domingo, 1 de março de 2009

A lenda do Poço Feio

Mas, afinal, por que um Poço tão lindo tem o nome de feio? Essa foi a imediata pergunta do nosso comentárista Dagvan Formiga, que vem, cotidianamente enriquecendo este espaço com seus comentários. Foi ai então que Romero Cardoso enviou ao Blog a explicação com a Lenda do Poço Feio, que cuido de transcrevê-la na íntegra:

"Existe no Poço Feio, na parte externa, curiosa formação calcária conhecida como "baú da moça", verdadeiro capricho geológico em terreno cretáceo. A natureza talhou primorosamente a estrutura dolomítica a ponto de despertar o imaginário popular, o qual criou lendas acalentadas imemorialmente, elemento importante na aglutinação cultural do lugar.

Reza a tradição passada de geração a geração que em noites de lua cheia uma bela mulher se banha nas águas do Poço Feio. O canto da moça encantada atrai homens que logo se apaixonam e seguem a mulher para o interior da caverna calcária, afogando-se nos túneis ali existentes. A lenda prega que a linda mulher estaria enclausurada no baú calcário, sendo que este se abre quando a lua cheia desponta no horizonte, fazendo-a reviver.

A memória local registra a lenda, a maioria a respeita, não se atrevendo a ir ao Poço Feio em noites de lua cheia, com medo de ser enfeitiçado pela evocação sonora da moça encantada que se banha à luz do luar. Não foram poucas pessoas que me contaram ter ouvido o canto da moça, partido das bandas do Poço Feio.

A riqueza cultural da área correspondente à caverna calcária dix-septiense impressiona pela exponencialidade, pois as formas assumidas pelas lendas imitam congêneres espalhadas Brasil a fora, como a da Iara, também incorporada às tradições indígenas. A lenda do Poço Feio, conforme idôneas personalidades do sítio Bonito, vem antes da colonização lusitana, pois esta seria herança ainda da cultura dos monxorós. No caso, talvez a moça encantada fosse uma índia, não obstante sabermos que diversas estórias fantásticas dos antigos habitantes das Américas incluíssem seres humanos da raça branca, como as existentes nas crenças maia e asteca.

Poucos dix-septienses se aventuram em procurar o Poço Feio quando a lua cheia lança seus raios prateados nas águas de tonalidade azulada do Poço Feio, tem medo da "moça encantada", não se arriscam em desafiar as tradiçlões decantadas em prosa e versos pelos mais velhos.

Em Mossoró, o vanguardismo e a expressão intelecto-cultural de pessoas como o teatrólogo Nonato Santos, diretor do grupo Escarcéu de teatro, assistido pela competente e inteligente companheira Lenilda Sousa, além de outros, incorporaram a lenda do Poço Feio, encenando-a de forma magistral e bem articulada com a cultura local, razão pela qual o grupo Escarcéu é considerado um marco na valorização do folclore riquíssimo da região oeste potiguar.

Na vida real, a verdadeira "moça encantada" pode atender pelo nome de bebida alcóolica, pois não são poucos os registros de fatalidades envolvendo a aventura de adentrar o Poço Feio bêbado, tendo em vista que a caverna é um convite perigoso a desafiar o desconhecido e as incógnitas que marcam a estrutura cretácea dix-septiense.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Um comentário:

Unknown disse...

VALEU TEÓFILO, VALEU HOMERO; ESSA É MAIS UMA LENDA "URBANA/RURAL QUE POVOAM O IMAGINÁRIO COLETIVO NORTE RIOGRANDENSE; UM ABRAÇO! :)