domingo, 19 de maio de 2019

Deve-se escrever da mesma maneira
como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. 
Elas começam com uma primeira lavada,
 molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, 
torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. 
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
 Depois enxáguam, dão mais uma molhada, 
agora jogando a água com a mão. 
Batem o pano na laje ou na pedra limpa,
 e dão mais uma torcida e mais outra, 
torcem até não pingar do pano uma só gota. 
Somente depois de feito tudo isso
 é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal,
 para secar.
 Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa.
 A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso;
 a palavra foi feita para dizer.
 
Graciliano Ramos 

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