domingo, 7 de junho de 2009

Dona Lourdes: uma senhora que marcou profundamente minha vida


Buscando referência na emoção eis que surgem reminiscências de uma senhora que marcou profundamente fases importantes de minha vida, pois sua imagem permanece intacta em minha retina, não exigindo esforços incomensuráveis para lembrar-me de aspectos físicos e psicológicos que lhe caracterizou de forma impressionante.

Chamava-se Benigna Lourdes de Sousa, primogênita do casal Ana benigno de Sousa – Filemon Estevão de Sousa, nascida em Pombal no longínquo dia quatro de outubro de 1901, início do século XX, tendo falecido em João Pessoa no dia 21 de abril de 1995.

Era verdadeiro repositório de informações valiosas sobre a história social sertaneja, principalmente do município de Pombal, tendo em vista que foi expectadora atenta de grandes momentos.

Lembrava-se do fim da primeira guerra, quando os pombalenses comemoravam o término do conflito e a família chorava aflita a perda do chefe da casa, bem como inúmeros episódios da história do sertão, como o audacioso ataque cangaceiro do dia 27 de julho de 1924 à vizinha cidade de Sousa.

Ela me contava que assistiu à chegada dos carros-de-bois lotados de gente que fugia da sanha assassina dos oitenta e quatro homens comandados por Chico Pereira, Levino Ferreira, Antônio Ferreira, Chico Lopes, Paizinho e Sabino Gório.

Certa vez indaguei a velha senhora sobre o famoso cangaceiro da fazenda Jacu, localizada em Nazarezinho. Ela me narrou lances impressionantes de amizade ao esposo de Jardelina Nóbrega, contando da afeição que todos nutriam por Chico Pereira.

Varava noites ouvindo as histórias fantásticas contadas por dona Lourdes, pois sempre me interessei pela memória dos mais velhos. Defendo com intransigência a necessidade da criação de setor que preserve o que os mais velhos podem nos transmitir, como em Israel, onde pessoas idosas desencarnam mas suas memórias ficam arquivadas.

Trabalho louvável foi coordenado pelo filho caçula de dona Lourdes, de nome Ignácio Tavares de Araújo, realizado um ano antes do falecimento da bondosa matriarca, cujos depoimentos foram gravados pelo cineasta José Bezerra Filho e hoje se constituem referência para a história do sertão, sobretudo para a da cidade de Pombal.

Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, dona Lourdes se desdobrava em mil para dar conta de todos os afazeres que lhe era atribuído pela Paróquia, sobretudo quando das festas pombalenses.

Saía pela zona rural em busca de galinhas, patos, guinés e perus que seriam preparados cuidadosamente para serem servidos nas quermesses, intuindo apurar dinheiro para melhor desempenho das atividades sociais da igreja.

Foram inúmeros párocos que contaram com os serviços da dedicada zeladora do Apostolado da Oração. Ela tinha especiais recordações do Monsenhor Vicente de Freitas e Padre Oriel Fernandes.

Em muitas conversas, dona Lourdes me contava da verdadeira afeição que esses religiosos nutriam pela missão que abraçaram, não obstante destacar trabalhos realizados por outros.

Dona Lourdes era referência quando o assunto eram guloseimas que produzia, como biscoitos, doces, sequilhos e inúmeras outras iguarias. Tinha predileção especial pelo inigualável bolo de batata que ela fazia em forno a lenha.

Como assinalou brilhantemente o filho caçula em documentário por título “Dona Lourdes: Mãe de todos os filhos”, a velha e saudosa matriarca tinha o toque de Midas para fazer o bem, pois sempre pensou nisto, nunca desviou suas virtudes Divinas em nenhum momento, tendo cumprido magistralmente sua missão de fazer o bem sem olhar a quem, razão pela qual, com toda e absoluta certeza, és especial aos olhos de Deus em recanto sublime do Paraíso.


José Romero Araújo Cardoso, com muito orgulho, neto de dona Lourdes

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