segunda-feira, 6 de março de 2023

Inconsoláveis


Almas, por que chorais, se ninguém vos responde?
Almas, por quê? Deixai as lágrimas! empós
Do Ideal correi, correi para outras plagas, onde
Não exista ninguém que escarneça de vós.
 
Lançai o vosso olhar a longínquas paragens,
Bem distantes daqui, cheias de ideais risonhos,
Onde as aves do amor, sacudindo as plumagens,
Passem cantando ao longe a música dos sonhos...
Ide a outras plagas onde estas misérias todas
Não consigam deixar o mínimo sinal,
Paragens onde, em meio às delirantes bodas
Dos sonhos e do amor, exulte e cante o Ideal...
 
Mas, não, almas! soltai a vossa queixa triste;
Contai ao mundo inteiro a vossa magoa justa;
Essa terra do Ideal, ó almas, não existe;
Inventei-a somente, e inventá-la não custa.
 
Pobres almas, lançai em torno a vossa vista:
Sempre haveis de encontrar essa miséria atroz.
Almas, chorai, que embora esse país exista,
Nele há de haver alguém que escarneça de vós.
 
Francisca Júlia da Silva, em "Esfinges", 1903.
 


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