Dágua o fluido lençol, onde em áscuas cintila
O sol, que no cristal argênteo se refrata,
Crepitando na pedra, a cuja borda oscila,
Cai, gemendo e cantando, ao fundo da cascata.
Parece a grave queixa, atroando em torno a mata,
Contar não sei que mágoa inconsolada, e a ouvi-la
A alma se nos escapa e vai perder-se abstrata
Na avassalante paz da solidão tranqüila…
Às vezes, a tremer na fraga faiscante,
Passa uma folha verde, e sobre a veia ondeante
Abandona-se toda, ansiosa pelo mar…
E vendo-a mergulhar na espuma que a sacode,
Não sei que íntimo e vago anseio ali me acode
De cair como a folha e deixar-me levar…
Manuel Bandeira
O sol, que no cristal argênteo se refrata,
Crepitando na pedra, a cuja borda oscila,
Cai, gemendo e cantando, ao fundo da cascata.
Parece a grave queixa, atroando em torno a mata,
Contar não sei que mágoa inconsolada, e a ouvi-la
A alma se nos escapa e vai perder-se abstrata
Na avassalante paz da solidão tranqüila…
Às vezes, a tremer na fraga faiscante,
Passa uma folha verde, e sobre a veia ondeante
Abandona-se toda, ansiosa pelo mar…
E vendo-a mergulhar na espuma que a sacode,
Não sei que íntimo e vago anseio ali me acode
De cair como a folha e deixar-me levar…
Manuel Bandeira
Um comentário:
Belíssimo soneto!
Manuel é o Manuel Bandeira por ele próprio.
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