sábado, 23 de setembro de 2017

 Rumos errados

A caminhada …
Amassando a terra.
Carreando pedras.
Construindo com as mãos
sangrando
a minha vida.


Deserta a longa estrada.
Mortas as mãos viris
que se estendiam às minhas.
Dentro da mata bruta
leiteando imensos vegetais,
cavalgando o negro corcel da febre,
desmontado para sempre.


Passa a falange dos mortos …
Silêncio! Os namorados dormem.
Os poetas cobriram as liras.
Flutuam véus roxos
no espaço.

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Não sei

Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.


Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.


Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.


E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.


É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.

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Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.


Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.


Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.


Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”


Cora Coralina

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