Bastinho de Cachoeira, namorador nato das brenhas de Cachoeira de Minas, nunca compareceu perante o delegado para responder pelos crimes de sedução que a ele eram atribuídos porque indenizava as seduzidas com máquinas de costura e perfumes de raras fragrâncias.
Casado com a digníssima Lília e pai de respeitável prole de oito filhos, dizia-se que era igualmente responsável pelo nascimento de uns 22 outros espalhados pelos sítios que faziam vizinhança com o dele em Cachoeira. Nunca, porém, teve o dissabor de pagar pensão aos meninos, que cresciam labutando nos roçados de milho e feijão, transformando-se em mancebos cobiçados pelas moças casadoiras do lugar.
Mas o tempo é cruel e Bastinho envelheceu. E como todo velho, adoeceu.
Lá estava ele acabrunhado, em cima de uma cama, quase sem fala, a vela do adeus prestes a ser acesa na cabeceira para as encomendas da alma ao outro mundo, quando apareceu Zé de Toró, metido a entendido, com a sugestão de que o doente ficaria bom se bebesse leite de mulher.
Embora a povoação contasse com muitas mulheres parideiras, os maridos não gostaram de ceder o precioso líquido para o Bastinho namorador. Tinham suas queixas que o passar dos anos não conseguiu apagar.
Depois de muita procura, os parentes de Bastinho encontraram Francisca, uma morena de coxas roliças, peitança para mais do contrato, dizem que insaciável na arte de amar, recém-saída de resguardo e que estava amamentando.
Pediram-lhe para tirar algum leite para salvar a vida de Bastinho, e ela, ao mesmo tempo em que concordou, se dispôs a ir tirar o leite na casa do doente, seu conhecido.
Ali mesmo, no quarto do moribundo, Francisca botou o peito pra fora e despejou generoso jato de leite no copo.
Bastinho, fraquinho, quase cego e sem fala, abriu os olhos opacos, espiou a cena e, com muita dificuldade, balbuciou para sua doadora:
-Mamando né mió não?
Tião Lucena (em Histórias e estórias)
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