"Vou morrer – disse a custo. – Não me queixo de uma sorte que partilho com as flores, com os insectos, com os astros. Num universo onde tudo passa como um sonho, seria censurável durar sempre. Não me queixo de que as coisas, os seres, os corações sejam perecíveis, porquanto parte da sua beleza é feita desse infortúnio. O que me aflige é que sejam únicos. Antigamente, a certeza de obter em cada instante da minha vida uma revelação que não mais se repetiria, constituía o que havia de mais luminoso nos meus prazeres secretos: agora, morro envergonhado como um privilegiado que tivesse assistido sozinho a uma festa sublime que apenas terá lugar uma vez."
[Marguerite Yourcenar, A Salvação de Wang-Fô e outros contos orientais; trad. Gaëtan Martins de Oliveira, BIIS Outubro 2008]
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