentos, as mãos contidas,
amam simples.
E, de repente, se agitam,
secam as saias de tule,
roçam anáguas de renda,
ásperas canas maduras,
e, preparando a colheita,
antes da foice, incendeiam.
De Ana Mariano in Ver O Poema
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