sábado, 16 de junho de 2012

Cinema

Vencedor do grande prêmio da Academia Europeia de cinema em 2009, diversos troféus de melhor atriz para Nina Ivanisin - Slovenian Girl, ou Garota Eslovena (como foi projetado na Mostra de 2010), é certamente um filme de qualidade, e é até curioso se perguntar por que demorou tanto para chegar ao circuito. O cinema contou muitas histórias de prostitutas e, nos filmes de gêneros - melodramas e westerns - elas em geral sofrem e/ou têm bom coração. No começo dos anos 1960, contou como se fosse num documentário, no formato de quadros, a história de Naná em Viver a Vida. Sem que seu filme seja godardiano, Viver a Vida deve ter sido o modelo do diretor Damjan Kozole para seu longa.

Nina Ivanisin é Alexandra, dublê de estudante e prostituta, cuja história ele conta num estilo propositadamente 'frio'. Vendendo o corpo, Alexandra logra comprar um apartamento que vira seu castelo, a realização de um sonho de consumo que possui um preço. Há na protagonista uma espécie de tristeza, que a acompanha sempre. A trilha participa e, na verdade, constrói o clima - Run Along constrói, por assim dizer, a fluidez do relato e serve de contraponto à cidade; Bobby Brown Goes Down (de Frank Zappa) é mais interiorizado e carrega a crítica do sonho americano que a garota eslovena, de forma talvez inconsciente, assume.

Ninguém vende o corpo impunemente. Existe a família de Alexandra, existem seus clientes. Assim como Beto Brant introduz a questão fundiária em Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios para discutir a 'posse' de Lavínia (Camila Pitanga), há o cliente que quer Alexandra para si, como há o velhinho que revela uma delicadeza inesperada com ela. Ela trapaceia com todos, fingindo um câncer inexiste. Engana o próprio pai, quando necessita de dinheiro. O filme não adota pontos de vista, nem o da protagonista. É como se Damjan Kozole olhasse tudo de longe, mesmo nos momentos intimistas, daí a sensação de frieza.


 LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo

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