O adolescente infrator é muito mais vítima do que autor da violência, embora na imprensa apareça uma impressão diferente. As notícias publicadas não reportam a problemática geradora dessa violência.
A conclusão é dos professores Ronaldo César Henn, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e da psicóloga Carmen de Oliveira, pesquisadora da Pós-Graduação de Ciências da Saúde, da mesma instituição.
Carmen e Ronaldo pesquisaram como a violência juvenil aparece na imprensa. Para tanto, ativeram-se aos jornais Correio do Povo e Zero Hora, ambos de Porto Alegre, analisando as edições de janeiro a abril de 2001.
"As estatísticas mostram que para cada adolescente que pratica um homicídio temos quase cinco adolescentes que morrem vítimas de homicídio", arrolou a professora Carmen em entrevista ao IHU-Online, do Instituto Humanitas, da Unisinos.
Nas notícias sobre violência juvenil analisadas nos dois jornais gaúchos, os pesquisadores constataram que em 80% a 90% dos casos as fontes citadas eram policiais, e grande parte das notícias ficava restrita ao boletim de ocorrência, sem incorrer em investigação.
"E os homicídios dos quais o jovem é vítima aparecem apenas como notas. Muitas vezes, elas não são nem identificadas, são pessoas sem rosto, sem referências", disse Ronaldo na entrevista ao IHU-Online.
A "cara" desse jovem apontado como violento segue uma certa estereotipia, explicou Ronaldo. Ele "é um menino de rua, um jovem de periferia, na faixa etária de 16 a 18 anos, que já teve passagem pela polícia".
As mortes, prosseguiu Ronaldo na sua análise, "são noticiadas como fatos isolados, não são conectados com a questão mais ampla da grande violência, da qual o jovem é a vítima central". As notícias, acrescentou, não vão à problemática central, "como se não existisse uma engrenagem produzindo esse tipo de comportamento, esse tipo de sintoma social".
Para a professora Carmen de Oliveira, os delitos praticados pelos jovens servem como "atalhos de reconhecimento social", numa sociedade em que esse jovem tem baixa escolaridade.
"Ele tem poucas chances de ingressar num mercado de trabalho cada vez mais seletivo e, ao mesmo tempo, há muitos apelos de consumo colocados a esse consumidor jovem, a exemplo das roupas de grife, que são verdadeiras senhas de reconhecimento no campo social", definiu.
Também entrevistado pelo IHU-Online, o sociólogo Rodrigo de Azevedo, pesquisador do grupo de pesquisa Violência e Cidadania, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), definiu o perfil mais encontrado na criminalidade em Porto Alegre:
"A maioria das vítimas dos homicídios se situa entre 15 e 25 anos de idade. Esse fenômeno é nacional" e envolve o sexo masculino. "Nessa faixa etária existe uma relação com o problema do tráfico de drogas. Criminosos que atuam na periferia dos grandes centros têm uma grande capacidade de atração dessa juventude que se encontra com dificuldades de ingresso no mercado de trabalho e vêem também, nessas organizações, uma possibilidade de obtenção de reconhecimento e status", descreveu.
Azevedo concorda com Carmen quanto ao significado social dessa violência. "A violência vai aparecer, muitas vezes, como uma tentativa quase desesperada de colocar as suas demandas no espaço público, já que ela é um meio e não um fim. Esse meio é utilizado especialmente em situações que caracterizam nossa sociedade com uma grande exclusão social", afirmou.
Segundo o pesquisador da UFRGS, "a crise no ambiente doméstico e o insucesso na escola vão encaminhando o jovem à criminalidade". Ele disse que a violência sempre esteve presente na realidade brasileira, em todos os tempos.
Mas agora há uma diferença. No passado, a violência estava vinculada à hierarquia da sociedade, "vinha de cima para baixo. Ela se expressava numa forma de dominação historicamente adotada em relação a negros, a índios, no ambiente doméstico, a relação do homem com a mulher e os filhos, então havia uma certa naturalização dessa violência, porque ela estava vinculada ao poder".
Agora, ela mudou de sentido: vem de baixo para cima. "Ela começa a aparecer no meio desses setores sociais excluídos para colocar suas demandas no estrato público", também porque ela é uma maneira extremamente eficaz, de repercussão midiática, apontou.
A conclusão é dos professores Ronaldo César Henn, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e da psicóloga Carmen de Oliveira, pesquisadora da Pós-Graduação de Ciências da Saúde, da mesma instituição.
Carmen e Ronaldo pesquisaram como a violência juvenil aparece na imprensa. Para tanto, ativeram-se aos jornais Correio do Povo e Zero Hora, ambos de Porto Alegre, analisando as edições de janeiro a abril de 2001.
"As estatísticas mostram que para cada adolescente que pratica um homicídio temos quase cinco adolescentes que morrem vítimas de homicídio", arrolou a professora Carmen em entrevista ao IHU-Online, do Instituto Humanitas, da Unisinos.
Nas notícias sobre violência juvenil analisadas nos dois jornais gaúchos, os pesquisadores constataram que em 80% a 90% dos casos as fontes citadas eram policiais, e grande parte das notícias ficava restrita ao boletim de ocorrência, sem incorrer em investigação.
"E os homicídios dos quais o jovem é vítima aparecem apenas como notas. Muitas vezes, elas não são nem identificadas, são pessoas sem rosto, sem referências", disse Ronaldo na entrevista ao IHU-Online.
A "cara" desse jovem apontado como violento segue uma certa estereotipia, explicou Ronaldo. Ele "é um menino de rua, um jovem de periferia, na faixa etária de 16 a 18 anos, que já teve passagem pela polícia".
As mortes, prosseguiu Ronaldo na sua análise, "são noticiadas como fatos isolados, não são conectados com a questão mais ampla da grande violência, da qual o jovem é a vítima central". As notícias, acrescentou, não vão à problemática central, "como se não existisse uma engrenagem produzindo esse tipo de comportamento, esse tipo de sintoma social".
Para a professora Carmen de Oliveira, os delitos praticados pelos jovens servem como "atalhos de reconhecimento social", numa sociedade em que esse jovem tem baixa escolaridade.
"Ele tem poucas chances de ingressar num mercado de trabalho cada vez mais seletivo e, ao mesmo tempo, há muitos apelos de consumo colocados a esse consumidor jovem, a exemplo das roupas de grife, que são verdadeiras senhas de reconhecimento no campo social", definiu.
Também entrevistado pelo IHU-Online, o sociólogo Rodrigo de Azevedo, pesquisador do grupo de pesquisa Violência e Cidadania, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), definiu o perfil mais encontrado na criminalidade em Porto Alegre:
"A maioria das vítimas dos homicídios se situa entre 15 e 25 anos de idade. Esse fenômeno é nacional" e envolve o sexo masculino. "Nessa faixa etária existe uma relação com o problema do tráfico de drogas. Criminosos que atuam na periferia dos grandes centros têm uma grande capacidade de atração dessa juventude que se encontra com dificuldades de ingresso no mercado de trabalho e vêem também, nessas organizações, uma possibilidade de obtenção de reconhecimento e status", descreveu.
Azevedo concorda com Carmen quanto ao significado social dessa violência. "A violência vai aparecer, muitas vezes, como uma tentativa quase desesperada de colocar as suas demandas no espaço público, já que ela é um meio e não um fim. Esse meio é utilizado especialmente em situações que caracterizam nossa sociedade com uma grande exclusão social", afirmou.
Segundo o pesquisador da UFRGS, "a crise no ambiente doméstico e o insucesso na escola vão encaminhando o jovem à criminalidade". Ele disse que a violência sempre esteve presente na realidade brasileira, em todos os tempos.
Mas agora há uma diferença. No passado, a violência estava vinculada à hierarquia da sociedade, "vinha de cima para baixo. Ela se expressava numa forma de dominação historicamente adotada em relação a negros, a índios, no ambiente doméstico, a relação do homem com a mulher e os filhos, então havia uma certa naturalização dessa violência, porque ela estava vinculada ao poder".
Agora, ela mudou de sentido: vem de baixo para cima. "Ela começa a aparecer no meio desses setores sociais excluídos para colocar suas demandas no estrato público", também porque ela é uma maneira extremamente eficaz, de repercussão midiática, apontou.
2 comentários:
É, possa ser que o quadro se inverta e passe a ver a sociedade, também a mais um "sintoma social", como diz o pesquisador, sobre as vítimas que estão nas ruas envolvidas com drogas e esquecidas, pela mídia e embalsamados pelo ato de quem pratica o homicídio. Mas, como mostra o texto, o negócio agora esta de "baixo para cima" e não de "cima para baixo", possa ser que a solução esteja numa das entidades ou mesmo, o nível se agrave ainda mais mostrando ser fácil, ou mais visto as outras camadas em geral, para que esses jorvens excluidos da Escola e amontoados em vícios, sejam abordados de forma humana por todos e como um problema a mais a ser enfrentado, debatido pelos ógãos sociais.
COM UMA FOTO DESSAS O QUE EU POSSO DIZER ??? EU APOSTO QUE AQUELE CARA QUE VEM LÁ ATRÁS, DE PALETÓ, VAI PASSAR POR ELE E NÃO TÁ NEM AÍ...O PIOR DE TUDO ISSO É A AUSÊNCIA TOTAL DO ESTADO QUE DEVERIA TER UMA EQUIPE DE APOIO PARA SAIR RECOLHENDO DAS RUAS PESSOAS NESSA SITUAÇÃO,POIS, SE NÃO FOR ASSIM; PARA QUE SERVE O ESTADO ? ONDE ESTÁ AS ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS, AS RELIGIÕES...O AMOR...
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