"Acabo de saber da existência de
um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século 6 Antes de
Cristo e que, certa vez, disse que saúde é o equilíbrio de forças
contraditórias. O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso
contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro (A Paixão,
Caminhos & Descaminhos, em que ele discute os fundamentos da
psicanálise). Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de
equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória
sensação de estabilidade e permanência”.
Não sei se entendi
direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele
que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o
cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas
verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.
Do nascimento à
morte, há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la,
recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a
munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram
regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e
novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o
encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com
essa camisa-de-força emocional, encarar os dias em total estado de
insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da
própria cabeça.
Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a vida?
A
paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e
sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem
constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não
temos poder nenhum? Pois é, nenhum.
É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.
Ou
seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua
impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta,
assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha
experiência para novos embates, sentindo-se protegido apenas pela
consciência que tem de si mesmo e do que a cerca – o universo todo,
incerto e mágico.
Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me
parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O
sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas
próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um
pensamento único, sem se movimentar.
Já o sadio baila sobre o precipício. "
Martha Medeiros
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
Saúde mental
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