(trecho de "Carta do morto pobre")
5
Vai o animal no campo; ele é o campo como o capim, que é
o campo se dando para que haja sempre boi e campo; que campo e boi é
o boi andar no campo e comer do sempre novo chão. Vai o boi, árvore
que muge, retalho da paisagem em caminho. Deita-se o boi, e rumina, e olha a erva a crescer em redor de seu corpo, para o seu corpo, que cresce para a erva. Levanta-se o boi, é o campo que se ergue
em suas patas para andar sobre o seu dorso. E cada fato é já
a fabricação de flores que se erguerão do pó dos ossos que a chuva lavará, quando for tempo.
Ferreira Gullar
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