quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Poema da despedida

 Não saberei nunca
dizer adeus 
 
Afinal,
só os mortos sabem morrer 
 
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser 
 
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo 
 
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos 
 
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca 
 
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo. 
 
Mia Couto

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