sábado, 10 de janeiro de 2009

O que fazer para não ser o pato em 2009


Saiba como proteger o seu dinheiro e não ser abatido pelo tiroteio da crise financeira.


No segundo semestre de 2008, uma pedra gigantesca desabou sobre as águas plácidas da economia mundial. As ondas que partiram do mercado financeiro, epicentro do desastre, devem se espraiar em círculos cada vez mais amplos em 2009. As previsões de crescimento para o Brasil, no ano que vem, falam em 2,4%. Isso é menos da metade do que se verificou em 2008. Nesse cenário, o indivíduo que descuidar de suas finanças poderá ser abatido como o proverbial patinho na lagoa. Quem agir poderá não apenas preservar o seu dinheiro, mas também multiplicá-lo. Nas próximas páginas, o leitor encontra um guia para atravessar 2009 em segurança do ponto de vista financeiro.

A primeira reportagem enfoca os dez tipos de investimento mais comuns, analisa o impacto que a crise pode ter sobre eles e indica como escapar das armadilhas. "O tolo e seu dinheiro" aborda o "inimigo interno" de todo investidor – as inclinações naturais da espécie humana, exploradas por duas ciências jovens, a economia comportamental e a neuroeconomia, que nos levam a tomar decisões desastradas ao lidar com dinheiro. A guerra em torno das finanças domésticas, que leva a quatro em cada dez divórcios segundo uma nova pesquisa, e a necessidade de cuidar da "alfabetização financeira", seja com leituras, seja nos cerca de 500 cursos voltados a essa finalidade no Brasil, completam o quadro.

Haja ou não crise, alguns fundamentos básicos da arte de investir não mudam. Um deles é a necessidade de diversificar as aplicações para reduzir os riscos. Nossas avós diziam para não colocar todos os ovos na mesma cesta – ditado que foi confirmado por vários prêmios Nobel de Economia. Investir, além disso, sempre será parecido com fazer uma viagem. Nada vai dar certo se o investidor não tiver um objetivo claro. Assim como o viajante, ele pode escolher entre uma jornada rápida e arriscada e outra em que se contempla a paisagem, mas que demora mais tempo. Há, finalmente, recomendações como a de Warren Buffett, um dos três homens mais ricos do mundo: não invista em nada que você ache incompreensível. Investir é como escolher uma roupa. Além de olhar se combina, o investidor tem de se sentir confortável com o que está usando.

Nos últimos dez anos, uma mudança cultural considerável já se deu no Brasil. Há mais informação circulando, e mais gente alerta para a necessidade de planejar sua vida financeira – pois isso, no fim das contas, se traduz em capacidade para realizar as próprias aspirações. É o que se vê com clareza na bolsa de valores. Atualmente, mais de meio milhão de brasileiros já se habilitaram a comprar e vender ações diretamente na Bovespa. As primeiras ondas da crise iniciada em 2008 machucaram esse grupo de pessoas: no segundo semestre, o índice Bovespa despencou quase 50%. Diante de tamanho prejuízo, seria de esperar que os pequenos investidores bateriam em retirada. Não foi o que ocorreu. Encerrado o ano, a bolsa contava com 80 000 novos investidores. É sinal de que surgiu uma nova mentalidade, e de que o poupador brasileiro, especialmente o mais jovem, sabe que um pouco de ousadia e diversificação das aplicações é necessário para alcançar uma rentabilidade maior. Junte-se a ele.


1 - POUPANÇA
É a porta de entrada para o mundo dos investimentos. Aplicação segura, isenta do imposto de renda e de taxas de administração. Mas o rendimento é pequeno.
O cenário atual: em 2008, a poupança bateu a inflação por muito pouco: rendeu 8%, contra 6% do IPCA. O ganho real, portanto, é ínfimo.
Não seja o pato: com aplicações a partir de 1 000 reais já é possível encontrar fundos de investimento tão seguros quanto a poupança – e mais rentáveis. Diz Marcelo Xandó, diretor da Verax Serviços Financeiros: "A caderneta deve ser usada para acumular um volume inicial de recursos, que depois devem ser distribuídos em outras aplicações".

2 - FUNDOS DI E DE RENDA FIXA
Aplicações lastreadas por títulos públicos e privados, são um porto seguro em tempos de crise. O rendimento fica próximo ao da taxa básica de juros definida pelo Banco Central, descontados impostos e taxa de administração.
Cenário atual: no fim de 2008, o BC deu sinais de que vai reduzir a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, na próxima reunião de seu Comitê de Política Monetária, em 21 de janeiro. É uma medida para estimular a economia. Se a tendência de redução se mantiver ao longo de 2009, a rentabilidade dos fundos DI e de Renda Fixa poderá ser menor que os 12% alcançados em 2008 – mas ainda bastante elevada em termos comparativos: basta lembrar que países como Estados Unidos e Inglaterra derrubaram seus juros para perto do zero.
Não seja o pato: preste atenção às taxas de administração cobradas pelos bancos: elas podem devorar boa parte do rendimento da sua aplicação. Fuja de fundos DI ou de renda fixa que tenham taxas de administração acima de 2% ao ano.

3 - CDBs
São os certificados de depósito bancário, um título emitido pelas instituições financeiras para levantar capital.
Cenário atual: com o enxugamento do crédito externo causado pela crise global, os bancos passaram a pagar juros mais elevados na tentativa de atrair investidores para os seus papéis. Essa tendência deverá continuar em 2009, tornando os CDBs uma das aplicações mais atraentes do momento.
Não seja o pato: o maior risco de aplicar em CDBs é a quebra da instituição que os emitiu. O setor bancário brasileiro tem solidez para enfrentar a crise – mas não custa se precaver. Privilegie os CDBs de grandes bancos, públicos ou privados. Se aplicar volumes superiores a 60 000 reais, que são garantidos, pense na possibilidade de distribuir a aplicação em mais de uma instituição financeira.


4 - AÇÕES
Cada ação é uma parcela de participação numa empresa. O preço dos papéis reflete a expectativa de lucros futuros daquele negócio
Cenário atual: Depois de cinco anos seguidos de alta e euforia, a Bovespa teve um 2008 trágico: perdeu quase metade de seu valor. No curto prazo, a alta volatilidade torna a aplicação arriscada. Mas a Bovespa dá sinais de recuperação e acumula alta de 11% neste ano. "As ações apresentam boas oportunidades de investimentos, especialmente no segundo semestre, com a perspectiva de retomada na economia mundial", diz Julio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos. Lembre-se de que, apesar da perda do ano passado, a Bovespa acumula alta de 280% desde o início de 2003
Não seja o pato: A chave é diversificar. Mesmo os investidores mais experientes não aplicam todos os seus recursos em ações, e nunca nos papéis de uma única empresa. Evite comprar papéis de empresas novatas na bolsa (elas até podem se provar lucrativas no futuro, mas tendem a ser apostas arriscadas). Nunca haja por impulso. Não se deixe levar pelo comportamento de manada, que conduz ao mais grave dos erros: comprar ações na euforia da alta para vendê-las (com prejuízo) no pânico da baixa


5 - FUNDOS DE AÇÕES
Como diz o nome, eles têm a maior parte de seus recursos aplicada em ações. São ideais para quem quer colocar ao menos parte do seu dinheiro na bolsa, sem a necessidade de negociar diretamente os papéis
Cenário atual: Esses fundos acompanham a oscilação vertiginosa das ações, o que os torna arriscadíssimos para quem precisa do dinheiro no curto prazo. Mas há boas chances de eles voltarem a ser um dos investimentos mais rentáveis em 2009
Não seja o pato: Antes de escolher um fundo, veja em quais papéis ele aplica os recursos. Privilegie aqueles que tenham papéis de empresas sólidas em sua carteira. Mantenha o sangue-frio em caso de desvalorização. Quando a maré virar, o capital poderá ser recuperado. Não se esqueça de que perdas e ganhos só ocorrem de fato quando o investidor decide sacar os recursos

6 - FUNDOS MULTIMERCADOS
Suas carteiras contêm vários tipos de papéis. Os conservadores concentram suas apostas em títulos públicos e ações. Mas existem os mais agressivos e até os ultra-arriscados — que não se detêm sequer diante dos famigerados "derivativos tóxicos"
Cenário atual: Com valorização média de 5%, tiveram em 2008 resultado menos desastroso que o dos fundos de ações. Mas perderam da inflação
Não seja o pato: Mais uma vez, preste atenção em que tipo de papéis o fundo aplica os recursos. Se quiser evitar surpresas desagradáveis, opte por aqueles que invistam apenas em títulos públicos e em ações de grandes empresas. Mais vale ser um conservador com dinheiro do que um especulador falido

7 - DÓLAR
A divisa dos Estados Unidos é a moeda mais negociada e mais aceita no mundo, sendo um refúgio para os investidores em momentos de turbulência
Cenário atual: Depois de cinco anos seguidos de queda, o dólar voltou a se valorizar em 2008. Muitos investidores estrangeiros tiraram divisas do Brasil para cobrir obrigações lá fora. Se o dinheiro desses investidores voltar, a cotação da moeda deverá recuar novamente. É a aposta dos especialistas. Diz Silvio Campos Neto, economista do banco Schabin: "O movimento global de valorização do dólar deverá se reverter".
Não seja o pato: Tratar o dólar como um investimento é algo altamente arriscado. A cotação oscila muito, e rapidamente. Nenhum economista consegue prever com exatidão a cotação futura. Não especule. Isso é coisa para profissionais. Caso tenha alguma viagem programada, compre dólares aos poucos, aproveitando os movimentos de baixa


8 - PREVIDÊNCIA PRIVADA
São fundos nos quais se deposita todo mês uma parcela do salário, para garantir a renda depois da aposentadoria
Cenário atual: Há fundos compostos exclusivamente por títulos públicos e outros mais agressivos, que aplicam até 30% de seus recursos em ações. Os primeiros tiveram alta de 11% em 2008. Os segundos, queda de 10%
Não seja o pato: Tenha em mente o seu horizonte de aplicação. Quem tem mais de 50 anos e está prestes a se aposentar deve optar por fundos conservadores, não sujeitos à volatilidade das ações. Os poupadores mais jovens podem ousar e contratar carteiras carregadas de ações. "Aplicações mais arriscadas ficam bem mais interessantes quando ainda falta muito tempo para o investidor se aposentar", afirma o consultor Caio Torralvo.

9 - IMÓVEIS
A compra da casa própria é de longe a decisão financeira mais importante na vida da maioria das famílias. Costuma representar a fatia mais encorpada do seu patrimônio
Cenário atual: Com a crise, caiu o ritmo de vendas de casas e apartamentos novos. Há uma boa quantidade de apartamentos e casas à venda. O comprador ganhou poder de barganha para obter um desconto. Além disso, há bancos que não subiram os juros do financiamento imobiliário.
Não seja o pato: Pesquise, reflita e pechinche. Analise sua condição financeira a fundo e não assuma uma dívida que comprometa mais de 30% de seu salário. Lembre-se de que se trata de um financiamento longo, em geral superior a dez anos

10 - CARROS
O carro novo é um objeto de desejo, e o principal bem de consumo durável de uma família
Cenário atual: Os estoques das montadoras estão elevados, e o governo diminuiu os impostos. O resultado é que os carros novos ficaram mais baratos – especialmente para quem não se importar em adquirir um modelo com ano de fabricação de 2008. Mas os financiamentos ficaram mais caros e mais difíceis. Além disso, os preços dos usados, que normalmente servem de entrada na aquisição de um veículo novo, caíram bastante, o que deixou a troca mais complicada
Não seja o pato: É preciso pesquisar, e muito, em diversas concessionárias – tanto para obter o menor preço possível pelo novo a ser comprado como para conseguir a melhor cotação para o seu usado. Quem for financiar precisa comparar minuciosamente as taxas de juros cobradas. Elas variam bastante entre os bancos. Nem sempre a financeira da concessionária oferece as melhores condições



Fonte: Cláudio Gradilone e Juliana Garzon
Revista Veja

Um comentário:

Unknown disse...

PARA MIM A CONCLUSÃO É A SEGUINTE: SE CORRER A INFLAÇÃO PEGA E SE FICAR O BANCO COME. (O QUE EU QUERO MESMO É O SALÁRIO DO ALEXANDRE PATO EM 2009 AH,AH,AH...)