segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Velhinha e moça

O tempo, mansamente, há de espalhar

Flocos de neve sobre os meus cabelos,
Numa carícia deixará os selos,
No meu corpo gentil, o seu sabor...
 
Ao meu sangue fremente, a palpitar,
Hão de esfriá-lo sucessivos gelos,
E aos meus seios graciosos hei de vê-los
Mirrados como lírios a fechar...
 
Mas mesmo quando for assim velhinha
O teu amor fará um alvoroço
Na minh'alma e graça de menina 
 
E até morrer, o meu olhar cansado,
Fitando o teu há de julgar-se moço,
Num enlevo de eterno enamorado.
 
Florbela Espanca

Nenhum comentário: