sábado, 2 de fevereiro de 2019

“A linguagem do coração, da imaginação, do dia-a-dia e do sonho tinha sido deformada sistematicamente por dois séculos de uso como o traje-a-rigor retórico de um Poder brutal. Joyce irlandesou, europeizou, descolonizou o inglês; recortou-o sob medida para o figurino do século, enfiou uma enorme cunha entre a Literatura Inglesa e a literatura em língua inglesa, e ao fazer isto ele libertou (perdoem-me este detalhe pessoal) a mim. Libertou-me, não para fazer o que ele fez. Deixou-me livre para tratar a Palavra não como se ela fosse sagrada, mas com a consciência de que ela é sempre profana”.

(Angela Carter, “Envoi: Bloomsday”, 1982)

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