quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
A vida nos reserva mudanças...
Certamente você admira a beleza de uma borboleta e também deve conhecer as mudanças de fase por quais ela passa até se transformar na beleza que conhecemos.
Um dos bichos que sofrem a metamorfose mais completa. Uma transformação que ocorre em quatro fases: a do ovo, da larva, da pupa e o estágio adulto.
Se pararmos para pensar um pouco nas mudanças da borboleta, veremos que toda a mudança tem seu lado positivo e negativo, em algum aspecto. No início é difícil, depois um pouco confusa e ao final é linda.
Estamos num momento em que mudanças significativas impactaram nossa maneira de viver e trabalhar. Mudanças que vieram para ficar e portanto, teremos que nos adaptar e aprender a conviver com elas.
Qual lado você prefere ver?
Eu prefiro o lado positivo. Assim fica mais fácil.
Prof. Menegatti
A arte de criar um mundo
É o famoso “contar em 360 graus”. Isso não se refere à temperatura, mas ao raio de visão do autor, que descreve um círculo completo em volta da cena que está narrando, visualiza (=inventa) o que pode estar acontecendo em volta naquele instante, e, quando é o caso, inclui isso na descrição da cena.
Digamos que o autor quer contar uma discussão conjugal entre marido e esposa. Geralmente o autor coloca os dois a sós, na sala de casa. Melhor ainda: no quarto de dormir. Nada acontece em volta, e pronto, ele pode se concentrar somente no que o marido diz, a mulher rebate, o marido ironiza, a mulher reclama, o marido negaceia, a mulher acusa... Como dizia o outro: “e não se avista o fim”.
Cenas assim são excelentes para o teatro (peças para um casal de atores costumam dar lucro), que é A Arte Do Mundo Subentendido. No teatro, o ator pára no centro do palco vazio, faz um gesto largo e diz para a platéia: “Eis o centro de Babilônia, a maior metrópole do mundo!” E a platéia aceita que tem uma babilônia qualquer ali.
Na literatura poderia ser a mesma coisa, mas não custa nada – por exemplo – botar o casal tendo a mesmíssima discussão numa praça onde crianças brincam. Ou na praça de alimentação de um shopping. Ou no escritório onde ambos trabalham. Ou na festa de aniversário da mãe/sogra. Ou num avião durante o voo.
Isso quer dizer que quando escolhemos um desses ambientes somos obrigados a imaginá-lo por inteiro. Aliás, não gostei desse “somos obrigados”, porque na literatura ninguém nos obriga a nada, escrevemos o que quisermos, e só quem nos obriga a fazer algo são nossas idéias preconcebidas, tipo “assim o livro não vai vender”, “isso aqui está profundo demais e os leitores são rasos”, etc.
Digamos então: quando escolhemos um desse ambientes temos a magnífica oportunidade de imaginá-lo por inteiro. De pensar quem são as pessoas que estão ali em volta. (Não é preciso criar uma biografia para cada uma; podem ser personagens de papelão, contando que suas intervenções pareçam ter naturalidade, que suas ações pareçam brotar de dentro delas e não de uma conveniência do autor para poupar-se maior trabalho.)
E assim a discussão do casal parece mais real, porque está tocando outros filamentos do “mundo real”, fazendo-os estremecer. Estão na praça? Aparece uma criancinha inocente: “Por que a senhora está chorando?”, etc. Estão no voo? Um sujeito bonitão se vira no banco da frente: “Ô companheiro, não quero me meter, mas não é assim que se fala com uma mulher.” Estão no escritório? O patrão surge do nada, os dois dão pausa, zeram tudo, sorriem com servilismo, e voltam a se pegar quando ele dá as costas. Estão na festa de aniversário da sogra dela? Ela diz: “Olha, vamos maneirar, sua mãe não tira os olhos da gente”.
Chandler tinha outra maneira de descrever isso. No ensaio “The Simple Art of Murder” (1944), ele elogia o romance policial inglês, comparando-o com o norte-americano, por ser mais bem escrito, no sentido de imaginar com mais solidez o ambiente onde ocorre. Ele fala:
“Há uma sensação mais forte de ambiente, como se a mansão de Cheesecake Manor existisse de fato, e não apenas a parte mostrada pela câmara.”
John Jeremy Sullivan conta um episódio curioso sobre isso (“Peyton’s Place”, Pulphead, 2011). Durante algum tempo ele cedeu o casarão “de época” onde morava para uma equipe de TV gravar cenas de uma série. De vez em quando, no dia combinado, ele subia com a família para o andar de cima, a equipe ocupava o vestíbulo e a sala de visitas, gravavam as cenas o dia inteiro, depois desarmavam tudo e iam embora. (E pagavam principescamente.)
Não se trata de incompetência nem de excesso de competência. É que quem está filmando pensa apenas no resultado que vai ser apresentado na tela. O resto não existe. (Isso pode ser bom, e pode ser ruim.)
Sullivan conta no mesmo artigo outro episódio. A casa dele servia (na série) como residência de uma moça, Peyton; a série contava a vida dela. Houve um dia em que vieram filmar e toda a filmagem consistia numa cena da moça com o pai dela, uma breve discussão e ela dizendo: “Não era isso que eu queria!”.
Fizeram infinitos takes, com infinitas ênfases. “Não era ISSO que eu queria!”. “Não era isso que EU QUERIA!” E por aí vai. Sullivan descreve a chegada da equipe de filmagem como a chegada de uma pequena cidade que ocupa sua sala de visitas. E comenta: “Não teve outra cena. Quando acabaram, foram embora. Por volta da meia-noite, as barreiras que interditavam o trânsito na rua foram desmanchadas. A cidade foi embora. Existiu apenas para garantir aqueles vinte segundos de cena.”
Quando escrevemos, estamos nos concentrando tanto nos vinte segundos de cena, ou vinte minutos (=a discussão do casal) que é mais fácil fingir que não existe mundo em volta deles. Mas não custa nada parar de escrever por vinte minutos, fechar os olhos, imaginar aquele ambiente (o avião lotado, a praça-de-alimentação quase vazia mas os balcões com garçonetes espreitando à distância, etc.) e, sem tirar o foco de cena, enriquecê-la com alguns contatos com o mundo de fora.
Exemplos? A cena memorável de Harry e Sally: Feitos um Para o Outro em que Billy Crystal e Meg Ryan estão num restaurante, ela finge um orgasmo em voz alta e uma mulher numa mesa próxima chama o garçom e diz: “Eu quero o que ela está comendo”. Sem essa fala, não haveria cena.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
Versículos do dia
Bendito o varão que confia no Senhor,
e cuja esperança é o Senhor.
Porque ele será como a árvore plantada junto às águas,
que estende as suas raízes para o ribeiro
e não receia quando vem o calor,
mas a sua folha fica verde;
e, no ano de sequidão,
não se afadiga nem deixa de dar fruto.
Existiu um lugar ainda pior do que os gulags e Auschwitz: a Ilha de Nazino
Prisioneiros num gulag: tecnicamente, Nazino não fazia parte do sistema oficial.
Presidente do STF julga incabível instrumento processual utilizado para suspender festa de Ano Novo na praia de Pipa, autorizada por desembargador do TJRN
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
Inundação
Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança.
A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite que do dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são metades, folha e verso? Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que, no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meninos para sempre.
Certa vez, porém, de nossa mãe escutamos o pranto.
Era um choro delgadinho, um fio de água, um chilrear de morcego. Mão em
mão, ficamos à porta do quarto dela.
Nossos olhos boquiabertos. Ela só suspirou:
– Vosso pai já não é meu.
Apontou o armário e pediu que o abríssemos. A nossos olhos, bem para além do espanto, se revelaram os vestidos envelhecidos que meu pai há muito lhe ofertara. Bastou, porém, a brisa da porta se abrindo para que os vestidos se desfizessem em pó e, como cinzas, se enevoassem pelo chão. Apenas os cabides balançavam, esqueletos sem corpo.
– E agora – disse a mãe -, olhem para estas cartas.
Eram apaixonados bilhetes, antigos, que minha mãe conservava numa caixa. Mas agora os papéis estavam brancos, toda a tinta se desbotara.
– Ele foi. Tudo foi.
Desde então, a mãe se recusou a deitar no leito. Dormia no chão. A ver se o rio do tempo a levava, numa dessas invisíveis enxurradas. Assim dizia, queixosa. Em poucos dias, se aparentou às sombras, desleixando todo seu volume.
– Quero perder todas as forças. Assim não tenho mais esperas.
– Durma na cama, mãe.
– Não quero. Que a cama é engolidora de saudade.
E ela queria guardar aquela saudade. Como se aquela ausência fosse o único troféu de sua vida.
Não tinham passado nem semanas desde que meu pai se volatilizara quando, numa certa noite, não me desceu o sono. Eu estava pressentimental, incapaz de me guardar no leito. Fui ao quarto dos meus pais. Minha mãe lá estava, envolta no lençol até à cabeça. Acordei-a. O seu rosto assomou à penumbra doce que pairava. Estava sorridente.
– Não faça barulho, meu filho. Não acorde seu pai.
– Meu pai?
– Seu pai esta aqui, muito comigo.
Levantou-se com cuidado de não desalinhar o lençol. Como se ocultasse algo debaixo do pano. Foi à cozinha e serviu-se de água. Sentei-me com ela, na mesa onde se acumulavam as panelas do jantar.
– Como eu o chamei, quer saber?
Tinha sido o seu cantar. Que eu não tinha notado, porque o fizera em surdina. Mas ela cantara, sem parar, desde que ele saíra. E agora, olhando o chão da cozinha, ela dizia:
– Talvez uma minha voz seja um pano; sim, um pano que limpa o tempo.
No dia seguinte, a mãe cumpria a vontade de domingo, comparecida na igreja, seu magro joelho cumprimentando a terra. Sabendo que ela iria demorar eu voltei ao seu quarto e ali me deixei por um instante. A porta do armário escancarada deixava entrever as entranhas da sombra. Me aproximei. A surpresa me abalou: de novo se enfunavam os vestidos, cheios de formas e cores. De imediato, me virei a espreitar a caixa onde se guardavam as lembranças de namoro de meus pais. A tinta regressara ao papel, as cartas de meu velho pai se haviam recomposto? Mas não abri. Tive medo. Porque eu, secretamente, sabia a resposta.
Saí no bico do pé, quando senti minha mãe entrando. E me esgueirei pelo quintal, deitando passo na estrada de areia. Ali me retive a contemplar a casa como que irrealizada em pintura. Entendi que por muita que fosse a estrada eu nunca ficaria longe daquele lugar. Nesse instante, escutei o canto doce de minha mãe. Foi quando eu vi a casa esmorecer, engolida por um rio que tudo inundava.
– Mia Couto, conto ‘Inundação’, do livro “O fio das missangas”. Lisboa: Editora Caminho, 2003.
domingo, 27 de dezembro de 2020
Ensinando a tristeza’, um fabuloso conto de Rubem Alves
Meus amigos, com a melhor das intenções, têm se queixado, dizendo que há muita tristeza no intervalo das coisas que escrevo. Essa observação mexeu comigo. Fez-me lembrar uma crônica que escrevi faz muito tempo. Era sobre a poeta Helena Kolody, que eu acabara de descobrir. Seus poemas não são alegres. São alegres-tristes.
Dentre os escritos da Helena Kolody encontrei este mínimo poema: “Buscas ouro nativo entre a ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho… Para cada pepita, quanto cascalho”.
Gosto de ler as Escrituras Sagradas. Mas leio como quem garimpa ouro. Para se encontrar uma pequena pepita, quanto cascalho há de se jogar fora! Acho até que foi arte de Deus… Foi ele mesmo que misturou cascalho e pepitas, alegria e tristeza, pra separar os maus dos bons leitores. Os maus leitores não sabem separar as pepitas do cascalho…
Nas minhas garimpagens pelas Escrituras Sagradas encontrei esta pepita: “Melhor é a tristeza que o riso. Porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”.
Esse texto me apareceu na memória quando eu pensava sobre uma pergunta estranha que me perseguia: “Pode-se ensinar compaixão?”. Essa pergunta surgiu quando minha neta, sem razão alguma, deixou a mesa no meio do almoço e foi para a sala da televisão chorar. Fui atrás dela para entender a razão do seu choro. Ela me disse: “Vô, quando eu vejo uma pessoa chorando, o meu coração fica triste junto ao coração dela…”.
Sem o saber, a menina havia definido o que é a compaixão. Eu não disse. Quem disse foi a Adélia, que “a poesia é pura compaixão”. A poesia é triste. E acrescentou, pra ninguém entender, “por prazer da tristeza eu vivo alegre”.
Haverá uma pedagogia da tristeza? Estranho pensar que um professor, ao iniciar o seu dia, possa dizer para si mesmo: “Vou ensinar tristeza aos meus alunos…”. Eu mesmo nunca havia pensado nisso. E todos os terapeutas, não importando a sua seita, em última instância estão envolvidos numa batalha contra a tristeza. E agora eu digo esse absurdo, que tristeza é pra ser ensinada, pra fazer melhor o coração.
A poesia nasce da tristeza. Alberto Caeiro era amigo da sua tristeza: “Mas eu fico triste como um pôr de sol quando esfria no fundo da planície e se sente a noite entrada como uma borboleta pela janela”. E concluiu: “Mas minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma…”. Num outro lugar, Fernando Pessoa escreveu algo mais ou menos assim: “Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre…”.
Existe uma perturbação psicológica ainda não identificada como doença. Ela aparece num tipo a que dei o nome de “o alegrinho”. O alegrinho é aquela pessoa que está o tempo todo esbanjando alegria, dizendo coisas engraçadas, e querendo que os outros riam. Ele é um flagelo. Perto dele ninguém tem a liberdade de estar triste. Perto dele todo mundo precisa estar alegre… Porque ele não consegue estar triste, o alegrinho não consegue ouvir a beleza dos noturnos de Chopin, nem sentir as sutilezas da poesia da Cecília Meireles, nem gozar o silêncio triste da beleza do crepúsculo. Sempre alegrinho, na sua alma não há espaço para sentir a compaixão. Para haver compaixão, é preciso saber estar triste. Porque compaixão é sentir a tristeza de um outro.
Houve um menino que chorou ao ler a estória O patinho que não aprendeu a voar. Aconteceu assim: o seu pai comprou o livro esperando que eu, o autor, fosse um alegrinho e que o livro iria fazer seu filho dar muitas risadas. Voltou no dia seguinte muito bravo. Trazia o livro na mão, para devolvê-lo. Ao invés de dar risadas, no fim da estória o seu filho pôs-se a chorar. A estória é, de fato, triste. Eu a escrevi para o meu filho que estava passando por uma crise de vagabundagem. O seu prazer nas vagabundagens era tanto que ele não queria saber de aprender. O patinho também não queria saber de aprender. Não pôde voar com seus irmãos quando chegou a estação das migrações.
O menininho tinha razões para chorar? Não. As razões do seu choro não eram dele. Eram do patinho. Ele sofria o sofrimento do patinho. O seu coração batia junto ao coração do patinho. Mas o patinho não existia. Era apenas um personagem inventado de uma estória do mundo do “era uma vez”. E o menino sabia disso. Mas, a despeito disso, ele chorava. Aqui está um dos grandes mistérios da alma humana: a alma se alimenta com coisas que não existem.
Eu havia levado minha filha de seis anos para ver o E. T. Ao fim do filme ela chorava convulsivamente. Jantou chorando. Resolvi fazer uma brincadeira: “Vamos no jardim ver a estrelinha do E. T.!”. Fomos, mas o céu estava coberto de nuvens. Não se via a estrelinha do E. T. Improvisei. Corri para trás de uma árvore e disse: “O E. T. está aqui!”. Ela me disse: “Não seja tolo, papai. O E. T. não existe!”. Contra-ataquei: “Não existe? E por que você estava chorando se ele não existe?”. Veio a resposta definitiva: “Eu estava chorando porque o E. T. não existe…”.
Volto então à pergunta que fiz sem saber a resposta. O menino chorou ao ler a estória do patinho. Mas o patinho não existia. Minha filha chorou ao ver o filme do E. T. Mas o E. T. não existia. Pensei então que um caminho para se ensinar compaixão, que é o mesmo caminho para se ensinar a tristeza, são as artes que trazem à existência as coisas que não existem: a literatura, o cinema, o teatro. As artes produzem a beleza. E a beleza enche os olhos d’água…
Meus amigos podem ficar tranquilos. Sou triste sim. Mas minha tristeza “é natural e justa e é o que deve estar na alma…”. Volto às Escrituras Sagradas: “Com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. É isso que desejo ensinar aos meus alunos…
– Rubem Alves, no livro “Pimentas – para provocar um incêndio, não é preciso fogo”. {contos} Editora Planeta, 2012.
“Se a criança não é treinada a esperar, a criar, a negociar, a ceder e a se frustrar, você está aleijando a criança”
O psicoterapeuta Leo Fraiman, especialista em psicologia educacional e mestre em psicologia educacional e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP) traz a lume, importantes contribuições acerca de como educarmos nossos filhos para a autonomia crítica e não os aleijarmos emocionalmente em nome do que chamamos da “felicidade de nunca deixá-los frustrados”.
Os pais de hoje, na busca narcísica de tornar os filhos felizes, acabam aleijando o emocionalmente essas crianças, pois sem o contato com a frustração elas aprendem a sempre serem atendidas. Em nome de se ter felicidade acaba-se criando a desgraça da criança e de todos a sua volta.
Uma coisa ou outra faz parte da construção de um ser humano, é a matéria que dá liga. Não se conhece o valor daquilo que nunca lhe faltou. Atender caprichos não é ser legal, é ser egoísta, é procurar o meio mais fácil de permanecer na zona de conforto. Ás vezes por querer compensar suas próprias negligências como pai ou mãe, molda-se um ser que será um adulto atrofiado emocionalmente:
“Se a criança não é treinada a esperar, a criar, a negociar, a ceder e a se frustrar, você está aleijando emocionalmente a criança. É como fazê-la andar com uma perna amarrada. A criança ficará chata, birrenta, gastadeira, neurótica, depressiva e provavelmente drogada, porque ela precisará de outra coisa para acalmá-la porque ela não desenvolveu a autonomia, ela não manda de dentro pra fora no seu mundo, ela precisa do outro”.
Leo Fraiman
Portal Raízes
A Hungria disse não à adoção a casais homossexuais: “Mãe é mulher, pai é homem”. Para o governo húngaro explicou que “os novos processos ideológicos no Ocidente” tornaram necessário “proteger as crianças contra possíveis interferências ideológicas ou biológicas”. Neste sentido o parlamento fez uma alteração na constituição que “garante a educação das crianças de acordo com a cultura cristã [da Hungria]” e define ainda que o “sexo das crianças é aquele que lhes foi atribuído”, avança o The Daily Mail.
sábado, 26 de dezembro de 2020
"O governo do mundo começa em nós mesmos.Não são os sinceros que governam o mundo, mas também não são os insinceros.São os que fabricam em si uma sinceridade real por meios artificiais e automáticos; essa sinceridade constitui a sua força, e é ela que irradia para a sinceridade menos falsa dos outros. Saber iludir-se bem é a primeira qualidade do estadista.Só aos poetas e aos filósofos compete a visão prática do mundo, porque só a esses é dado não ter ilusões. Ver claro é não agir"
Humor - Mineiros do no Egito
Dois mineiros estavam no Egito visitando os grandes monumentos, quando um deles pergunta:
- Esses bichos gigantes de pedra tão durmino?
E o outro mineiro que estava lendo uma placa respondeu:
- Não. Aqui tá dizeno que esfinge.
Os ditadores não morrem
Hesitei sobre o título desta crónica. A torrente de informação é de tal forma intensa nestes tempos conturbados, que é por vezes difícil escolher um tema, discernir sobre aquilo que nos parece realmente importante, e separar as evidências do que é, aparentemente, acessório.
No momento em que começo a escrever este pequeno comentário, terminou a “Caravana da Liberdade”, que transportou as cinzas de Fidel Castro, durante 9 dias, pela ilha de Cuba, pondo assim fim a um quase interminável funeral. Durante este período de luto para algumas franjas da esquerda, assistimos a tudo: louvores à revolução cubana, destemperados elogios à figura do déspota e, noutro lado, a comparações ignorantes com ditadores do século passado. Estive tentado em titular este escrito com um rotundo: os ditadores também morrem! Mas, afinal, parece que não. Quando se pensava que Fulgêncio Baptista estava bem morto e enterrado, alguns fizeram questão de nos recordar que ele foi presidente eleito, que depois fez suspender a Constituição, transformando o regime cubano numa ditadura. Castro mandou-o para o exílio com uma Revolução onde se destacou o irmão Raul, actual presidente, e esse ícone e figura emblemática na minha juventude, Che Guevara. Um ditador deu o lugar a um tirano. A morte de Fidel fez, assim, ressuscitar o ditador que o antecedeu.
Apetece dizer: “Os ditadores não morrem!”.
Foi possível ler crónicas onde se desenterraram Hitler, Mussolini, Estaline, Franco e, veja-se bem, Salazar, o ditador saloio de Santa Comba. Que haja quem tente branquear a História, compreende-se, mas que haja quem a tente reescrever, é inadmissível. No caso de Fidel, a História se encarregará de relatar, desapaixonadamente, o papel de Castro e do castrador castrismo. Até à morte do próximo ditador, deixem as cinzas sossegar e esperar que o povo cubano saiba fazer o luto e regresse às ruas para tocar e dançar boleros. E reclamar por liberdade e democracia.
Outro tema quente, é o que se passa na Europa.
A Áustria disse não à extrema-direita e em Itália o europeísmo foi derrotado num referendo. Com um calendário recheado em 2017, a Europa vai enfrentar tempos conturbados: eleições na Alemanha, Holanda e França, um brexit a contaminar a zona euro e, previsivelmente, o fortalecimento do italexit. Seria bom que a Europa deixasse de ser um clube de burocratas e se dedicasse mais às pessoas, aos europeus. Com a eleição de Trump, a Europa tem uma ocasião ímpar para se impor e impor os seus valores democráticos e humanistas. Não podemos cair na tentação de experiências populistas cujos resultados, veja-se a História recente, podem ser devastadores, fatais.
Por cá foi a animação habitual, com a Caixa Geral de Depósitos a liderar os títulos dos media.
Igualmente a merecer destaque o regresso do feriado de 1 de Dezembro. E com ele um ataque, justificado, a Passos Coelho e à “geringonça de direita”. A vida está a correr mal ao líder do PSD.
Às críticas, não disfarçadas, do Presidente da República, somou-se o “não!” de Santana Lopes. Com Rui Rio (e outros) à espreita, os tempos de Passos Coelho não vão ser fáceis.
Por cá, no nosso Alentejo, as ruas (algumas) iluminaram-se abundantemente com as cores do Natal.
Com que custos? E em detrimento do quê? Em 2017 saberemos. Até porque, por cá, vamos ter eleições autárquicas. E é também nas urnas que se derrubam ou se afastam “ditadores”.
Se não nos virmos antes, votos de um Santo Natal.
João Espinho – Portugal, 5/12/2016
Comunidade científica desconfia que há algo errado com a Coronavac
Um homem trabalha na seção de engarrafamento onde será produzida a Coronavac, vacina da SinoVac contra a doença do coronavírus (COVID-19), no centro biomédico do Instituto Butantan, em São Paulo,
sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar... Fernando Pessoa
A trégua de Natal de 1914