sábado, 30 de agosto de 2008

Boa noticia

Direito da UFPB é o que mais aprova no exame da Ordem.

No ranking estabelecido pela OAB nacional, a UFPB está em primeiro lugar, com um percentual de 97,87 por cento.

O curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba é o que mais aprova, em todo o país, candidatos ao exame da ordem, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil e que autoriza o profissional em Direito a exercer as funções de advogado.

No "ranking" estabelecido pela OAB nacional, a UFPB figura em primeiro lugar, com um percentual de 97,87 por cento. Além da UFPB, mais duas Universidades Federais da região Nordeste estão entre as instituições de ensino superior com melhor desempenho no Exame da Ordem: a Universidade Federal de Sergipe, em segundo lugar, com 95 por cento, e a Federal de Pernambuco, em terceiro, com 94,85 por cento.

"Estamos entre os melhores cursos de Direito do país", festeja o diretor do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB, professor Eduardo Rabenhorst. "O resultado do desempenho da UFPB no Exame da Ordem é fruto de um esforço coletivo de professores, servidores e alunos do CCJ. O nosso trabalho está apresentando resultados bastante positivos".

Para se ter uma idéia do desempenho do curso de Direito da UFPB, no último exame da ordem, dos 51 candidatos inscritos, nada menos que 47 conseguiram aprovação na primeira fase e 46 na segunda etapa do exame. Foi a melhor média de todo o país. O "ranking" com o desempenho de todas as instituições de ensino do país pode ser visto no endereço eletrônico www.oab.org.br/pdf/2008_1_ies/pdf.

O Centro de Ciências Jurídicas da UFPB, que funciona em prédio histórico ao lado do Palácio do Governo, no Centro de João Pessoa, deverá retornar, já no próximo semestre, ao campus I da UFPB. O novo prédio que acomodará o CCJ já está em fase de conclusão e foi construído pelo atual reitorado após uma grande discussão com a comunidade acadêmica do Centro.

A área de Direito da UFPB ainda deverá passar por uma grande expansão, no próximo ano. O Centro de Ciências Jurídicas deverá iniciar um novo curso de Direito, desta vez no município de Santa Rita, como parte do Reuni (projeto de expansão das universidades públicas do Governo Federal). A Prefeitura de Santa Rita e a Reitoria da UFPB estão em fase de negociação de um terreno onde deverá ser instalado o campus da Universidade no município.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mistério: ovni é visto no céu da cidade de Sousa-PB


Moradores de Sousa, no sertão da Paraíba, relataram ter visto um objeto não-identificado sobrevoando os céus da cidade na noite desta terça-feira 25. A aparição do ovni foi testemunhado por várias pessoas.

De acordo com os moradores, o ovni tinha o formato de uma bola de luz e fazia movimentos circulares, sempre se descolando em ziguezague.

Ainda de acordo com os relatos, a aparição durou em torno de trinta minutos.

“Era como se fosse uma roda gigante, com muitas luzes de diversas cores, com um foco de outra luz muito forte sobre as demais, deixando a gente assustado”, disse Geraldo Ferreira, morador da cidade.

Boa parte das testemunhas é de moradores do bairro do Jardim Sorrilândia II. Segundo eles, o ovni sobrevoou a cidade por volta das 22 horas.

Alguns populares acreditam ter visto um disco voador extraterrestre tentando manter contato.



Da redação com Folha do Sertão
WSCOM Online

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ternura


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.


Vinicius de Morais

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259

domingo, 24 de agosto de 2008

Aborto e Biopolítica - Questão de Mais Valia Moral

A discussão em torno do aborto no Brasil não escapa à lamentação comum que envolve todo o campo da ética nos dias atuais. Enquanto a reflexão não avança, o grito da indignação moral faz pose de suficiência ética. Garante-se com ele o lucro moral da Igreja e de todas as instituições conservadoras. A questão do aborto é uma das mais exploradas na busca da mais-valia moral que serve para reforçar o poder das instituições. Briga-se hoje por argumentos, e os que lutam contra o aborto temem que surja o argumento mais poderoso, aquele que não se esconde atrás da mera afirmação em contrário, mas que expõe seus fundamentos. O perigo iminente é de que haja razão, sensibilidade e justiça para a prática do aborto. Daí teremos que ser responsáveis por ele. O que perderemos com isso?

A moral defendida pela Igreja ou qualquer outra instituição, ao evitar a reflexão, se coloca como detentora de um saber prévio que define o aborto como uma prática contra a vida. É claro que operam com o dogma, a pretensa verdade que sempre foi poder. Quem a usa sabe que basta repetir com firmeza, sempre haverá quem ouça e siga. Ignorantes e confusos põem-se de plantão sempre prontos a abrir as veias do bode expiatório cujo nome próprio desta vez é "mulheres".

Da distinção entre ética e moral

A ética depende de uma reflexão intelectual sobre a moral. Só a reflexão da ética contra o preconceito pode mover a sociedade de sua indolência atual neste campo. Com isso, não se pode sustentar que a moral deva ser lançada fora como resto incômodo, mas que é preciso questioná-la sempre no seu próprio processo de transformação histórico e geográfico. Assim evita-se a ação prêt-à-porter, na qual a liberdade está de fora, tanto quanto a responsabilidade que dela surge. O controle moral que se vale da incompetência intelectual que elevaria a questão à ética define que a moral é um amplo campo do poder. A ética, neste caso, é o campo não do poder como manipulação, mas do poder como potência de transformação.

Os argumentos contra o aborto arriscam-se no capcioso. Atêm-se, de um modo geral, a ideologias, posições afirmativas ou negativas e sempre grosseiras. A indignação moral, ainda que seja fundamental como espaço dos sentimentos e emoções que também têm vigência ética, não nos faz pensar no que fazemos e, com isso, não nos lança no território prático da ética. Pela moral, repetem-se as idéias prontas e os preconceitos. Aquilo que podemos chamar de ação ética é o campo onde a pergunta "O que estou fazendo?" é tão importante quanto a pergunta "Aonde quero chegar com o que faço?", o que implica medir conseqüências na tentativa de exercitar a própria liberdade.

Do valor da vida

O argumento do "valor da vida" talvez seja o único que valha a pena discutir diante da necessidade real do aborto na vida das mulheres. Se a questão é a vida ou não, de um ser humano ou não, é problema que pertence ao tema da vida como um valor. Se não se especifica o seu sentido, corre-se o risco de cair na abstração e no dogma ao falar em vida como palavra mágica ou hipóstase sagrada.

Para além da biologia, a vida é fato social e cultural e fato político. Saliente-se, para evitar sofismas e falácias, que ninguém que queira participar da discussão sobre a vida como um valor poderá de antemão dizer que a vida de nada vale ou que se pode livremente atentar contra a vida. Isso seria discutir tentando tirar o princípio que possibilita e exige a discussão da questão. Que a vida seja o maior valor pode se justificar metafisicamente: sem a vida, não há nada. A justificativa jurídica dela deriva: ninguém pode tratar o atentado contra a vida como um direito, pois aí estaria legalizada a guerra de todos contra todos, contra a qual surge todo o Direito como proteção latu sensu do cidadão pelo Estado.

Nesse ponto, o aborto poderia ser pensado como mero assassinato, assim como a miséria e a fome, sustentadas numa sociedade de ostentação e esbanjamento, poderiam ser tratadas como meros assassinatos coletivos, pois são também atentados à vida. São uma prova certeira do quanto a vida simplesmente vivida e não qualificada politicamente pode ser desimportante como valor em escala social. Mas se a questão é mais complexa no que concerne à miséria e à morte de inocentes pela miséria geral, quanto ao aborto a questão é ainda mais complexa. Certamente, algum conservador ou mesmo seu extremo fascista pode considerar que é melhor o aborto do que a violência urbana, que advém em grande medida da pobreza, mas a questão é ainda mais séria. Ela diz respeito ao nexo existente entre o fundamento biopolítico do poder que define o genocídio, a administração da miserabilidade, a ordem carcerária, a guerra, os doentes mentais ou terminais que podem ou não participar do universo político e, o que nos interessa aqui, o corpo das mulheres. O tema do aborto ainda não foi discutido neste sentido.

Da Bioética à Biopolítica

Quem pensa em termos de política social, em direito das mulheres num sentido amplo e, sobretudo, na precariedade das escolhas das mulheres desfavorecidas socialmente - as excluídas dos direitos - é, em geral, a favor do aborto como modo de solucionar questões práticas, de trazer menos sofrimento à vida das excluídas do direito e do poder. Ao se avaliar o aspecto biopolítico da política, a discussão expressa novos aspectos e, ainda que menos imediatamente pragmáticos, talvez sejam mais reveladores do preconceito arcaico, mas muito útil em termos patriarcais, que paira sobre o aborto.

Biopolítica é o termo usado por Michel Foucault para definir o cálculo que o poder faz sobre a vida. Aristóteles foi o pensador que definiu a política como território da vida pública, onde uma forma de vida qualificada exercitava sua excelência na forma de um corpo de homem, varão e cidadão, que deveria fazer ginástica para adaptar seu corpo às ações que decidem sobre a liberdade de um povo. Esse corpo apto para a guerra e para a vida qualificada (Bios) é que sustentava a vida na Pólis, por oposição à outra forma de vida, a mera vida ou vida nua, à qual Aristóteles denominou Zoé, a vida dos animais, das mulheres e dos escravos, que constituía a existência da esfera privada, o Oikos, da economia, das ações da mera subsistência, do cuidado dos animais, da educação das crianças, do parto e da maternidade.

Não há política no território oikonomico da casa, ali há administração da sobrevivência, ao contrário do mundo da política, onde o homem articula sua linguagem e sua voz, fazendo-se ouvir e valer no campo da argumentação. É ali que se cria o Direito, a democracia, a filosofia. As mulheres fazem parte deste mundo pela forma da exceção: pertencem à pólis enquanto - reclusas em seus lares, impedidas da vida política - não podem participar dela. Análogo é o estado atual dos pobres no Brasil ou de todos aqueles que de algum modo têm direitos não cumpridos sob a ordem legal de que sejam cumpridos.

A biopolítica é a decisão sobre o direito dos corpos e o direito à ocupação do espaço público sustentada sobre a decisão quanto ao corpo da mulher. O papel da mulher como procriadora foi definido usando um fator natural elevado à vigência cultural. Mera mistificação. Mero uso do poder ao qual se cede por pura falta de outro poder, de potência para escapar dele. Alguém pode se perguntar: "Mas como seria se esse não fosse o papel das mulheres?". A pergunta oculta já uma resposta: a "natureza feminina" dada na maternidade como se a cultura não fosse capaz de questioná-la e administrar sua vigência. Mistificação sutilíssima. Porém - que não assuste o argumento - a maternidade elevada a padrão feminino (como todo padrão feminino que é sempre construção de uma sociedade patriarcal) não vale mais que o sexo da prostituição nem que uma mulher nua numa revista de pornografia. Trata-se da mesma moeda, a da dominação das mulheres pela sua redução à mera vida, à corporeidade manipulável.

O que mais deve assustar a todos os que introjetaram a cultura sem chance de refletir sobre ela, aos que são escravos de sua própria ignorância, é que a soberania do corpo feminino é a mais radical de todas as possíveis. Ela escandaliza tanto quanto o suicídio. O aborto é uma prática de todas as culturas, as mais arcaicas e primitivas. Hoje o aborto, correto ou não, continua sendo um poder de decisão das mulheres sobre seu próprio corpo. Ele significa a opção de não parir. De escapar ao mito da maternidade. Ele é uma fissura no poder patriarcal que mistifica a maternidade. Se a maternidade, por sua vez, é o maior poder, o poder da criação e da vida, quem o administra é senhor do mundo. E ela sempre foi administrada por homens ou mulheres funcionárias do patriarcado.

A soberania feminina é o único ponto irredutível na questão do aborto. E se podemos dizer que as mulheres são responsáveis por isso, deixa-se em suas mãos a responsabilidadedo. Suportariam os homens a convivência com essa soberania que eliminaria a exceção na qual vivemos e, quiçá, inverteria o processo histórico?


Marcia Tiburi


* Publicado em no Caderno de Cultura do Jornal Zero Hora. Depois de ter assumido posição favorável à legalização do aborto no programa de TV "Saia Justa", a filósofa gaúcha Marcia Tiburi apresenta novos argumentos para o debate. Diz ela que o que mais perturba as pessoas é ter que reconhecer a soberania da mulher sobre o próprio corpo.

terça-feira, 19 de agosto de 2008


Hoje visitei o site da Clarissa Gomes (http://www.derretendoosatelites.blogspot.com/) e adooorei a disposição do seu blog. Paraibaninha porreta, estudante de comunicação, faz circo e mantém um blog muito atrativo e alegre.


Clarissa, também adoro crônicas e li as suas. Recomendo aos amigos fazer uma visita. Parabéns!


domingo, 17 de agosto de 2008

Sobre a morte e o morrer


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.


Rubem Alves

Publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12/10/03. fls 3.

Pérolas do vestibular


Frases colhidas no vestibular 2000:

* Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

* O nervo ótico transmite idéias luminosas.

* O vento é uma imensa quantidade de ar.

* O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.

* Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

* Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

* O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.

* O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d’água.

* A principal função da raiz é se enterrar.

* A igreja vem perdendo muita clientela.

* O Sol nos dá luz, calor e turistas.

* As aves têm na boca um dente chamado bico.

* A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário.

* Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

* A harpa é uma rosa que toca.

* A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.

* Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.

* O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

* Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.

* A insônia consiste em dormir ao contrário.

* A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais.

* A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.

* O Chile é um país muito alto e magro.

* As múmias tinham um profundo conhecimento de Anatomia.

* O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.

* Na Grécia, a democracia funcionava muito bem, porque os que não estavam de acordo, se envenenavam.

* A prosopopéia é o começo de uma epopéia.

* Os crustáceos fora d’água respiram como podem.

* Os hermafroditas nascem unidos pelo corpo.

* As glândulas salivares só trabalham quando a gente têm vontade de cuspir.

* A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

* Os estuários e os deltas foram os primeiros habitantes da Mesopotâmia.

* O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

* A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva.

* O Ateísmo é uma religião anônima.

* A respiração anaeróbica é a respiração sem ar, que não deve passar de três minutos.

* O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

* Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

* Caracteres sexuais secundários são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.


Mais pérolas...

Redação

* Sobrevivência de um aborto vivo (título).

* O Brasil é um país abastardo com um futuro promissório.

* O maior matrimônio do país é a Educação.

* Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que almenta (sic).

* Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola.

* O bem star (sic) dos abtantes endependente (sic) de roça, religião, sexo e vegetarianos, está preocudan-do-nos.

* É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas.

* Também preoculpa (sic) o avanço regesssivo da violência.

* Segundo Darcy Gonçalves (Darcy Ribeiro) e o juiz Nicolau de Melo Neto (Nicolau dos Santos Neto).

* E o presidente onde está? Certamente em sua cadeira, fumando baseado e conversando com o presidente dos EUA.

História

* O hino nacional francês se chama La Mayonèse...

* Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.

* Resposta a uma pergunta: "Não cei".

* Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os pirineus, etc.

* A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea (esta, a dos nossos dias).

* Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.

* Resposta à pergunta: "Que entende por helenização?": "Não entendo nada".

* No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.

* Entre os povos orientais os casamentos eram feitos "no escuro" e os noivos só se conheciam na hora h.

* Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército da marinha.

* Em homenagem a Gutenberg, fizeram na Alemanha uma estátua, tirando uma folha do prelo, com os dizeres: "e a luz foi iluminada".

* No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.

Geografia

* A capital de Portugal é Luiz Boa.

* A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.

* O Brasil é um país muito aguado pela chuva.

* Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.

* Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente e onde desce decente.

* Na América Central há países como a República do Minicana.

* A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo.

* As constelações servem para esclarecer a noite.

* As principais cidades da América do Norte são Argentina e Estados Unidos.

* Expansivas são as pessoas tangarelas.

* O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno; quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.

* Os plantetas são 9: Mercúrio, Venus,Terra, Marte. Os outros 5 eu sabia mas como esqueci agora e está na hora de entregar a prova, o sr. não vai esperar eu lembrar, vai? (e espero que não vai abaixar a nota por causa disso).


E ainda mais pérolas..

* "(...) quanto à opinião pública, podemos dizer que ela é mutável. Por exemplo: na hora do parto, a mulher pode optar pelo aborto."

* "A comunicação é importante porque comunica algo entre duas ou mais pessoas que querem se comunicar"

* "O Press release tem esse nome porque realiza as coisas com pressa".

* "O problema da comunicação social no Brasil é que ela é dirigida por brasileiros, deveríamos trazer os americanos.

* "O endomarketing é como se fosse o marketing endovenoso."
* "Eu acho que a resposta é não. Como o professor deve ter pensado numa armadilha, respondo que é sim.

* "O público mixto é composto por aquelas pessoas que entram e saem da empresa. Ou seja nunca estão totalmente dentro, nem totalmente fora."

* "(a questão dizia que a afirmativa era CORRETA, pedia a justificativa somente). "Disconcordo com a questão. Ela não pode ser positiva. Nunca fiz prova que o professor dissesse que era afirmativa uma questão. Deve ser uma pegadinha, tipo do Faustão.

* "A comunicassão social e feita de mim para voçês"

* "A televisão é influenciativa em nossas vidas. Quantas vezes não compramos um tênis porque vemos na TV? A programação deveria ser mais educante(...)".

* "A empresa e o público ixterno caminhão juntos, incluindo aí a emprensa."
* "O proficional de comunicação tem um mercado bundante a sua disposição, afinal, todos se comunicam na terra(...)".

* "O ruído realmente atrapalha muito a comunicação. Aqui na universidade fico atordoado quando passa o trem, quase não ouço o professor. As salas deveriam ser à prova de som".

* "O fidibeque é a mesma coisa que a retroinformação, ou seja a informação que vem por trás."

* "A comunicação é uma junção da verdade com a falsidade, afinal fofoca é uma coisa feia e é comunicação".

* "Faço comunicação porque acho importante ser comunicadora, mas não acho importante ler jornal (suja a mão), nem ficar em casa vendo TV. Acho melhor me comunicar entre si."

* "A comunicação é moderna porque usa modernidades da atualidade."
* "Os principais meios utilizados pelas comunicação são: meios orais (que são falados), meios auditivos (que são ouvidos) e mais tácteis (que são sentidos)."

* "A comunicação é de massa porque precisamos utilizar a massa cinzenta para compreendê-la".

* "Marketing em português é mercado, marketing pessoal, portanto é o mercado que freqüentamos."

* "Ao utilizarmos a comunicação nos comunicamos."

* "Se a comunicação é pessoal, envolvendo o emissor e o receptor, como podemos pensar em comunicação empresarial? A empresa se expressa por si só?"


Certamente, todos os anos, após os exames vestibulares, surgem as "pérolas" do certame. Acredito que há um certo exagero e alguma "criatividade" de alguns brincalhões. Enfim, são muito engraçadas, mas que assustam, assustam.


Sobre ser feliz e suas receitas

Você costuma usar receitas para cozinhar? Talvez você já tenha usado e descoberto que não basta seguir o que está escrito. Há algum mistério na execução do que vemos nas revistas e jornais, pois nem todas as pessoas interpretam do mesmo modo as indicações. A compreensão é o que prejudica a execução da tarefa. Os chefs incorporam as receitas ou as criam como um cientista cria seu método de pesquisa ou um artista cria seu estilo.

O que ocorre entre a receita e sua realização é um conflito entre teoria e prática. Decepcionar-se é fácil e perder tempo também quando não conhecemos o método e o significado dos ingredientes. Mas toda frustração, mesmo com um guia para fazer bolo, tem seu ensinamento.

Sobretudo quando se trata de uma receita para ser feliz. Ser feliz seria como realizar a receita sem falhas. Todas as sociedades em todos os tempos apostaram na possibilidade de uma imagem da felicidade com legenda, na qual o que é ser feliz estivesse bem explicadinho. Pingos nos is da felicidade como confeitos em um bolo é tudo o que queríamos da vida. Que a felicidade viesse num pacote e, lá de dentro, não precisássemos nem acionar um botão, nem ligar o fogão.

Ser feliz poderia parecer ou ser fácil. No senso comum, o território das nossas crenças mais imediatas, do que é partilhado por todos em ações e falas, ser feliz é uma promessa sempre revalidada. Guimarães Rosa, o lúcido escritor de Grande Sertão: Veredas, dizia, ao contrário, que “viver é muito perigoso”. Aristóteles, que também defendia a felicidade, foi autor da bela frase: “o ser se diz de diversos modos” que podemos interpretar como “a vida pode ser vivida de diversas maneiras.” A felicidade não tem um único rosto.

Immanuel Kant no século das Luzes dizia que só podemos almejar a felicidade, nos tornarmos dignos dela, mas não podemos possuí-la. Com isso ele colocava a felicidade no lugar dos ideais que só podemos imaginar e supor, esperar que nos orientem, mas jamais realizar. Uma receita para ser feliz seria, desta perspectiva, um absurdo.
Se a pergunta pela felicidade, com a complexa resposta que ela exige, já não serve por seus tons abstratos, podemos ficar com a questão bem mais prática do bem viver. Da vida nada parece mais fácil do que simplesmente vivê-la: contemplar o que há, amar quem vive perto de nós, alegrar-se com as conquistas, aceitar as frustrações inevitáveis, lutar pelo próprio desejo, transformar o que nos desagrada buscando o melhor modo possível de pensar e agir. O modo mais ético e mais justo de se viver é o que todos, em princípio, queremos. Um desejo básico que nos une e que, ao ser construído, carrega a promessa paradisíaca da felicidade comum, do bem estar geral. Se procurarmos conselhos e fórmulas para o bem viver não será difícil fazer uma lista de tons e cores que podemos imprimir aos nossos gestos e atos. E ainda que o receituário seja impreciso, é válido.

O meio tom entre inteligência e emoção, entre razão e sensibilidade é a mais inexata das promessas e a mais complexa das conquistas que um ser humano pode almejar para si mesmo. Vale também como uma receita, a receita de um manjar desconhecido. Ela só existe porque podemos fazer do melhor modo possível, usando-a como inspiração. Cada um só precisa saber que cada manjar é diferente do outro. Cada um tem que aprender a realizar, com método próprio, sua própria alquimia. Somos seres gregários, sua receita servirá de inspiração a outros.
Marcia Tiburi

* Publicado originalmente na Revista BemStar. São Paulo: Editora Lua. Número 15, 2006. página 33.

A paz


sábado, 16 de agosto de 2008

Parabéns

Ao meu pequeno Yan muita paz, saúde, alegria e uma infância cheia de amor. Parabéns pelos seus dois aninhos de vida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Folhas de Relva

Nada me alegra mais do que encontrar nas pessoas o amor pela poesia. Assim como as crianças e os injustiçados, os poetas devem ser protegidos enquanto quisermos ser humanos.

Nunca fui nem serei poeta, mas se eu pudésse seria a mãe de todos, daria a cada um deles um lugar no mundo como o que merece um anjo.

Por isso, publico aqui um pequeno trecho de Folhas de Relva de Walt Whitman na bela tradução de Rodrigo Garcia Lopes da ed. Iluminuras. Algo pleno e certeiro de alguma verdade que ainda não compreendemos.


O passado empurra você e eu e todo mundo da mesmíssima maneira,
E a noite pertence a você e a mim e a todo mundo,
E o que ainda não foi experimentado e o que será depois é seu e meu e de todo mundo.

Não conheço o que não foi experimentado e o que vem depois,
Mas sei que é líquido e certo e vivo e o bastante.


Marcia Tiburi

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Bem vindos, bem vindos aqui!
o trem ja vai partir...
desarmem suas tendas
temos muito a descobrir...
não há um lugar no mundo
onde não podemos ir.

Bem vindos,bem vindos aqui!
o trem já vai partir...
peguem suas máscaras
nós vamos por ai
mostrar como somos todos
e como podemos nos divertir.

Não vamos ter medo só porque
podemos pintar o rosto,
esse mundo, vai nos ver brincar!
esse mundo, vai nos ver sorrir!
esse mundo, vai nos ver cantar!
esse mundo, vai ouvir dizer!

Bem vindo, bem vindo aqui!
esqueçam suas mágoas
e tudo o que não vai servir
não importar se somos poucos
não precisamos mentir, não!


Vange Leonel

Poluição sonora!!!!


A melhor esponja do mundo

Até hoje não encontrei no mercado uma esponja tão eficiente e ecologicamente correta quanto a que a natureza nos oferece gratuitamente.

A caixa de brinquedos


A vida não se justifica pela utilidade. Ela se justifica pelo prazer e pela alegria.


A idéia de que o corpo carrega duas caixas – uma de ferramentas e uma de brinquedos – me apareceu quando lia um antiqüíssimo texto de Santo Agostinho.

Santo Agostinho disse do jeito dele. Eu digo do meu jeito, depois de havê-lo devorado e digerido. Ele disse na grave linguagem dos teólogos e filósofos. E eu digo a mesma coisa na leve linguagem do riso. Pois ele disse que todas as coisas que existem se dividem em duas ordens distintas.

A ordem do uti (ele escrevia em latim) e a ordem do frui. Uti, útil, utilizável, utensílio: uma coisa de se usar para obter outra. Frui, fruir, usufruir, desfrutar, amar uma coisa por causa dela mesma.

A ordem do uti é o lugar do poder. As ferramentas são inventadas para tornar o corpo mais poderoso. A ordem do frui, ao contrário, é a ordem do amor. As coisas dessa ordem não são ferramentas, não servem para nada, não são úteis, não são para serem usadas; existem para serem gozadas.

Faz tempo preguei uma peça num grupo de cidadãos da terceira idade. Velhos aposentados, inúteis. Comecei a minha fala solenemente. “Então os senhores e as senhoras finalmente chegaram à idade em que são totalmente inúteis ...” foi um pandemônio! Ficaram bravos e trataram de apresentar as provas da sua utilidade. Da sua utilidade dependia o sentido de suas vidas.

Comecei, então, mansamente, a argumentar. “Então vocês encontram sentido para suas vidas na utilidade... vocês são ferramentas. Não serão jogadas no lixo. Vassouras, mesmo velhas, são úteis. Uma música do Tom Jobim é inútil. Não há o que se fazer com ela. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que se parecem mais com as vassouras que com a música do Tom... papel higiênico é muito útil. Mas um poema de Cecília Meireles é inútil. Não há o que fazer com ele. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que preferem a companhia do papel higiênico à companhia do poema da Cecília...”

De repente os seus rostos se modificaram e compreenderam... A vida não se justifica pela utilidade. Ela se justifica pelo prazer e pela alegria. E foi precisamente isso que disse Santo Agostinho. As coisas da caixa de ferramenta nos dão meios para viver. Mas elas não nos dão razões para viver.

Coisas inúteis que dão prazer tem o nome de “brinquedos”. Armar quebra-cabeças, empinar pipas, rodar pião, jogar xadrez, bilboquê, jogar sinuca, dançar, ler um conto, ver caleidoscópio não levam a nada. Não existem para levar a coisa alguma. Quem está brincando já chegou. Compare a intensidade das crianças brincando com o seu sofrimento ao fazer fichas de leitura. Afinal de contas, para que servem as fichas de leitura? São úteis? Dão prazer?

Arte e brinquedo são a mesma coisa: atividades inúteis que dão prazer e alegria. Poesia, música, pintura, escultura, dança, teatro, culinária, são brincadeiras que inventamos para que o corpo encontre a felicidade, ainda que em breves momentos de distração, como diria Guimarães Rosa.

Assim vocês, professores e professoras, ao tentar ensinar algo aos seus alunos, devem se perguntar: isso é útil? Se não for útil tem de ser brinquedo... faz os alunos sorrir? Esse é o resumo da minha filosofia da educação.

P.S.: você é ferramenta ou brinquedo?


Rubem Alves

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


II

Madrugada de Treze de janeiro.
Rezo, sonhando, o oficio da agonia
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem gemido, assim como um cordeiro!

E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia
E disse à minha Mãe que me dizia:
“Acorda-o”! Deixa-o, Mãe, dormir primeiro!

E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza
Nem uma névoa no estralado véu...

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!

(...)

Augusto dos Anjos

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Que delícia!
Outro dia até já escrevi sobre esses biscoitos aqui no blog.
Sem dúvida, os biscoitos sortidos me remetem, inevitavelmente, a minha infância, fase áurea da minha vida. Naqueles idos convivi matinalmente com os biscoitos mas há muitos anos, sem saber bem de quem foi a culpa, nos perdemos um do outro por essas esquinas da vida. Acho mesmo que foi capricho meu, resolvi crescer, mudaram os meus interesses, outros sabores chegaram e aportaram em minhas manhãs. A separação foi inevitável.

Pois não é que encontrei em uma dessas esquinas de prateleiras de supermercado, ali, bem a minha frente, disposta entre outros tantos concorrentes, a minha velha e inconfundível caixa de biscoitos sortidos. Foi uma emoção só! E uma delícia, claro!

domingo, 3 de agosto de 2008

Dentre todas as Almas já criadas

Dentre todas as Almas já criadas -
Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!


Emily Dickinson