Hoje é um daqueles dias em que você acha que todas as forças, até as da natureza, estão inevitavelmente contra você. Algo assim como um levante de tropas inimigas contra a sua posição entrincheirada na vida. E, de repente, você se vê cercado em todas as suas posições, convicções e entendimento. Um dia sinistro.
Não costumo levantar-me da cama muito cedo, mas no horário suficiente de minhas obrigações e hoje não foi diferente. Incomum mesmo foi a visita que recebi no intervalo do banho para o café. Um senhor alto, magro, de feições aquilinas, chapéu de massa preto e portando uma maleta 007 acudiu-me os ouvidos com as suas palmas e lá fui eu atendê-lo.
Logo da ante-sala desconfiei ser um desses vendedores oferecendo-me mais uma dessas tantas coisas que eu não preciso. Acertei em parte. Tão logo abri a porta o visitante cuidou de se esparramar-se em uma das preguiçosas postas no canto do terraço e já foi cuidando de oferecer-me, aquelas horas da manhã, o que chamou de plano de salvação, um plano de morte. Se ao menos fosse um plano de saúde mas não, era de morte mesmo. O crachá pendurado no pescoço não deixava dúvidas e alertava-me para o nome e a empresa que o visitante prestava serviços, lia-se: Delfunto Passos, “Funerária vai com Deus”.
Eram sete horas da manhã e eu começava a desconfiar que estavam especulando com a vida dos outros, no caso, a minha, obviamente.
E não deu outra, apesar de minha insistência em adiantar-lhe nada estar precisando adquirir no momento, o vendedor permaneceu enfático, olhando-me de ponta a cabeça como a querer mensurar a medida do ataúde, cercando-me com aquela velha conversa do homem prevenido, com aquela história de que a gente não sabe o dia de amanhã, enfim, aquele papo típico de todo aquele que quer, ao seu preço, enfiar de goela abaixo o seu produto. O certo é que para me ver livre de vez daquele intruso assenti em ouvir, ao menos o que uma funerária tinha a me oferecer as sete horas da manhã de uma segunda-feira.
Era, de fato, um plano de morte! A venda de um esquife e seus acessórios. Isso mesmo: um plano de morte mas com implicações na vida porque Vivo, liquidaria o plano “Vai com Deus” em leves e suaves prestações, morto, teria a promessa de ir para debaixo de sete palmos de terra num confortável caixão conversível, todo trabalhado em madeira de boa qualidade, acolchoado, com pegadores externos em bronze, e ainda um vidro na tampa do caixão medindo 15 x 07cm posto na altura da face do De’cujus e com o luxo de conter proteção UVA/UVB. O plano dava direito a missa e de brinde ainda prometia deixar comigo, para onde quer que eu fosse (leia-se céu ou inferno), um travesseiro, um par de meias e dois sapatos pretos.
Claro que o serviço seria posto a minha disposição já nas primeiras horas do falecimento. No velório, muitas flores, uma ladainha de meia em meia hora a qual eu poderia escolher em vida e ainda seis mulheres contratadas especificamente para chorarem o defunto, da noticia do falecimento até a última pá de terra em minha cara. Quanto mais alto o choro mais caro o plano, admoestou-me o Sr. Delfunto Passos. Mais garantiu-me, de qualquer jeito, ser uma lamentação só, com muita gente e um bom acompanhamento. Um enterro de gente importante, prometeu o vendedor.
Não costumo levantar-me da cama muito cedo, mas no horário suficiente de minhas obrigações e hoje não foi diferente. Incomum mesmo foi a visita que recebi no intervalo do banho para o café. Um senhor alto, magro, de feições aquilinas, chapéu de massa preto e portando uma maleta 007 acudiu-me os ouvidos com as suas palmas e lá fui eu atendê-lo.
Logo da ante-sala desconfiei ser um desses vendedores oferecendo-me mais uma dessas tantas coisas que eu não preciso. Acertei em parte. Tão logo abri a porta o visitante cuidou de se esparramar-se em uma das preguiçosas postas no canto do terraço e já foi cuidando de oferecer-me, aquelas horas da manhã, o que chamou de plano de salvação, um plano de morte. Se ao menos fosse um plano de saúde mas não, era de morte mesmo. O crachá pendurado no pescoço não deixava dúvidas e alertava-me para o nome e a empresa que o visitante prestava serviços, lia-se: Delfunto Passos, “Funerária vai com Deus”.
Eram sete horas da manhã e eu começava a desconfiar que estavam especulando com a vida dos outros, no caso, a minha, obviamente.
E não deu outra, apesar de minha insistência em adiantar-lhe nada estar precisando adquirir no momento, o vendedor permaneceu enfático, olhando-me de ponta a cabeça como a querer mensurar a medida do ataúde, cercando-me com aquela velha conversa do homem prevenido, com aquela história de que a gente não sabe o dia de amanhã, enfim, aquele papo típico de todo aquele que quer, ao seu preço, enfiar de goela abaixo o seu produto. O certo é que para me ver livre de vez daquele intruso assenti em ouvir, ao menos o que uma funerária tinha a me oferecer as sete horas da manhã de uma segunda-feira.
Era, de fato, um plano de morte! A venda de um esquife e seus acessórios. Isso mesmo: um plano de morte mas com implicações na vida porque Vivo, liquidaria o plano “Vai com Deus” em leves e suaves prestações, morto, teria a promessa de ir para debaixo de sete palmos de terra num confortável caixão conversível, todo trabalhado em madeira de boa qualidade, acolchoado, com pegadores externos em bronze, e ainda um vidro na tampa do caixão medindo 15 x 07cm posto na altura da face do De’cujus e com o luxo de conter proteção UVA/UVB. O plano dava direito a missa e de brinde ainda prometia deixar comigo, para onde quer que eu fosse (leia-se céu ou inferno), um travesseiro, um par de meias e dois sapatos pretos.
Claro que o serviço seria posto a minha disposição já nas primeiras horas do falecimento. No velório, muitas flores, uma ladainha de meia em meia hora a qual eu poderia escolher em vida e ainda seis mulheres contratadas especificamente para chorarem o defunto, da noticia do falecimento até a última pá de terra em minha cara. Quanto mais alto o choro mais caro o plano, admoestou-me o Sr. Delfunto Passos. Mais garantiu-me, de qualquer jeito, ser uma lamentação só, com muita gente e um bom acompanhamento. Um enterro de gente importante, prometeu o vendedor.
Mostrou-me ainda um outro plano mais modesto, sem flores, talvez sem choradeira, caixão mais simples, porém, não menos imponente. O converseiro, as ladainhas e quem sabe algumas lágrimas ficariam por conta da presença de dois bêbados durante todo o velório. A cachaça não estava inclusa. Era por conta da viúva.
O fato é que fiquei meio encafifado com aquele vendedor. Estaria eu já nas portas de outra vida. Óbvio que não aderi ao plano mas cuidei de prestar mais atenção em alguns sinais que pudessem indicar a necessidade da volta daquele vendedor a minha casa.
2 comentários:
SINCERAMENTE EU NÃO SEI MAIS ONDE A GENTE VAI PARAR. APOSTO QUE SE ALGUÉM FECHAR NEGÓCIO COMPRANDO O CAIXÃO; LEVA DE GRAÇA NO DIA DO VELÓRIO UMA ...(COMO É MESMO O NOME DAQUELAS MULHERES QUE SÃO CONTRATADAS PARA CHORAR EM ENTERROS -ATÉ ISSO EXISTE).
AH! LEMBREI O NOME : CARPIDEIRAS.
Postar um comentário