Será que a grafia
“smartfone”, que já vejo sendo usada por aí, vai substituir “smartphone”, o
termo original em inglês? A tendência natural da
nossa língua, ao assimilar palavras estrangeiras, é escrever da maneira que se
pronuncia: futebol, gol, chofer, etc. Uma partícula escrita com
intenção de pronúncia inglesa atrapalha o usuário, está pedindo para ser mudada.
Temos aí um ponto de inflexão, algo que está assumindo uma forma que, por algum
motivo, tende a não se fixar, a ser substituída por alguma outra. Aquilo que o
I-Ching chama de linhas instáveis ou mutantes, pequenos detalhes que estão a
ponto de se transformar noutra coisa.
Daí que eu prefira escrever “websaite” e não “website”, e já expliquei esta opção num artigo recente (http://tinyurl.com/nh6nno8). Me parece que trocar um “ph” por um “f” é muito mais simples, uma transição quase imperceptível, ajudada aliás pela nossa reação subliminar de considerar as coisas escritas com “ph” como antiquadas. Imagino quanto tempo levará para a língua brasileira a eliminar esse “ph” de “photoshop” e adotar de vez a grafia “fotoshop” (na qual “s” seria mantido para evitar a confusão com “chope”, a bebida.).
É bom lembrar que as letras K, W e Y foram (ao que me consta) recuperadas para nossa língua por uma dessas reformas ortográficas recentes. Não creio que a partícula “web”, por exemplo, venha a ser substituída por “ueb” ou “uébi”, como querem alguns usuários. Creio que o “w” em casos assim tende a se fixar. Por outro lado, as grafias que induzem a pronúncias erradas deveriam ser substituídas, daí que eu prefira escrever draive, pendraive, saite, etc. (Mas nem sempre cola – os implacáveis revisores restituem a forma anterior com fervor inquisitorial.)
E o que fazer com “iPhone”? Esse “i” minúsculo que se pronuncia “ái” é uma marca visualmente muito característica; na verdade considero esta uma palavra composta mas sem hífen, a junção sendo assinalada pela manutenção da inicial maiúscula no segundo termo. Pode ser que um dia digamos (com coerência acústica) “aifone”, ou, por escrito, “aiFone”, mas duvido. Esse “ai”, que soa como uma queixa ou lamento (ao invés de induzir o individualista “Eu” do termo em inglês), não vai pegar facilmente em português.
A lógica sugere que “wi-fi”
seja um dia trocado por “uai-fai”, mas não sei se teremos essa ousadia coletiva.
“Uai”, que sugere interjeição mineira, corre o risco de introduzir um ruído,
desviar a atenção do leitor e fazê-lo ter uma primeira interpretação errada da
palavra. Como o “w” está se reincorporando ao alfabeto, o termo poderia virar
“wai-fai”. Isso cola? Que o tempo o diga.
Braulio Tavares
www.mundofantasmo.blogspot.com.br
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