segunda-feira, 27 de junho de 2022

O nosso ouro branco de cada dia

 


O nosso ouro branco de cada dia

O nosso município é um dos mais importantes produtores de leite da Paraíba, e, nesse particular, eu sempre que invoco essa assertiva, nutro por nossa produção leiteira um sentimento de alegria e preocupação. A produção leiteira tem sido o nosso ouro branco de cada dia.

Indiscutivelmente, produzir é sempre relevante e importante para qualquer economia, mas precisamos avançar e sopesar os resultados finais dessa produção, sobretudo, em uma cidade e estado pobres, em um país onde 20 milhões de brasileiros estão abaixo da linha da pobreza.

Cultivo a crença que a nossa sólida produção leiteira poderia quadruplicar as riquezas e a movimentação financeira em nosso município com o fomento e a instalação de empresas de laticínios ou o incremento na produção de queijos e outros derivados, evitando o escoamento do leite para outros centros, gerando mais produção, trabalho e renda em nossa terra.

Como sabemos, os dividendos oriundos das commodities agrícolas são sempre muito inferiores aos que são gerados na transformação da matéria prima em produto final destinado ao consumidor. Confesso, porém, que apesar de não ser da área/agricultura/produção, inquieta-me muito ver todo o escoamento de nosso leite para outras cidades. Acho que a nossa cultura de subsistência é uma política importante, mas, que não nos levará a outros horizontes quanto à intensificação da distribuição de riquezas e fortalecimento da economia municipal.

A ausência de produção provinda do leite em nosso município parece-me ser um termômetro importante para medir a direção a ser tomada. Apenas para exemplificar a falta de incremento e de mudança de paradigma do setor leiteiro basta ver que apesar da existência da matéria prima e das queijarias aqui existentes, apenas dois tipos de queijos (manteiga e coalho), de pureza duvidosa, são produzidos, de forma artesanal, e comercializados primariamente. Some-se a isso a dificuldade que enfrentam essas queijeiras em face da impossibilidade de competir, na aquisição do leite, com os grandes laticínios de Sousa-PB e região.

Advogo a ideia da necessidade de se promover ações de desenvolvimento e  cooperativismos entre a cadeia de produtores de leite para o enfrentamento da concorrência com grandes empresas, o que poderia, naturalmente, desaguar, quem sabe, na criação e gestão de uma empresa de lácteos que pudesse absorver, em nossa cidade, a sua própria produção leiteira.  

Há, contudo, a necessidade de mudança de rumo seja na produção artesanal, comercialização ou na forma como é apresentado o produto final ao consumidor, cada dia mais exigente e cioso de comodidades. A visibilidade, a modernização da embalagem do produto e a exposição nas gôndolas pesam muito na hora da escolha pelo consumidor.

O nosso queijo, acreditem, ainda é apresentado precariamente ao mercado consumidor com um “ferro” como marca de identificação. É preciso compreender que estamos em outro mercado consumidor que cresceu com muita exigência.  

Creio ainda que essa mitigação também seja um traço cultural de nossa gente, condescendendo a produção em parcos derivados e exportando a maior parte da (matéria prima) produção leiteira. Contudo, acredito piamente que a esperança está na mudança de atitude, na modernização da atividade rural, no surgimento de jovens agricultores, na formação acadêmica de um novo modelo de gestão e investimento agrícola que seja capaz de, aos poucos, delinear novos rumos e transformar uma realidade que, apesar de boa não é a ideal, pois aponta gargalos de sobrevivência da nossa queijaria artesanal, e que, ao meu aquilatar, está ainda fortemente impregnada na cultura de nosso povo.

 

Teófilo Júnior

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