Blogueiro e autor de livro com edição esgotada inicia novo projeto pelas ruas da Capital
Dá para dizer que um dos combustíveis que abastece o carro de Mauro
Castro é a arte. Além de literatura que alimenta os livros, ele agora
distrai as corridas com imagens tiradas do retrovisor de seu táxi.
Na
profissão há 30 anos, o condutor que tem ponto na Saldanha Marinha com a
Getúlio Vargas decidiu iniciar um novo projeto depois que parou
temporariamente de escrever por um problema de saúde. A ideia é
"desanuviar a cabeça".
A
aquisição de um smartphone e a influência da filha fizeram com que ele
conhecesse o Instagram. Foi o início da nova febre. Por onde passa,
Castro espia pela janela em busca de alguma cena inusitada, algo que
seja capaz de traduzir o cotidiano a um turista ou alguém de fora da
cidade.
Em ação a menos de uma semana, o projeto foi notado por
um taxista da Irlanda, e ele já recebeu até convite para exposição. A
proposta é exibir as fotos impressas dentro de retrovisores.
— O
taxista tem acesso a lugares da cidade onde muita gente não chega.
Conhecemos as entranhas. É como se o táxi fosse a carta de alvará para
acessar qualquer parte. É um material muito rico para quem gosta de
história.
Foto: Lara Ely
Do
tipo conversador, Castro é uma espécie de tecnológico que sabe usar o
smartphone com moderação e não abre mão do olho no olho. Não fotografa
enquanto dirige (aproveita sinaleiras ou momentos em que larga
passageiros) e não gosta quando alguém troca sua charla pela checagem
das redes sociais.
Também pudera: as histórias são como um combustível, que alimentam os vários tipos de arte que ele produz.
Poucos
passageiros sabem que, além de o "taxista sustentar o escritor e o
escritor explorar o taxista" (frase criada pela filha), Castro também é
desenhista e pianista. Eventualmente, se apresenta junto a um grupo de
amigos em festas de casamentos, tocando músicas como Ave Maria de
Gounoud ou Marcha Nupcial. A capa do seu primeiro livro foi ele quem
fez.
— Arte é remédio para abstrair o estresse do trânsito — conjectura.
Por sugestão e convite do editor da Rádio Gaúcha Cyro Martins, então editor do Diário Gaúcho, Castro criou, em 2005, o Taxitrama,
blog destinado ao registro do cotidiano das histórias inusitadas que
escuta a bordo. Certa feita, carregou uma mulher que pagou a corrida com
roupas luxuosas. Ela estava indo morar em um convento e decidiu
desfazer-se de tudo:
— Escrever histórias ajuda a entender o que acontece por aí, comigo e com as pessoas. É uma terapia — diverte-se.
A
consequência foi uma coluna no diário popular do grupo RBS e o início
da carreira de escritor, em 2005. As duas edições estão esgotadas, e a
terceira sai do forno em breve. De lá para cá, a veia literária pulsou
tanto que o taxista virou co-roteirista de uma série de televisão,
inspirada em suas histórias. A produção deve começar ainda neste ano.
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