O marido nunca se preocupou em disfarçar seu desconforto com a
vizinhança do ponto de táxi - chegou a colocar uma placa no portão do
sobrado pedindo respeito aos limites de sua entrada de garagem. Ela
sempre discreta, olhos baixos, esposa submissa, nunca deu pinta se
concordava ou não com a postura azeda do marido. Foi assim até o dia em
que os taxistas invadiram o sobrado atendendo aos seus pedidos de
socorro. O homem infartado, urinado, babando, transportado às pressas, o
táxi voando para o Pronto Socorro.
Acabo de vê-la saindo (meu carro no limite da sua entrada de garagem).
Simpática, brindou-me com um sorriso sincero e dirigiu-se ao táxi da
ponta. Destino: Cemitério Jardim da Paz. A brisa abafada de Finados
soprando o ramalhete de flores nas mãos da viúva.
Mauro Castro
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