quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poema - Queixa-se o poeta...

Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas
Do que anda só o engenho mais profundo.

Nâo é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo o mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.


Gregório de Matos e Guerra - Nasceu em uma família abastada de proprietários da administração colonial. Estudou nos colégios jesuítas e, posteriormente, prossegue os estudos em Coimbra, sendo graduado em Cânones (como se chamava o estudo de Teologia na época). É considerado o maior poeta barroco do Brasil. Por seu estilo satírico e ousadia por criticar a Igreja Católica, ficou conhecido por Boca do Inferno ou Boca de Brasa.

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