domingo, 4 de março de 2012


Esses dias eu estava em uma universidade pública e precisei utilizar o banheiro. Observei que as portas continham escritos que faziam corar as mulheres mais pudicas ou puritanas... hum... fiquei pensando nestes discursos...

As condições de produção das frases escritas encontradas nas portas e paredes dos banheiros, creio eu, é um exemplo das diversas possibilidades de exteriorização dos discursos sociais. Estes discursos são feitos de forma marginal (no sentido literário) e omissa. O banheiro, lugar íntimo e reservado à higiene corporal, acaba servindo de veículo condutor para extravasar condutas banidas socialmente, mas são válidos! Não deixam de ser um ato comunicativo. A validade desse discurso se dá pela abrangência e comunhão das frases “anti-convencionais”, mediando a linguagem e o homem de forma conflitante, ideológica e social.

Sendo o discurso um ato comunicativo na construção social, este é coletivo, não individual. Sendo um ato coletivo, o discurso gera uma grande variabilidade de sentidos propostos por seus diversos autores. Na verdade, funcionam como uma espécie de “porta-voz”, onde os mesmos externam, nesse “local de livre expressão”, pensamentos, opiniões, idéias, vontades e desejos que são silenciados em determinados meios de convívio social ou em locais que proíbem e inibem tal formato.

Abaixo alguns escritos interessantes que li.

“pegue na minha e balance”;

Vá se f****!

“Aqui é o único lugar do mundo onde não há distinção de cor ou de classe social".

“Aqui, todos somos iguais, não importa se preto ou branco se rico ou pobre, o banheiro é um lugar de paz universal”. (...)

“Só Jesus Cristo salva.”


Nos escritos de banheiro, os “seguidores” são sujeitos co-autores e “repetidores de informações” e ideologias, onde a comunicação se faz de forma marginal e íntima, através de um fórum de idéias, em sua maioria anônimas, compartilhadas com quem quer (e mesmo quem não quer) ser co-autor destas. Pois, o anonimato dos textos, não possui "limites de censura externa e é acessível a todos, tornando-se um palco discreto de confidências."

O discurso coletivo é encontrado em outros meios e, às vezes, são tão ou mais chulos que os escritos de banheiro; e às vezes, são coletivizados também! Carregando um séquito que dão continuidade ao ato comunicativo, expandindo e alargando a teia! Mas há os não-seguidores.... que discordam ou que não dão à mínima. Ainda bem.


Maria Verde

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