domingo, 31 de dezembro de 2017
Feliz olhar Novo
"O
grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita de felicidade fosse o
AQUI e o AGORA.
Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais..., mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. As vezes a gente espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.
Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais..., mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. As vezes a gente espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.
O ano que vai entrar vai ser diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?
O que desejo para todos é sabedoria! E que todos saibamos transformar tudo em boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim... Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3. Ou mude-o de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro): CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE.
Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam bem diferentes.
Desejo para todo mundo esse olhar especial.
O ano que vai entrar pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro. O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser. E que seja!!!
Feliz olhar novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.
Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!"
Carlos Drummond de Andrade
Certas Esperanças
É preciso — é mais do que preciso, é forçoso — dar boas festas, trocar
embrulhinhos, querer mais intensamente, oferecer com mais prodigalidade, manter o sorriso
e, acima de tudo, esquecer tristezas e saudades.
Façamos um supremo esforço para lembrar e sermos lembrados, porque assim manda a tradição e é difícil esquecer à tradição. Enviemos cartões e telegramas de felicitações àqueles que amamos e também àqueles que — sabemos perfeitamente — não gostam da gente. O Correio, nesta época do ano, finge-se de eficiente e já lá tem prontos impressos para que desejemos coisas boas aos outros, nivelando a todos em nossos augúrios.
Depois de abraçar e ser abraçado, desejar sincera e indiferentemente, embrulhar e desembrulhar presentes, cada um poderá fazer votos a si mesmo, desejar para si o que bem entender. Subindo na escala das idades, este sonhou todo o mês com um trenzinho elétrico, aquele com uma bicicleta (com farol e tudo), o outro certa moça, mais além um quarto sonhador esteve a remoer a ideia de ser ministro e o rico... bem, o rico só pensa em ser mais rico. O rico detesta amistosamente os ministros, já não tem olhos para a graça da moça, pernas para pedalar uma bicicleta e, muito menos, tempo para brincar com um trenzinho.
Dos planos de cada um, pouquíssimos serão transformados em realidade. Alguns hão de abandoná-los por desleixo e a maioria, mal o ano de 56 começar, não pensará mais nele, por pura desesperança. O melhor, portanto, é não fazer planos. Desejar somente, posto que isso sim, é humano e acalentador.
De minha parte estou disposto a esquecer todas as passadas amarguras, tudo que o destino me arranjou de ruim neste ano que finda. Ficarei somente com as lembranças do que me foi grato e me foi bom.
No mais, desejarei ficar como estou porque, se não é o que há de melhor, também não é tão ruim assim e, tudo somado, ficaram gratas alegrias. Que Deus me proporcione as coisas que sempre me foram gratas e que — Ele sabe — não chegam a fazer de mim um ambicioso.
Que não me falte aquele almoço honesto dos sábados (único almoço comível na semana), com aquele feijão que só a negra Almira sabe fazer; que não me falte o arroz e a cerveja — é muito importante a cerveja, meu Deus! —, como é importante manter em dia o ordenado da Almira.
Se não me for dado comparecer às grandes noites de gala, que fazer? Resta-me o melhor, afinal, que é esticar de vez em quando por aí, transformando em festa uma noite que poderia ser de sono.
E para os pequenos gostos pessoais, que me reste sensibilidade bastante para entretê-las. Ai de mim se começo a não achar mais graça nos pequenos gostos pessoais. Que o perfume do sabonete, no banho matinal, seja sempre violeta; que haja um cigarro forte para depois do café; uma camisa limpa para vestir; um terno que pode não ser novo, mas que também não esteja amarrotado. Uma vez ou outra, acredito que não me fará mal um filme da Lollobrigida, nem um uísque com gelo ou — digamos — uma valsa.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro.
No mais, continuarei a manter certas esperanças inconfessáveis porém passíveis — e quanto — de acontecerem.
Façamos um supremo esforço para lembrar e sermos lembrados, porque assim manda a tradição e é difícil esquecer à tradição. Enviemos cartões e telegramas de felicitações àqueles que amamos e também àqueles que — sabemos perfeitamente — não gostam da gente. O Correio, nesta época do ano, finge-se de eficiente e já lá tem prontos impressos para que desejemos coisas boas aos outros, nivelando a todos em nossos augúrios.
Depois de abraçar e ser abraçado, desejar sincera e indiferentemente, embrulhar e desembrulhar presentes, cada um poderá fazer votos a si mesmo, desejar para si o que bem entender. Subindo na escala das idades, este sonhou todo o mês com um trenzinho elétrico, aquele com uma bicicleta (com farol e tudo), o outro certa moça, mais além um quarto sonhador esteve a remoer a ideia de ser ministro e o rico... bem, o rico só pensa em ser mais rico. O rico detesta amistosamente os ministros, já não tem olhos para a graça da moça, pernas para pedalar uma bicicleta e, muito menos, tempo para brincar com um trenzinho.
Dos planos de cada um, pouquíssimos serão transformados em realidade. Alguns hão de abandoná-los por desleixo e a maioria, mal o ano de 56 começar, não pensará mais nele, por pura desesperança. O melhor, portanto, é não fazer planos. Desejar somente, posto que isso sim, é humano e acalentador.
De minha parte estou disposto a esquecer todas as passadas amarguras, tudo que o destino me arranjou de ruim neste ano que finda. Ficarei somente com as lembranças do que me foi grato e me foi bom.
No mais, desejarei ficar como estou porque, se não é o que há de melhor, também não é tão ruim assim e, tudo somado, ficaram gratas alegrias. Que Deus me proporcione as coisas que sempre me foram gratas e que — Ele sabe — não chegam a fazer de mim um ambicioso.
Que não me falte aquele almoço honesto dos sábados (único almoço comível na semana), com aquele feijão que só a negra Almira sabe fazer; que não me falte o arroz e a cerveja — é muito importante a cerveja, meu Deus! —, como é importante manter em dia o ordenado da Almira.
Se não me for dado comparecer às grandes noites de gala, que fazer? Resta-me o melhor, afinal, que é esticar de vez em quando por aí, transformando em festa uma noite que poderia ser de sono.
E para os pequenos gostos pessoais, que me reste sensibilidade bastante para entretê-las. Ai de mim se começo a não achar mais graça nos pequenos gostos pessoais. Que o perfume do sabonete, no banho matinal, seja sempre violeta; que haja um cigarro forte para depois do café; uma camisa limpa para vestir; um terno que pode não ser novo, mas que também não esteja amarrotado. Uma vez ou outra, acredito que não me fará mal um filme da Lollobrigida, nem um uísque com gelo ou — digamos — uma valsa.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro.
No mais, continuarei a manter certas esperanças inconfessáveis porém passíveis — e quanto — de acontecerem.
Stanislaw Ponte Preta
A crônica acima foi publicada na revista "Manchete" nº. 193, de 31/12/55.
TOC continua presente na vida de Roberto Carlos
Para muitos o cantor tem apenas manias, mas na verdade é uma doença mental grave acompanhada de rituais complexos e rígidos
Em 2004, o cantor Roberto Carlos deu uma entrevista reveladora ao
"Fantástico" em que revelara sofrer de uma doença chamada Transtorno
Obsessivo-Compulsivo, que para muitos parecem ser apenas manias, mas na verdade é uma doença mental grave acompanhada de rituais complexos e rígidos que comprometem a qualidade de vida de quem tem. A coluna descobriu que até hoje eles persistem. E em conversa com vizinhos de Roberto, eles relataram alguns exemplos de TOC.
Roberto comprou uma geladeira nova mas o aparelho teve que ficar algumas semanas na garagem do prédio onde ele vive na Urca. A geladeira só podia entrar na casa de Roberto quando a lua virasse, mais precisamente quando entrasse a Lua Nova.
O edifício chegou a entrar em reforma e foram colocados andaimes para
consertar a fachada do prédio. Roberto viajou para Miami para passar um
mês enquanto as obras aconteciam. Nesse meio tempo, a obra foi concluída. O
cantor decidiu pagar para manter o andaime até ele voltar, para que seu
carro passasse novamente pela tal armação metálica. Sem isso, ele não
entraria novamente no prédio.
Roberto tem quatro apartamentos no prédio onde mora: um pra governanta, outro pro filho, um terceiro para guardar suas coisas e o quarto, a cobertura, onde vive. Certa
vez, ele saia de casa e o porteiro abriu o elevador com o interfone na
mão. Quando ele voltou ele pediu ao porteiro para segurar o interfone
novamente, como fez quando ele saiu, para que ele pudesse entrar de novo
no elevador.
Fonte e créditos: aqui
LEO DIAS - O Dia
LEO DIAS - O Dia
Quem tem mesmo que estudar história?
Metade da geração Y prefere o socialismo; falta conhecimento de história.
A maioria das pessoas da geração do milênio tem uma visão positiva do socialismo e comunismo, mas não conhece todos os fatos.
Uma pesquisa recente conduzida com
membros da geração do milênio (geração Y) constatou que 51% deles
identificaram o socialismo como o sistema socioeconômico de sua
preferência, enquanto outros 7% apontaram para o comunismo. Apenas 42%
se disseram a favor do capitalismo
O centésimo aniversário da Revolução Russa, no mês passado, foi um
momento apropriado para nos recordar as atrocidades humanas cometidas
pelos regimes comunistas. Mas também devemos tirar tempo para
refletir sobre o progresso ocorrido desde a queda da União Soviética e
seu sistema econômico socialista, em 1991.
Uma pesquisa recente
conduzida com membros da geração do milênio (geração Y) constatou que
51% deles identificaram o socialismo como o sistema socioeconômico de
sua preferência, enquanto outros 7% apontaram para o comunismo. Apenas
42% se disseram a favor do capitalismo.
O socialismo mata, sempre
As pessoas da geração Y que conheço – e, sendo eu professor universitário, conheço muitas – geralmente são “do bem”. A
maioria não tem desejo algum de ver outros seres humanos sofrer. Assim,
só me resta concluir que elas não têm conhecimento de como funciona o
socialismo de fato no mundo.
Por meio de execuções, desnutrição intencional e campos brutais de
encarceramento com trabalhos forçados, os regimes socialistas mataram
mais de 100 milhões de seus próprios cidadãos no século 20. As atrocidades continuam a acontecer em países como Cuba, Coreia do Norte e Venezuela.
Essas atrocidades não são acidentais. Por sua própria
natureza, uma economia centralmente planejada reduz os humanos a insumos
trabalhistas que precisam ser coagidos para desempenharem um papel no
plano econômico traçado por outros. Quando se permite que as pessoas façam suas próprias escolhas, não há plano econômico possível. O sistema socialista naturalmente seleciona líderes que estejam dispostos a exercer coação para garantir a execução dos planos.
O histórico do socialismo no campo econômico é tão desanimador quanto seu histórico em matéria de direitos humanos. Mas
não precisamos recomendar que a geração do milênio leia livros de
história para se dar conta disso. Basta que ela olhe para o que
aconteceu com países ex-socialistas durante sua própria vida, quando
esses países abandonaram o socialismo e aderiram ao capitalismo.
A liberdade econômica gera resultados melhores
O Relatório Anual de Liberdade Econômica Mundial
traz a medida mais exata do grau em que um país é relativamente
capitalista ou socialista. É claro que o índice depende da
disponibilidade de dados confiáveis. Assim, regimes socialistas, como
Cuba e Coreia do Norte, não constam do índice, pelo fato de não
fornecerem esses dados. Mas o índice nos permite avaliar as mudanças
ocorridas em países antes socialistas desde que eles abandonaram o
socialismo.
A Rússia, por exemplo, teve pontuação de apenas 4,3 (numa escala de
dez pontos) no índice em 1995, quando foi incluída no ranking pela
primeira vez. Desde então seu escore melhorou 52%, e hoje o país está entre os 50 primeiros colocados.
Outros países que no passado fizeram parte do bloco soviético avançaram mais rapidamente em direção ao capitalismo. Em
1995 a Estônia recebeu escore de 6,2 pontos e a Letônia, de 5,7 pontos,
figurando respectivamente nos 57º e 75º lugares. Desde então a Estônia
subiu para a 17ª posição no ranking e a Letônia saltou de 75ª economia
mais livre do mundo para a 26ª.
Fora do antigo bloco soviético, a China começou a se afastar do
socialismo em 1978, pouco antes do nascimento da geração do milênio.
Ela foi incluída no ranking pela primeira vez em 1980, com escore de
3,6. Desde então, sua posição subiu 76%, e mesmo essa melhora não
reflete adequadamente toda a abrangência das reformas chinesas, já que
muitas zonas econômicas especiais chinesas têm liberdade muito maior que
o país como um todo.
Mas os rankings não refletem a história inteira. O resultado
do avanço em direção ao capitalismo vem sendo um aumento da
prosperidade: as pessoas vivem melhor. A renda média das pessoas subiu
250% na Rússia desde 1995. Na Letônia e Estônia, onde a liberdade
econômica é maior, a renda dos habitantes subiu respectivamente 487% e
461%. E não são apenas os ricos que vêm enriquecendo. A porcentagem
da população que vive com menos de US$ 5,50 por dia caiu 23% na Rússia,
19% na Letônia e 22% na Estônia.
As transformações ocorridas na China são ainda mais surpreendentes. A
renda média dos chineses é hoje 12 vezes maior do que em 1995. Mais de
90% da população vivia com menos de US$5,50 por dia naquela época; hoje
esse é o caso de apenas um terço da população.
A geração do milênio poderia ir aos livros de história para aprender sobre as atrocidades socialistas. Mas
ela pode igualmente simplesmente olhar para o mundo e constatar como a
prosperidade aumentou na medida em que os antigos países socialistas
foram aderindo ao capitalismo. Se ela fizer uma coisa ou a outra, duvido que ainda encontremos muitos socialistas nessa geração.
Benjamin
Powell é diretor do Instituto do Livre Mercado da Texas Tech University
e membro sênior do Independent Institute, além de integrar a rede
docente da FEE.
Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem inseto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
(In "Raiz de Orvalho e Outros Poemas")
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem inseto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
(In "Raiz de Orvalho e Outros Poemas")
Passagem do ano
O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 30 de dezembro de 2017
Ser, parecer
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.
Mia Couto
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.
Mia Couto
O mundo é real?
O mundo existe ou é uma ilusão dos nossos olhos? Para mim
isso era tema dos romances de FC de Richard-Bessière ou de Philip K. Dick, não
era assunto para letra de música. O mundo da música era tão concreto quanto um
elétron; e tão consensual quanto o Meridiano de Greenwich. As canções orientais
dos Beatles foram as primeiras que tocaram no assunto: “Venha cá, velho, você
acha que esse mundo que nós estamos existe mesmo, ou tudo é somente uma
ilusão?”
Pergunta mais profícua não foi feita desde que Arquimedes ou
Bertrand Russell questionou o teorema tal ou qual. A vanguarda européia do
começo do século 20 já tinha amassado o biscoito da metalinguagem. O
questionamento do Real, que por um lado vinha do misticismo do Oriente, e por
outro vinha de viagens alucinógenas dos músicos, se misturava a hipóteses de
físicos sobre universos múltiplos ou à teoria também chamada de “somos o
video-game de Alguém”.
Ian MacDonald, cuja bola vivo a encher merecidamente nesta
coluna, tem uma observação interessante sobre “Penny Lane” dos Beatles. (De
passagem: ele observa que o piano em staccato dessa faixa agradou tanto nessa
gravação, feita entre dezembro de 1966 e janeiro de 67, que os Beatles voltaram
a usá-lo com variantes nas gravações subsequentes de “Fixing a Hole”, “Getting
Better”, “With a Little Help from my Friends” e “You Mother Should Know”.) Ele
cita Lennon garantindo que tudo ali é tirado de memórias visuais dele, tudo é
factual. Toda memória é a foto de um reflexo numa nuvem, mas a intenção do
poeta foi mesmo a de falar do que havia. O bombeiro, o barbeiro, o cara do
banco, as crianças...
E MacDonald diz, sobre o teor psicodélico da música:
“Essa canção é tão subversivamente alucinatória quanto ‘Strawberry Fields’.
Apesar da aparente inocência, há em toda a produção dos Beatles poucas frases
tão impregnadas de LSD do que o verso (numa rajada fremente de vozes
ornamentais) em que a Enfermeira ‘feels as if she’s in a play’... and ‘is,
anyway’”.
A Enfermeira tem aquele insaite instantâneo de que
tudo que vê em torno (e que a música descreve) não é “real”: ela está mesmo é
numa peça, numa encenação, numa montagem. “E afinal é mesmo”, diz o narrador
onisciente da canção. Ela está numa
canção dos Beatles... e de repente percebe que não existe. Como aquele
personagem eletrônico em Simulacron-3 de Galouye, que vem a saber que é
apenas um carinha-de-game, mas para ser nosso interlocutor naquele mundo ele
precisa saber que em certa medida ele não é real. Tremenda crise existencial
pro personagem a quem isso acontece. Mais tranquilo ficar com Mario Quintana:
“Pra que pensar? Também sou da paisagem”.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
Humor
Um pedreiro português, no meio da obra, liga para casa e diz para a esposa, todo ofegante:
- Ora pois,Mulher, tu nem queiras saber... Escapei de uma boa, caí de uma escada de quinze meitros de altura.
- Ai meu Deus, Manoel. E tu estais muito machucado?
- Não... Nem um pouquinho. Eu ainda estava no primeiro degrau.Ao amor antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Boda Espiritual
Tu não estas comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
Manuel Bandeira
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
Manuel Bandeira
O ser humano vivencia a si mesmo, seus
pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de
ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de
prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto
por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos
dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele
abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém
conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua
realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa
segurança interior.
Albert Einstein
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Por um lado, ter um inimigo é
muito ruim. Perturba nossa paz mental e destrói algumas de nossas
coisas boas. Mas, se vemos de outro ângulo, somente um inimigo nos dá a
oportunidade de exercer a paciência. Ninguém mais do que ele nos concede
a oportunidade para a tolerância. Já que não conhecemos a maioria dos
cinco bilhões de seres humanos nesta terra, a maioria das pessoas também
não nos dá oportunidade de mostrar tolerância ou paciência. Somente
essas pessoas que nós conhecemos e que nos criam problemas é que
realmente nos dão uma boa chance de praticar a tolerância e a paciência.
Dalai Lama
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
A decepção é normalmente o preço da preguiça...
Havia um sábio que não poupava esforços para ensinar
bons hábitos a seu povo. Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma
enorme pedra na estrada. Depois foi se esconder atrás de uma cerca, e
esperou para ver o que acontecia.
Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada
de sementes que ele levava para moagem na usina e desviou sua carroça.
Logo depois, um jovem soldado, veio cantando pela estrada. Ele tropeçou
nela e se estatelou no chão poeirento.
Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá
passou. E disse: já está quase escurecendo, alguém pode. Vou tirá-la do
caminho. Para sua surpresa, encontrou uma caixa. Na tampa havia os
seguintes dizeres: "Esta caixa pertence a quem retirar a pedra." Ela
abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.
Quando o fazendeiro e o soldado e todos os outros
ouviram o que havia ocorrido, foram para o local onde a pedra estava na
esperança de encontrar um pedaço de ouro.
Então o sábio falou: Meus
amigos, com frequência encontramos obstáculos e fardos no caminho.
Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos deles se assim
preferirmos, ou podemos erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente o preço da preguiça.
Prof. Menegatti
Humor
Dizem que se tomar leite dá muita força. Tomei! Tentei empurrar uma parede e nada. Chateado, bebi um litro de pinga. Sabe o que aconteceu?? A parede se moveu sozinha.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Frase
É de se apostar que toda ideia pública, toda convenção aceita seja uma tolice, pois se tornou conveniente à maioria.
Pela luz dos teus olhos
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Vinicius de Moraes
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Vinicius de Moraes
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
O natal da lava-jato
Segundo estudos da Fundação Lies em parceria com o Instituto de
Pesquisas DataLeca, as cartas enviadas pelos presos da operação
lava-jato a Papai Noel guardam curiosíssimas coincidências, apesar dos
presidiários estarem em diversas cadeias de vários Estados e uns se
acharem mais injustiçados do que outros. Todos alegam nas cartas
enviadas ao bom velhinho serem não somente inocentes, mas dignos de
receberem os presentes de natal porque seu comportamento na cadeia foi
exemplar.
De início nota-se que os presos da lava-jato em Curitiba tem pedido
para serem transferidos, pouco importando se para Brasília ou Rio de
Janeiro. Neste ponto a Fundação Lies identificou uma sabedoria deles.
Apesar de reclamarem do clima frio da capital paranaense, na verdade o
que os sabidos pretendem é escapar das garras do Juiz Sergio Moro.
Já os presos do Rio de Janeiro pediram a Papai Noel para serem
transferidos de celas, todos querendo se juntar ao ex-governador Sergio
Cabral, com direito a personal treiner e guloseimas que continuam
abastecendo sua excelência não se sabe como.
Por fim os presos da lava-jato que estão em Brasília sentem-se
injustiçados porque a quantidade de culpados livres e soltos que povoam a
cidade é tão grande que eles desenvolveram uma síndrome de perseguição.
Estranhamente não pedem para serem soltos e sim para que os outros
culpados sejam presos. Neste ponto Papai Noel está pensando em trazer no
natal um muro e colocá-lo ao redor do Congresso Nacional. É mais
econômico.
Uma carta em especial está esquentando a cabeça do bom velhinho.
Ocorre que um desses figurões cuja esposa também participava das
negociatas e está presa na mesma penitenciária que ele (mas na ala
feminina), ao chegar à cadeia apaixonou-se perdidamente pelo companheiro
de cela (conhecido malfeitor que atende pela inocente alcunha de “Pé de
jegue”) e não consegue mais disfarçar o amor, razão porque quer que
Papai Noel transfira a esposa para outro presidio a fim de dar vazão à
sua louca paixão. O problema está em que a esposa quer porque quer ficar
na mesma cela que o assumido romântico. Papai Noel não sabe o que fazer
ainda.
No entanto, há uma unanimidade de pedidos. Todos querem que Papai
Noel lhes dê de presente de natal a transferência dos seus processos
para o Supremo Tribunal Federal, mas principalmente que o novo Relator
seja o Ministro Gilmar Mendes.
Feliz natal; oh, oh, oh!
Marcos Pires
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