Na verdade, para a minha geração, a Internet é um complemento precioso, mas não mais do que um complemento. Há uns meses, tive que identificar um milhar de títulos franceses de filmes negros, a maioria americanos, a partir de um livro italiano. Sem o recurso a alguns sites de cinema italianos, nunca teria conseguido. Já para não dizer que nesses sites encontrei informações atualizadas e que ainda não constam dos livros sobre o mesmo tema da minha biblioteca, que remontam, pela força das coisas editoriais, ao que se sabia há três ou quatro anos. Como benefício de uma formação classicamente fundada no livro, tenho do instrumento Internet uma visão particular. Mas o que acontecerá às gerações que hão-de crescer com ela? Não sei se será melhor ou pior; sei que será diferente. Eu sirvo-me desajeitadamente destes instrumentos, mas eles fazem parte de um esquema específico e preestabelecido. (Do mesmo modo, tendo aprendido a fazer contas na época da tabuada e do cálculo mental, sou menos dependente da calculadora e também… menos rápido). Já Robert Musil dizia que “todo o progresso traz consigo uma regressão". A História mostra que nunca escapamos ao progresso útil.»
[Jacqes Bonnet, Bibliotecas Cheias de Fantasmas; trad. José Mário Silva, Quetzal / textos breves, Outubro 2010]
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