domingo, 1 de novembro de 2009

Vida e morte


O ser humano é marcado essencialmente pela sua existência. Pensar, agir, sentir, realizar, se omitir, amar, odiar, são atributos próprios ao homem ao longo de sua vida. A princípio, parece que se a vida dita o nosso ritmo, a morte põe termo as nossas intenções. É, apenas parece, porque na pratica vida e morte estão muito mais ligadas do que a gente imagina.

Viver e morrer não são meros atos de representação biológica para nós humanos e em algum ponto ouso pensar que uma dá sequência aos atos da outra como se nada houvesse de interrupção. Viver é algo muito mais profundo que a batida seca do relógio cotidianamente. Morrer é algo mais que o silêncio de todas as horas. Somos, sem extreme de dúvidas, aquilo que aqui representamos em todo o nosso existencialismo e, há quem diga, que nesse mundo somos o que temos, nada mais que isso, e vez por outra, a morte apenas cuida de emendar os erros da vida.

Os filósofos estóicos defendiam que somente após a morte é que podemos afirmar que alguém foi ou não feliz, dando a morte o condão natural de julgar a felicidade ou infelicidade da vida.

“Quem não souber morrer bem terá vivido mal”, definiu Sêneca.

Nessa dualidade de vida e morte, Montaigne nos sugere que “qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe damos. Há quem viveu muito e não viveu”. E conclui o filósofo: “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir, nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal, saber morrer nos exime de toda sujeição e coação.”

Morrer não é o fim, e quando falo do fim não me refiro da vida após a morte e sim na percepção do que fomos verdadeiramente em vida até ali.

Morrer é um ato de extrema solidão não apenas para quem parte mas também representa profunda solidão para quem fica. O ato biológico da morte é sempre um ato de extrema solidão mas que transcende do campo metafísico para a solidão das emoções dos que aqui permanecem incompletamente vivos. Os amigos, a esposa, os filhos, os pais, enfim, todos, de certa forma, se vêm solitariamente, compondo saudades e recordações nunca antes revivida. Assim, curiosamente contrário a tudo o que aqui disse, ninguém morre só completamente. Morremos juntos ao passo que a cada morte vai-se um pedacinho da gente que aqui ficou. Morrendo um tanto de nós.

Quer ser bom? Morra!. Quem já não ouviu essa frase ? o dito popular faz coro com o fato de que somente com a morte mensuramos a nossa vida. Embora todos nós imperfeitos, dificilmente se ouve falar dos desdouros do falecido. O momento é de dor e emoção e o que nos vem a tona são as qualidade, os arroubos, alguns até excessivamente duvidosos, mas perdoáveis pela conotação da emoção que aos poucos vai cedendo, cedendo, até se perder no vazio do esquecimento, fruto da inevitável ausência.

Certo mesmo é que a morte corrige os erros da vida. Alguns deles sequer cometidos. Mas, perdoados por antecipação.

De minhas tantas mortes, o certo que é um dia partirei de vez, e de igual forma serei julgado pela derradeira das horas. Alguns poucos haverão de morrer verdadeiramente comigo, outros, chorarão por mera obrigação, sobretudo os credores.

E que assim seja, que eu volte a terra de onde vim, mas que um dia “voltando à pátria da homogeneidade, abraçada com a própria eternidade, a minha sombra há de ficar aqui”.

Um comentário:

Unknown disse...

Embora a morte seja algo terrível; neste mundo; ela ainda é um dos únicas realidades que nivelam os seres humanos em um pé de igualdade. (Certa vez no passado, pensei em escrever um livro que tinha como que tinha como pré-título: Ainda bem que todos morrem. / pois somente assim , as igualdades e as injustiças do mundo são resolvidas...e diante do criador, cada um receberia o seu galardão. É nessas horas da doença e da dor, que os ricos deste mundo, muitos deles, se tornam humildes e abrem os olhos de que ...como disse o Eclesiastes: Vaidade, tudo é Vaidade. a cada segundo estamos nos encaminhando para ela... (Se a morte faz parte da vida e se vale a pena viver, morrer (em Cristo) tambem vale a pena ). ACREDITE, PARA OS QUE ESTÃO EM COMUNHÃO COM DEUS, A MORTE JÁ MORREU !