domingo, 10 de maio de 2009

Mãe


Não vim aqui me despedir de você, prefiro falar de saudades e das nossas lutas juntos, e como lutamos juntos! Não falo só das dificuldades que tu enfrentastes ao meu lado, falo também dos muros que transpassei segurando em sua mão firme a me guiar o caminho certo frente a cada adversidade.

Mas me desculpe pelas lágrimas mãe, tu bem sabes que elas correm fácil em mim! Mas é que é difícil se manter firme quando a gente quer traduzir os sentimentos da alma, sobretudo quando se quer bem.

Não quero aqui te cansar relembrando velhas batalhas e aqueles degraus que subimos juntos, nem enumerar outros tantos que desci prá chegar ao teu encontro. Quero apenas, mãe, dizer que não nos cansaremos na beira da escada e que agora em vez de descer ao teu encontro tu é que vai me esperar no alto!

Não perdemos essa empreitada mãe, nem vou permitir que tu caminhes sem esperar por mim! Vou ficar aqui construindo a nossa história, certo de que ela não tem o destino das palavras que o vento leva ou que o coração não escuta.


Mas não vou falar de partida! hoje, se reúne à vontade de construir sua história, a reflexão e o reconhecimento que anteciparam seus 60 anos recriando ambientes, registrando fatos e exprimindo sentimentos. E por isso mesmo esta destinado a ir além das expressões. Retrata momentos da história de uma mulher coerente. Aspectos duradouros de sua vida que se tornaram perenes e significativos. E sem perder a imparcialidade ou com a mais parcialidade declarada, me apresento como testemunha ocular, partícipe dessa excelsa criatura.

Tanto me orgulho de sua história que ela se transformou na minha primeira recordação e é ela que revivo a todos os momentos.

Enfrentou em seu dia-a-dia dificuldades imensuráveis sem jamais se curvar ou recuar diante dos obstáculos que se ergueram à sua frente, um a um venceu a todos, tudo a seu tempo e a sua hora. Combateu o bom combate e foram incontáveis os seus louros, exemplos irretocáveis de obstinação e fé.

A sua força, a sua alma e a sua luta pela vida, acredite, ficarão como pérolas guarnecidas em nossos corações e como caminhos a serem trilhados pelos seus filhos e pelos teus netos.


Hoje, mãe, não posso deixar de agradecer a Deus pela mãe que ele me deu! e se possível fosse nascer de novo queria ser filho da mesma mãe e com ela enfrentar os mesmos obstáculos.

É certo que lutou muito na vida! bem sei de sua luta por todos esses anos. Se a vida lhe foi difícil, as dificuldades jamais foram capazes de lhe tirar a doçura e a meiguice da vida.

E chega outra vez, mãe, o tempo em que nas noites de inverno, mãos ásperas e calejadas nos protegiam do frio, acalentando-nos o corpo de cobertas quentes e minha cabeça de carinhos cálidos.

A mesma ternura de quando ela era jovem, e eu criança. E mais tarde, ela senhora e eu moço.

Agora, a diferença é que seu rosto é fluvial, pois o tempo o recortou com rios de águas doces e salgadas e a lua habita os cabelos dela circundando seu semblante de uma auréola prateada.

Mas o tempo, mãe, não conseguirá roubar a recordação de seus gestos, tanto nos momentos ríspidos, de mulher exigente, quanto nos momentos gentis, de mãe carinhosa.

O seu exemplo se perpetuará em nossas existências. Mãe amiga, zelosa, avó coruja, mulher marcada por suas superações, tocada no corpo e na alma se encoraçou de extrema força que foi capaz de transmitir a seus filhos um legado de fortaleza, hombridade e paz. E nós, seus continuadores nesta vida, resta honrar-lhe, igualmente, sua história de coragem, dignidade e destemor na defesa de seus ideais.

Mãe, não há quem arranque as sementes que plantastes e isso alegra a todos nós!

Somos gratos pelos seus tantos testemunhos tão belos e sabiamente transmitidos; somos gratos por nos embalar os ouvidos e ampliar a visão, a fim de que, embevecidos e de coração aberto, saibamos acolher as lições da vida.

Sei que pouco, muito pouco foi dito do muito que se poderia ainda dizer, mas apenas para finalizar, receba querida mãe, o nosso até logo e o nosso muito obrigado por tudo.

De seus filhos, Júnior, Malba, Djonierisom.

De suas noras e de seus netos Lucas, Camile e Yan.

E que Deus a abençoe e a proteja.
Desenho: João Carlos Pecci

Um comentário:

Unknown disse...

TEXTO ABSOLUTAMENTE FANTÁSTICO!!! PARABÉNS!!!! :)