quarta-feira, 14 de março de 2012

Soneto antigo

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.


Cecília Meireles

Um comentário:

Jairo Alves disse...

O introspectivo da alma, degenera a ambulante destreza de viver por valer a pena... se a vasta sombra dos objetos que enxergamos, nos conduz a uma realidade exposta a que costumamos perceber, mais séria fica, quando emitimos as proezas do comum e do subjetivismo humano, no cotidiano, e da Cecília, bem notável esta paisagem multi-existencialista!...