terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

 


 


Quando o advogado Sam Bowden retém provas que poderiam livrar o agressor sexual Max Cady das acusações de estupro, ele passa 14 anos na prisão. Ao ser libertado, Max, sabendo do que o advogado fez, se dedica a perseguir e destruir a família Bowden.
 
Ainda estudante de Direito da Universidade Federal da Paraíba, Campus Sousa, o saudoso Promotor Aldenor Medeiros Batista, nosso professor de prática forense, recomendou-nos a película como parte de um trabalho acadêmico. 
 
Achei muito interessante o roteiro, sobretudo, para um público formado por estudantes de Direito.
 
Teófilo Júnior

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

 

A felicidade é algo inegociável, atemporal e só depende de você. Quando você entrega ao outro a possibilidade de fazer-lhe feliz, de modo reverso, você também possibilita-lhe a perspectiva de sua infelicidade.

A felicidade é intransferível. Seja feliz, essa é sua ordem!
 
Teófilo Júnior

 

"Sabem o que descobri? Que minha alma é feita de água. Não posso me debruçar tanto. Senão me entorno e ainda morro vazia, sem gota."

Mia Couto

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Schopenhauer Sobre A Música

 

Depois de haver meditado longamente sobre a essência da música, recomendo o gozo dessa arte como a mais deliciosa de todas. Não há outra que atue mais diretamente, mais profundamente, porque também não há outra que revele mais diretamente e mais profundamente a verdadeira natureza do mundo. Ouvir longas e belas harmonias é como um banho de espírito: purifica de toda a mancha, de tudo o que é mau, mesquinho; eleva o homem e sugere-lhe os pensamentos mais nobres que lhe seja dado ter, e ele então sente claramente tudo o que vale, ou antes, tudo quanto poderia valer.

 Quando ouço música, a minha imaginação compraz-se muitas vezes com o pensamento de que a vida de todos os homens e a minha própria vida não são mais do que sonhos de um espírito eterno, bons e maus sonhos; de que cada morte é o despertar. 
 
Arthur Schopenhauer, In As Dores do Mundo
📷 Interior de um violoncelo

 


sábado, 25 de fevereiro de 2023

 

Por que não escreveste nunca? Não é de te ler que mais tenho saudade. É o som da aca rasgando o envelope que trazia a tua carta. E sentir, de novo, uma carícia na alma, como se algures estivessem golpeando um cordão umbilical. Engano meu: não há faca, não há carta. Não há parto de nada, nem de ninguém.

Mia Couto
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Matteo Baroni

Para que a memória não se apague

 


 


 foto: Ivan Gallini

 
"Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros".

Mário Quintana

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Saúde mental

 "Acabo de saber da existência de um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século 6 Antes de Cristo e que, certa vez, disse que saúde é o equilíbrio de forças contraditórias. O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro (A Paixão, Caminhos & Descaminhos, em que ele discute os fundamentos da psicanálise). Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória sensação de estabilidade e permanência”.

Não sei se entendi direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.

Do nascimento à morte, há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la, recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com essa camisa-de-força emocional, encarar os dias em total estado de insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da própria cabeça.

Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a vida?

A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegido apenas pela consciência que tem de si mesmo e do que a cerca – o universo todo, incerto e mágico.

Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar.

Já o sadio baila sobre o precipício. "

Martha Medeiros

 


 



Existem pessoas que tornam nossa caminhada mais significativa... pela companhia, pelo apoio, pelo carinho... e porque nos tornam melhores.


Demoro
a fechar janelas
porque me dói
a vida entre dentro e fora.
 
Mia Couto

 


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Todos temos nossas dores de estimação.
O que nos diferencia uns dos outros é a capacidade de conviver amigavelmente com elas.

Martha Medeiros


 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023


 “Se você fechar a porta para todos os erros,
a verdade também ficará de fora"

Rabindranath Tagore Imagem: i.pinimg - Pinterest

JULIANO MOREIRA: FACULDADE DE MEDICINA AOS 14 ANOS.


A comovente história de Juliano Moreira, nosso ilustre baiano, que entrou para a Faculdade de Medicina da Bahia, com apenas 14 anos.

 Infelizmente, a brilhante carreira do jovem negro e pobre, que superou todas as adversidades, para realizar seu sonho de ser médico, é desconhecida da maioria dos baianos.
 
Nasceu em Salvador, no ano de 1872. 
 
Tornou-se um dos mais importantes e famosos psiquiatras do Brasil, que procurou humanizar o tratamento dos pacientes.
 
Dois hospitais psiquiátricos, um no Rio de Janeiro e outro em Salvador, levam seu nome.
 
Enfrentou todas as dificuldades da época e o preconceito da elite baiana, ao prestar exames para Medicina.
 
Não se deixou abater pelas críticas e perseguições, Juliano Moreira tornou-se um dos mais brilhantes alunos da faculdade.
 
Filho de uma empregada doméstica, o garoto Juliano prometeu que daria muito orgulho pra sua mãe, formando-se médico.
 
Infelizmente, sua mãe não viu o sonho do filho ser realizado, pois faleceu quando ele tinha 13 anos.
 
O jovem acreditava que a pobreza e a barreira da cor da sua pele seriam obstáculos.
 
E nunca, um impedimento.
 
Recebeu apoio do seu padrinho, e patrão da sua mãe, o Barão de Itapuã, que também era médico.
 
Mas o mérito foi do jovem Juliano.
 
No ano de 1886, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, com apenas 14 anos.
 
Formou-se médico, aos 19.
 
Defendeu a tese "Sífilis Maligna Precoce".
 
Concluiu o doutorado, aos 22.
 
Fez estágios na área de "doenças mentais", na Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Escócia.
 
No Egito, conheceu Augusta Peick, enfermeira alemã, com que casou-se.
 
No ano de 1910, Juliano e Augusta vieram para o Brasil.
 
O doutor baiano foi longe, representando o Brasil em diversos países, como França, Alemanha, Portugal, Itália, Holanda, Inglaterra e Bélgica.
 
Tornou-se professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
 
E na instituição de ensino que estudou e foi discriminado, depois de formado, retornou como professor.
Humanizou o tratamento dos pacientes portadores de transtornos mentais, que na época eram "coisificados", ou seja eram tratados como "objetos", sem direito a voz e vez.
 
Diante de tanta resistência por parte dos colegas médicos, Juliano Moreira lutou e conseguiu abolir o aprisionamento dos pacientes com correntes.
 
Acreditava que os portadores de transtornos mentais, eram seres humanos e que precisavam de tratamento mais humanizado.
 
Na época, acreditava-se que a origem dos transtornos mentais estavam ligados à cor de pele dos pacientes.
 
O médico baiano, lutou contra esse tipo de preconceito e combateu racismo "cientifico", tão comum nas universidades da época.
 
Morre em 1933, aos 61 anos.
 
Não vamos permitir que a história do nosso baiano, caia no esquecimento!
 
Adson Brito Do Velho professor e psicólogo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 

(...) A desgraça saturou-lhe a alma de dor, como um abscesso maduro, e apresentava-se-lhe claramente, a cada instante, na forma de uma ideia consciente e torturante. [...] todo aquele objetivo de vida que um dia cintilara diante dele numa luz de felicidade se apagou de repente nas trevas eternas.

- Fiódor Dostoiévski em, “ Gente Pobre”
 
"The Misery"- Cristóbal Rojas, 1886

 

 

É preciso vencer os nossos medos e não desistir. Nessa jornada de dificuldades e de quedas, pedir ajuda não é um ato de fraqueza, é um gesto de resistência, perseverança e de coragem. A vida lhe fez um vencedor. Pense nisso.

Assista o vídeo até o final
 
Teófilo Júnior

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

domingo, 19 de fevereiro de 2023

 


 

"...a vida é a espera do que pode ser vivido.“

Mia Couto

sábado, 18 de fevereiro de 2023

 


 

"Esquece todos os poemas que fizeste. 
Que cada poema seja o número um".  
 
Mário Quintana

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

 

"Somos todos mortais, até o primeiro beijo e a segunda taça de vinho."

Eduardo Galeano

Dom Quixote

 

“Sabe, Sancho(…) todas essas tempestades que acontecem conosco são sinais de que em breve o tempo se acalmará; porque não é possível que o bem e o mal durem para sempre, e segue-se que, havendo o mal durado muito tempo, o bem deve estar por perto.”

Miguel de Cervantes, in Dom Quixote de la Mancha

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

 

"Os sonhos falam em nós o que
. .. nenhuma palavra sabe dizer."
 
Mia Couto

 

"De mim, afinal, o que quereis? Porque eu, senhor poeta, de mim pretendo tudo."

Maria Teresa Horta

 


 


(1949) Um Fato Curioso: "O ônibus corria a uma velocidade de 40 quilômetros horários pela estrada que liga a cidade Colatina à vila de Patrão Mor no interior do Estado do Espírito Santo. 11 passageiros desembarcaram numa pequena vila e ônibus prosseguiu viagem. Quinhentos metros adiante, foi atingido em cheio por uma árvore que se erguia à beira da estrada. O chofer e seu ajudante, além do susto, nada sofreram. Examinado o tronco da árvore, foi constatado que o mesmo não estava podre nem apresentava sinais de machado ou serra. O proprietário do terreno onde estava a árvore, doou-a ao chofer. Este vendeu-a por bom preço. A quantia deu para custear os reparos no veiculo."

Reportagem da Revista O Cruzeiro 30.04.1949 Ed. 0028 - Biblioteca Nacional

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023


No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
 
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
 
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
 
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
 
Mário Quintana, "O auto-retrato"

Nunca diga que uma mulher foi sua.
Essas são coisas para nós, mulheres, dizermos.
Só nós sabemos de quem somos.
E nunca somos de ninguém.
 
Mia Couto

 


domingo, 12 de fevereiro de 2023

 


 

"Uma curva de caminho, anônima, torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!"

Quintana

sábado, 11 de fevereiro de 2023

 

"Anda sempre tão unido o meu tormento comigo que eu mesmo sou meu perigo. "

Luís de Camões
“É possível que só as árvores tenham raízes, mas o poeta sempre se alimentou de utopias. Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano.”
 
Eugênio de Andrade

 


"A velhice não é uma idade, é uma decisão.
- Uma decisão?
- A velhice é uma resistência."
 
(Mia Couto, in "A Chuva Pasmada".)

 


Álvaro de CAMPOS

Fernando PESSOA
 
in "Aniversário"
 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

 

São os nossos passos que fazem os caminhos!

Mário Quintana

 


Essa imagem fala de solidão e rejeição pra você?
 
Pois é... no momento em que você toma a decisão de ter foco, decidir realmente o que você quer, se destacar seja de que forma for, você vai se ver assim como essa garota na foto. Quer saber o porque?
Eu vou te falar...
 
Vivemos numa sociedade cheia de castas e isso também se reflete na escola. 
 
Mais de 90% das pessoas não sabem o que querem, estão confusas, indecisas e têm dificuldade de adotarem uma rota, lhes faltam um foco e quando elas veem alguém que tem e que está buscando ter hábitos e padrões de sucesso elas automaticamente a deixa de lado, se fecham em suas castas. Sabe o porque? Porque estando ao lado dessa pessoa expõe todas as desculpas e comodismo que tanto cultiva. Assim, parece-lhe ser mais cômodo fechar-se entre os iguais, cultivar turminha muito mais preocupada com a vida dos outros ou com a próxima série da Netflix. 
 
O invejoso não quer subir o degrau para alcançar o outro no topo, o que seria o caminho mais óbvio e salutar. O invejoso quer que o outro desça de seu degrau para equiparar-se a ele, aqui embaixo.

 


 

"Somos uma civilização de solidões que se encontram e desencontram continuamente sem se reconhecer. Esse é o nosso drama, um mundo organizado para o desvinculo, onde o outro é sempre uma ameaça e nunca uma promessa."

Eduardo Galeano
Literatura Gota a Gota

 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

 


"Enquanto não possuía nada além da minha cama e dos meus livros, eu estava feliz. Agora eu possuo nove galinhas e um galo, e minha alma está perturbada. A propriedade me tornou cruel.

Sempre que comprava uma galinha amarrava-a dois dias a uma árvore, para impor a minha morada, destruindo em sua memória frágil o amor à sua antiga residência. Remendei a cerca do meu quintal, a fim de evitar a evasão dos meus pássaros, e a invasão de raposas de quatro e dois pés. Eu me isolei, fortifiquei a fronteira, tracei uma linha diabólica entre mim e meu vizinho. Dividi a humanidade em duas categorias; eu, dono das minhas galinhas, e os outros que podiam tirá-las de mim. Eu defini o crime. O mundo encheu-se para mim de alegados ladrões, e pela primeira vez eu lancei do outro lado da cerca um olhar hostil. 
 
Meu galo era muito jovem. O galo do vizinho pulou a cerca e começou a corte das minhas galinhas e a amargar a existência do meu galo. Despedi o intruso a pedrada, mas eles pularam a cerca e avoaram na casa do vizinho. Eu reclamei os ovos e meu vizinho me odeia. Desde então vi a cara dele na cerca, o seu olhar inquisidor e hostil, idêntico ao meu. Suas galinhas passavam a cerca, e devoravam o milho molhado que consagrava aos meus. As galinhas dos outros me pareciam criminosas. Persegui-os e cego pela raiva matei um. O vizinho atribuiu grande importância ao atentado. Ele não aceitou uma indenização pecuniária. Retirou gravemente o corpo do seu frango, e em vez de comê-lo, mostrou-o aos seus amigos, o que começou a circular pela aldeia a lenda da minha brutalidade imperialista. Tive que reforçar a cerca, aumentar a vigilância, aumentar, em suma, meu orçamento de guerra. O vizinho tem um cão determinado a tudo; eu pretendo comprar uma arma. 
 
Onde está minha antiga tranquilidade? Estou envenenado pela desconfiança e pelo ódio. O espírito do mal tomou conta de mim. 
 
Eu era um homem.
 
 
Agora eu sou um dono." 
 
("Galinhas", do anarquista Rafael Barrett, Paraguai, 1910.) Um relato exemplar para discutir as célebres frases de Rousseau ou Hobbes. 
 
Jean Jacques Rousseau, “O primeiro homem que, havendo cercado um pedaço de terra, disse “isso é meu”, e encontrou pessoas tolas o suficiente para acreditarem nas suas palavras, este homem foi o verdadeiro fundador da sociedade civil", em Do Contrato Social (1762).

 

[…] eu aconteci num tempo de caminhos cansados.

Mia Couto - Cada homem é uma raça

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023