Quando eu era pequeno, tinha um vizinho idoso chamado Dr. Gibbs Ele não se parecia com qualquer outro médico que eu tivesse já conhecido. Todas as vezes que o via, estava metido em macacões de brim e usava um chapéu de palha cuja aba era de plástico verde. Sorria muito – um sorriso que combinava bom com o chapéu: velho, enrugado e muito usado. Nunca brigava conosco por brincarmos em seu quintal. Lembro-me dele como uma pessoa muito mais amável do que justificavam as circunstâncias. Quando não estava salvando vidas, o Dr. Gibbs plantava árvores. Sua casa ficava no meio de um terreno de 40 mil metros quadrados de terra, e o grande objetivo de sua vida era transformá-lo numa floresta.
O bom médico tinha teorias interessantes sobre o cultivo de plantas. Ele era discípulo da seguinte escola de horticultura: “Sem sofrimento, não há crescimento”. Nunca regava as árvores novas, o que não combinava com a sabedoria convencional. Certa vez, eu lhe perguntei por que agia assim. Ele disse que, se regasse as plantas, as deixaria mimadas e que, dessa maneira, cada geração seguinte seria mais e mais fraca. Para o Dr. Gibbs, era preciso dificultar as coisas para eliminar as mais fracas desde o início.
Ele dizia que regar uma árvore gerava raízes superficiais. Já as árvores que não eram regadas desenvolviam raízes profundas que buscavam a umidade da terra. Imaginei que, com isso, ele quisesse dizer que raízes profundas deveriam ser valorizadas.
O médico, portanto, jamais regava suas árvores. Plantava um carvalho e, em vez de regá-lo todas as manhãs, surrava-o com um jornal enrolado. Shlept! Poft! Pou! Perguntei-lhe por que fazia aquilo e ele respondeu que era para chamar a atenção da árvore.
O Dr. Gibbs morreu uns dois anos depois que eu deixei a casa de meus pais. De vez em quando, passo por sua casa e olho as árvores que o vi plantar há vinte anos. Hoje são fortes como granito. Grandes e robustas. Essas árvores acordam toda manhã, batem no peito e bebem café amargo.
Plantei duas árvores há alguns anos. Levei água para elas durante o verão inteiro. Borrifei-as. Orei junto a elas. Fiz de tudo. Dois anos de tantos mimos resultaram em árvores que esperam ser servidas como rainhas. Quando um vento frio sopra, eles tremem e estalam os galhos. Mas que arvorezinhas mais frescas!
Há algo de engraçado nas árvores do Dr. Gibbs. A adversidade e a privação parecem, realmente, ter feito enorme bem a elas. Creio que de uma maneira que o conforto e a comodidade jamais teriam conseguido.
Todas as noites, vou ao quarto de meus filhos para ver como estão. Fico de pé, ao lado das camas, e observo seus corpinhos, a vida a subir e descer dentro deles ao ritmo de suas respirações. Sempre oro por eles. Na maioria das vezes, peço para que suas vidas sejam tranqüilas: “Senhor, poupe-os das dificuldades.” Mas, ultimamente, tenho pensado que talvez esteja na hora de mudar a minha prece.
Isso tem a ver com a inevitabilidade dos ventos frios que nos atingem lá na essência. Eu sei que, como todos nós, meus filhos também enfrentarão dificuldades. E orar para que isso não aconteça parece ingenuidade minha. Sempre haverá um vento frio soprando de algum lugar.
Por isso, vou mudar minha prece noturna. Porque a vida é dura, quer a gente queira ou não. Vou passar a orar para que as raízes de meus filhos sejam profundas, para que possam encontrar forças nas fontes ocultas do eterno Deus. É comum rezarmos para que a vida seja fácil, mas essas preces raramente são atendidas. O que devemos fazer é pedir a Deus por raízes que se estendam até a Eternidade, para que, quando as chuvas caírem e os ventos soprarem, não sejamos arrasados para longe.
Philip Gulley
(Criando raízes, ed. Sextante)
O bom médico tinha teorias interessantes sobre o cultivo de plantas. Ele era discípulo da seguinte escola de horticultura: “Sem sofrimento, não há crescimento”. Nunca regava as árvores novas, o que não combinava com a sabedoria convencional. Certa vez, eu lhe perguntei por que agia assim. Ele disse que, se regasse as plantas, as deixaria mimadas e que, dessa maneira, cada geração seguinte seria mais e mais fraca. Para o Dr. Gibbs, era preciso dificultar as coisas para eliminar as mais fracas desde o início.
Ele dizia que regar uma árvore gerava raízes superficiais. Já as árvores que não eram regadas desenvolviam raízes profundas que buscavam a umidade da terra. Imaginei que, com isso, ele quisesse dizer que raízes profundas deveriam ser valorizadas.
O médico, portanto, jamais regava suas árvores. Plantava um carvalho e, em vez de regá-lo todas as manhãs, surrava-o com um jornal enrolado. Shlept! Poft! Pou! Perguntei-lhe por que fazia aquilo e ele respondeu que era para chamar a atenção da árvore.
O Dr. Gibbs morreu uns dois anos depois que eu deixei a casa de meus pais. De vez em quando, passo por sua casa e olho as árvores que o vi plantar há vinte anos. Hoje são fortes como granito. Grandes e robustas. Essas árvores acordam toda manhã, batem no peito e bebem café amargo.
Plantei duas árvores há alguns anos. Levei água para elas durante o verão inteiro. Borrifei-as. Orei junto a elas. Fiz de tudo. Dois anos de tantos mimos resultaram em árvores que esperam ser servidas como rainhas. Quando um vento frio sopra, eles tremem e estalam os galhos. Mas que arvorezinhas mais frescas!
Há algo de engraçado nas árvores do Dr. Gibbs. A adversidade e a privação parecem, realmente, ter feito enorme bem a elas. Creio que de uma maneira que o conforto e a comodidade jamais teriam conseguido.
Todas as noites, vou ao quarto de meus filhos para ver como estão. Fico de pé, ao lado das camas, e observo seus corpinhos, a vida a subir e descer dentro deles ao ritmo de suas respirações. Sempre oro por eles. Na maioria das vezes, peço para que suas vidas sejam tranqüilas: “Senhor, poupe-os das dificuldades.” Mas, ultimamente, tenho pensado que talvez esteja na hora de mudar a minha prece.
Isso tem a ver com a inevitabilidade dos ventos frios que nos atingem lá na essência. Eu sei que, como todos nós, meus filhos também enfrentarão dificuldades. E orar para que isso não aconteça parece ingenuidade minha. Sempre haverá um vento frio soprando de algum lugar.
Por isso, vou mudar minha prece noturna. Porque a vida é dura, quer a gente queira ou não. Vou passar a orar para que as raízes de meus filhos sejam profundas, para que possam encontrar forças nas fontes ocultas do eterno Deus. É comum rezarmos para que a vida seja fácil, mas essas preces raramente são atendidas. O que devemos fazer é pedir a Deus por raízes que se estendam até a Eternidade, para que, quando as chuvas caírem e os ventos soprarem, não sejamos arrasados para longe.
Philip Gulley
(Criando raízes, ed. Sextante)
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